segunda-feira, 30 de março de 2009

Ônibus em demasia e sorrisos em falta

Foto: Baixaki

Seis horas - este é o espaço de tempo que o ônibus gasta para ir de São Paulo até Curitiba.

Passei estas ditas seis horas andando pela primeira vez em um ônibus de seis andares, e cheio de busólogos que compraram a passagem no mesmo horário e pelo mesmo motivo participar da 5ª Exponi - Exposição de ônibus novos e antigos que ocorreria na capital paranaense. Esse povo sem querer me tirou a oportunidade de aceitar o convite da Daiane do Santos para viajar no mesmo horário que ela.

Mesmo andando num ônibus cheio de macho viajei do lado de uma menina, a Yasmin,que conheci por ocasião da viagem. A mesma estava indo para Curitiba, segundo ela, para aceitar um pedido de casamento feito pelo namorado. Aos 16 anos. E o pretendente é 13 anos mais velho.

Bom, não sou contra, muito pelo contrário. Se ela estiver segura e amar de verdade o felizardo ela faz muito bem em seguir em frente.

Voltando ao que interessa. Sim, seis horas. Se vocês leram o post falando sobre a passagem por São Paulo leram que eu saí às 22:15. Portanto a chegada foi um pouco após às 04 da manhã(!). Pense num sono, meus colegas saíram feito loucos tirando foto de todos os ônibus que apareciam pela frente - poucos devido ao horário - mas admiro a valentia dos meus colegas porque na hora só pensava em cochilar.

* Fato importante, em breve farei um texto explicando aos menos familiarizados o que é a busologia. Enquanto isso fiquem com esta referência na Wikipédia.

Assim que o sol deu as caras, lutei contra o sono e me juntei a turma para tirar minhas fotos. A curiosidade fica para o fato de que a cidade também possui uma Rodoferroviária assim como Brasília. A diferença é que a de lá realmente é uma Rodoferroviária, não é como a daqui que não vê um trem de passageiros há quase vinte anos.

Assim que o povo enjoou de bater fotos na Rodoferroviária a turma partiu em bandos diferentes para ir atrás de uma das atrações turísticas que mais poderiam atrair este tipo de clientela: os biarticulados. Mas antes de falar dos mesmos mostrarei um:

Um biarticulado

Agora interrompo a narrativa para fazer algumas considerações sobre Curitiba.
  • A cidade é muito, mas muito parecida com Goiânia, percebi isto desde o momento que cheguei já que a entrada da cidade é como se estivesse na BR-153. Até as bandeiras das duas cidades parecem copiadas;
Bandeira de Curitiba - Bandeira de Goiânia
  • A cidade tem vários apelidos, mas o que achei mais incoerente foi o de Cidade Sorriso, pois não vi ninguém sorrindo, principalmente quando olhavam pra mim (quando olhavam). Depois falam do povo de Brasília;
  • O povo tem uma prática de vandalismo no mínimo ridícula: eles picham os vidros dos ônibus riscando os mesmos e poluindo o visual da cidade;
  • Uma coisa que não se pode negar é que tem muito verde, muitas árvores (principalmente araucárias) e muitos balões com canteiros de flores;
  • Não se encontra por lá casas antigas no estilo que encontramos em outras cidades, lá as casa mais velhas que equivaleriam a casas de um centro histórico são feitas de madeira;
  • Fui informado de que lá tem muitas pizzarias. Que que isso tem a ver? Nada, mas me informaram disso assim mesmo.
Sim, os biarticulados. Como vocês viram acima eles são bem compridos e cabem muita gente, mas mesmo no sábado ele andava entupido de gente em quase todos que andei, fico até com medo de imaginar como deve ser nos dias de semana.

Todos conhecem a fama de Curitiba de ter um transporte organizado que nem parece que é no Brasil, tanto que as portas tem rampas para que as pessoas desçam em paradas tubulares como essa aí da foto de baixo, além de andarem em corredores exclusivos que cortam a região metropolitana inteira.

"Entubados"

Devo ter ficado umas 5 horas andando de ônibus pra lá e pra cá até finalmente chegar na Exponi. Antes foi solicitado pelo Paulo César Jr. , colega meu daqui de Brasília que atualmente reside em Curitiba que eu o esperasse no Terminal Cabral e de lá seguisse para o evento. A espera fez com que eu me desgarrasse do resto do grupo e chegasse um pouco mais tarde no local. Além disso descemos no lugar errado e pegamos o caminho errado para chegar lá, andei tanto que parecia que estava fazendo uma marcha num quartel.


A Exponi ocoreu na garagem da Transpen, uma empresa rodoviária. O bom destes eventos além dos ônibus propriamente ditos é reencontrar o povo e poder voltar a trocar (muitas) idéias com eles. Em exposição ônibus clássicos que são conservados pelas empresas e ônibus novos com o que há de mais moderno no transporte de pasageiros. Destaque para este Diplomata que fez parte da primeira frota da empresa. Hoje ele é adaptado internamente e conta com uma mesa no fundo e nove poltronas leito no meio.

Diplomata por dentro, sendo registrado pelo Paulo César

Outro destaque da exposição foi o ônibus articulado da cidade que têm três eixos, algo inédito no Brasil. O mesmo roubou as atenções de todos principalmente na sua saída, onde ficou se "exibindo" por obra do motorista.

Demonstração das portas

Incrível como todos no evento disputavam espaço para tirar fotos de tudo quanto é ângulo deste ônibus, parecia até uma celebridade passando cercada por uma turba de paparazzi.

Na volta à Rodoferroviária fomos transportados por um dos ônibus clássicos e lá a turma que participou da exposição se dispersou. De minha parte fui com o Paulo, a Marisa (citada no texto sobre São Paulo) e a Luciana, busóloga do Rio de Janeiro, para um shopping que fica nas proximidades, cada um contando as histórias do transporte de sua cidade.

Na volta compro a passagem da Cometa, empresa cuja existência achava que era uma invenção da Brinquedos Bandeirante, mas esse é assunto pra outro texto (mais um).

Só é uma pena que não voltei de Flecha Azul.

Flecha Azul

sábado, 28 de março de 2009

Mudança cansa

Esta imagem foi utilizada em tantos sites que nem sei mais a quem atribuir os créditos.

Hoje minha cabeça não está afiada para escrever então resolvi aproveitar o vácuo de ficar este tempo todo sem novos posts para...

...bom primeiro para re-agradecer (já havia agradecido nos comentários do blog dela) a Sil pela divulgação do meu último texto. É, esse mesmo que tá aí embaixo deste aqui. Se não leu (ainda) vale a pena ler...

(interrupção)

...agora sim, aproveitar para explicar minha ausência não só neste blog como em várias outras coisas virtuais e até mesmo reais. Esta semana que passou estive de mudança.

Não, não é de casa onde todos sabem moro na mesma praticamente desde a era Cenozóica* mas do trabalho.

Não também não estou trocando de emprego, é o emprego que está se mudando, mais precisamente saindo da L2 Norte para o Setor Bancário Norte. Nós, os chamados "oreia" acabamos por de certa forma nos transformar em burros de carga, seja encaixotando quase tudo na sala antiga como desencaixotando quase tudo na sala nova, o que acabou com todo mundo e deixando um rastro de exaustão para os próximos dias que não se dissipou até agora (minhas costas que o diga).

A mudança para o local em si não foi ruim, pelo contrário, a sala nova é muito melhor do que a antiga e o local é é bem servido de serviços (a expressão é de propósito), o porém é que tinhamos estacionamento fechado e agora teremos que nos aventurar para estacionar na rua, e logo onde?

Bom, tema para escrever não tem me faltado graças a Deus, mas vou esperar esse furdunço todo acabar para poder pensar com calma, além disso, pelo menos uns 3/4 da minha vida virtual se passam no trabalho.

*e para aqueles que são mais entendidos em geologia o "cenozóica" também foi de propósito, eu sei que o cenozóico é a era atual.

terça-feira, 24 de março de 2009

Bocas-de-lobo

Arte: Glauco

Ontem a Silvana escreveu um texto sobre o fato de o GDF ter feito uma propaganda falando que estavam inaugurando escadas rolantes numa estação do Metrô lá na Ceilândia.

Pensei em detalhar o porque de tanto gasto de óleo de peroba por parte de nossos "representantes" na política mas vi que o comentário ia ficar extenso demais, portanto escrevo este texto para complementar o da Sil. Já que ela cruzou agora é só cabecear.

Uma vez participei de uma reunião com a Maninha na casa da minha vizinha e debatemos justamente sobre isto. Inclusive a mesma se referiu sábiamente a esta prática de exaltar tudo quanto é ação banal do governo como "política de boca-de-lobo", senão vejamos - imagine uma comunidade que vive em um bairro sem urbanização básica e carente da ação do Governo para a execução das obras. A ação seguirá etapas da segunite forma:

  • Primeiro passam uma máquina para terraplanar as ruas. Propaganda nos jornais oficias dizendo que diminuiu o barrão nas ruas;
  • Depois de um tempo abrem buracos pra colocar os canos de esgoto. Propaganda na TV mostrando os canões suspensos e talvez uma placa de inauguração;
  • Aí passam alguns meses e instala-se bocas-de-lobo e dá o nome pra isso de "drenagem de águas pluviais" para parecer que é uma nova obra. Propaganda nos jornais que bajulam o Governo, além disso começam a brotar faixas de agradecimento ao governador que ninguém nas redondezas assume a autoria;
  • Passam-se um ou dois anos (ou até mais) e instalam os postes da rede elétrica. Aí o próprio governador vai lá para inaugurar a obra fazendo um discurso aplaudido por uma claque efusiva, e como ele foi lá coloca-se mais uma placa, além de propaganda nos jornais e faizas de agradecimento ao governador e ao secretário.
  • A próxima etapa é a pavimentação asfáltica, seguida de mais propaganda nos jornais e na TV e faixas agradecendo ao governador, ao secretário e ao administrador. Mas é importante que o serviço seja bem porco para que o tempo detone a capa asfáltica e o governo tenha que recapear tudo de novo e fazer mais propaganda e cerimônia.
  • Chega a vez de instalar as calçadas. Nessa etapa já tem propaganda em rádio, jornal, TV, presença do governador, discurso e placa, faixas agradecendo o governador, o secretário, o administrador e o deputado, etc. etc. etc.
  • Daí pra frente é só colocar os serviços públicos básicos (escolas, postos de saúde, postos policiais, etc.) a conta gotas. E para cada instalação de um desses serviços você junta todas as cerimônias citadas acima mais faixas agradecendo o governador, o secretário, o administrador, o deputado, o senador, o prefeito da quadra, o pai, a mãe, o papagaio, entre outros a acrescentar a cada inauguração.
É importante frisar que cada uma das etapas acima pode ser subdividida nas seguintes etapas: anúncio, sanção da lei, início, paralisação, retomada, nova paralisação, nova retomada, inauguração, retoques, nova inauguração, reformas e inauguração das reformas. Todos os passos acima devem ter uma espaço de tempo bem afastado um dos outros para que se coloque uma manchete para cada uma.

E assim parece que o governo faz muita coisa quando ele "inaugura" e "noticia" várias ações executadas em apenas uma hora. É só pensar, quantas vezes as obras do Metrô parou, retomou, inaugurou, ampliou, completou, entre outras coisas.

É por isso que é importante abrir o olho e ter um olhar crítico a tudo que se veicula na imprensa, principalmente no que tange a ações ao Governo. Não existe pessoa que gosta mais de aparecer do que político, ainda mais porque infelizmente no Brasil o povo só faz votar em quem tem obras visíveis e vultosas.

É por isso que tem tanta placa fundamental por aí. Por mais besta que a "obra" seja, tipo como instalar uma boca-de-lobo na esquina.

segunda-feira, 23 de março de 2009

"E aê mano, firmeza?"

Fonte: Wikipedia

Aeroporto de Cumbica, Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, 17:27 do dia 20 de março de 2009.

No momento acima citado realizei, deslumbrado e olhando para baixo logo que o avião ultrapassou a barreira de nuvens, um sonho que alimentava desde pequeno: conhecer a capital paulista.

Como sou um cara que acha que tem pouco assunto mas acaba escrevendo relatos gigantescos não se assustem se o texto acabar ficando grande demais, maior até do que a minha permanência em São Paulo, se é que isto pode ser chamado de permanência. Para melhor compreensão é melhor chamar de passagem, mas não foi uma passagenzinha qualquer como vocês verão.

Foto: Isaac Matos/Onibus In Brasil

A Ida

Para início de conversa merece nota a invasão do Aeroporto de Brasília por pessoas vestindo preto da cabeça aos pés. Não, não era a debandada de políticos como um colega meu em Curitiba palpitou, mas a chegada do Iron Maiden no seu "aviãozinho": um Boeing 757 personalizado com o Eddie na cauda.

O "aviãozinho" dos caras.

Ah sim, meu destino final era Curitiba, onde participaria de uma exposição no dia seguinte, mas marquei a passagem para Guarulhos porque estava usando milhas promocionais, se tivesse optado por ir direto gastaria o dobro no programa de milhagem. Sendo assim o Luciano, colega meu de Campinas, iria encontrar comigo na Rodoviária do Tietê e já havia inclusive adiantado a compra da minha passagem no DD da Eucatur às 22:15 (por que estou entrando em detalhes neste ponto? vocês logo vão saber). Agora só precisava me deslocar entre o aeroporto e a rodoviária, porém estava numa cidade que não conhecia, nunca tinha sequer passado perto, e era "somente" a maior região metropolitana da América do Sul, pra não dizer do Hemisfério Sul inteiro.

Mas tem um jeito direto de ir de um ponto a outro - um ônibus executivo que custa a "bagatela" de R$ 30,00(!) - tudo isso pra fazer um percurso que deve demorar no máximo meia hora, mas que deve ter demorado uns 45 a 50 minutos - não marquei a hora da chegada - por ter tido a honra de ser apresentado a uma das "atrações turísticas" de São Paulo: o engarrafamento na Marginal Tietê. Ainda no aeroporto perguntei no guichê de informações turísticas se não tinha um jeito mais módico de chegar lá. Ter até tem, mas do jeito que o camarada me explicou parecia coisa de aventura do Indiana Jones com o detalhe que eu estava carregando uma mala, e só na volta é que descobri que não era esse bicho todo de sete cabeças.

Vencido o engarrafamento, desço no Tietê. Na hora de pegar a bagagem embaixo do ônibus olho pra lado e sou pego pela surpresa - do meu lado estava a Daiane dos Santos, que por eu ter sido um dos primeiros a entrar no ônibus não havia percebido que a mesma embarcou depois no mesmo veículo. Bom, quis respeitar a privacidade dos outros e tentei não dar bola pro fato para assim tratá-la como uma pessoa normal, e não agir como uma tiete desvairada. Porém acabei me deslumbrando mesmo foi com o terminal, onde pisava pela primeira vez, e ao que Daiane me flagra nesta situação ouço dela um "tás perdido também?"

Daiane estava com mais dois colegas que havia conhecido no ônibus na mesma situação que ela, querendo descobrir onde comprava passagens para seus respectivos destinos. Adivinha qual era o destino dela? Isso mesmo, Curitiba. Ela queria comprar a passagem para o primeiro horário que aparecesse e inclusive me chamou para comprar no mesmo ônibus, porém...

...bom, leiam o que eu escrevi no quinto parágrafo acima, por isso os detalhes.

Passei a hora e meia que rodamos pelo Tietê antes do embarque do povo esperando o Luciano chegar e nada dele, mesmo assim só deu tempo da gente lanchar pois a todo instante alguém parava a gente para pedir autógrafo ou para tirar uma foto com ela (incrível como parece que todo mundo hoje em dia anda com uma câmera digital a tiracolo).

Bom, nós também somos filhos de Deus.

Já que chegou a hora do embarque da Daiane e nada do Luciano aparecer optei por não fazer esta desfeita com ele e me despedi da mesma quando ela embarcou no ônibus da Cometa. Só a título de curiosidade, a mala era quase do mesmo tamanho que a dona, bom, acho que vocês já tinham percebido isso pela foto acima.

Encontro o Luciano no mesmo box que a Daiane embarcou. E aos poucos os outros busólogos vão chegando e formando o grupo que iria para Curitiba. Aos poucos se forma o clima de descontração que marcou toda a viagem: os velhos debates, pessoas perguntando como anda o transporte em Brasília, a troca de fotos, etc. Até que chega 22:15. É hora de encerrar esta parte da história, tão intensa que com certeza deixei escapar detalhes importantes, para contar a outra parte desta "passagem".

Foto: Busscar/Divulgação

A Volta

Realizei mais uma das minhas vontades que era viajar pela Viação Cometa, o que me custou a companhia dos meus colegas na volta, já tão fatigados da dita companhia e deslumbrados pelo DD da concorrência. Restou-me esperar que os mesmos chegassem no ônibus que saiu 20 minutos depois do meu.

Em Curitiba ma deram detalhes de como não pagar os R$ 30,00 novamente, e de um jeito mais compreensível do que o que me passaram em Guarulhos. Tinha que pegar o metrô ali mesmo no Tietê até a Estação da Praça da Sé e baldear para pegar outro trem que fosse para a Estação Tatuapé, lá tem o tal coletivo que vai até o Aeroporto de Cumbica. Juntando tudo temos metrô => R$ 2,55 + ônibus => R$ 3,60 = R$ 6,15. E nem dói.

Isso pode parecer irrelevante mas pode ser útil para algum desavisado que quiser fazer o mesmo trajeto.

No primeiro trecho (até a Sé) tive a companhia da companheira Marisa, busóloga que conheço de longa data assim como o Luciano e que veio me contando mais detalhes sobre a cidade. Todas as vezes que nos encontramos foi assim, ela me falando sobre São Paulo e eu falando sobre Brasília.

Chegando na Sé me despeço, ela seguiria até o Jabaquara. Quando subo para o andar onde pega o trem para o Tatuapé algo me inquieta. De súbito desvio da fila do trem e saio da estação. Pra quê? Simples, meu caro: fazer algo que me fizesse dizer que realmente conheci São Paulo, mesmo sendo 6:30 da manhã. E subi as escadas que dão para a praça como quem descobre um mundo novo.


Posso dizer com todas as letras que a Igreja da Sé foi a maior igreja com a qual já tive contato. Mas não foi só isso, dali a curiosidade me levou até o Pátio do Colégio, local de nascimento de Piratininga e parei no Viaduto da Boa Vista. E que vista! deu para ter uma boa panorâmica da cidade. Afora isso destaque para o pouco movimento das ruas despertando para o domingo. Aproveitei para tomar café numa lanchonete das redondezas, com o prédio do Banespa, imponente, ao fundo.

Nesse percurso curtinho no qual devo ter ficado por volta de uma única horinha já foi suficiente para me realizar de um sonho antigo, e nisso São Paulo, tão cosmopolita como ela, superou todas as minhas expectativas. Além disso ao parar pensante no Largo da Sé antes de descer de volta para a estação me peguei com aquele gostinho de quero mais. Gosto que vira compromisso de um dia voltar, sem pressa, para poder viver a cidade como ela merece.

Pátio do Colégio: aqui nasceu São Paulo

Agora vocês devem estar se perguntando: Peraê, mas e Curitiba?

Calma, essa já é outra história.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Quatro casas na Vieira Souto - Parte 1

Cair na Av. Pacaembu é falência na certa - Foto: Roberto Tumminelli

Lembram-se de todos os detalhes do Banco Imobiliário? Ruas, peões, sorte-revés, saída livre da prisão, notas de 100 (verdes) aos montes na mão ou minguando de tantas vezes que se caía no Morumbi e era inevitável pagar o aluguel exorbitante do Hotel que o adversário contruiu ali e etc. etc. etc.?

Banco Imobiliário pode não ser um dos jogos mais jogados do Brasil e talvez nem seja o mais popular, mas com certeza é um dos mais lembrados, além do que todo mundo já deve ter jogado um dia e acabado com o estoque de casas do jogo.

Por conta desta lembrança é que dei o nome que dei para a série que será iniciada por este texto sobre a mudança que os jogos de tabuleiro, aqueles que marcaram nossa infância e adolescência, sofreram, principalmente neste milênio. Tudo por conta em parte da perda de mercado para jogos eletrônicos e computadores e a outra parte é por conta da sanha capitalista mesmo.

Banco Imobiliário como muitos conheceram - Créditos: Estrela

Sabe aquele Banco que estávamos acostumados a jogar? É, aquele mesmo que comprávamos "ruas" do Rio (Av. Brasil, Presidente Vargas, Ipanema, Flamengo...) e de São Paulo (Rua Augusta, Av. Paulista, Interlagos, Brooklyn...) onde construíamos casas verdes ou hotéis vermelhos para cobrar aluguel de quem caísse nas propriedades e às vezes caindo na casa de sorte-revés, lucros ou dividendos ou invariavelmente indo para a prisão? Sabem?

Bom, se vocês não tiveram o trabalho de preservar aquele Banco Imobiliário que vocês ganharam em algum aniversário da década de 80 ou 90 esqueçam, eu disse ESQUEÇAM, tudo o que eu escrevi no parágrafo anterior.

Desde o início deste milênio o B.I. que conhecemos veio passando por reformulações promovidas pela Estrela, até então detentora dos direitos de comercialização do Monopoly (a versão original americana), jogo patenteado pela Parker Brothers. A princípio as mudanças eram apenas no visual, mas a Estrela resolveu promover no Brasil algo que já estava sendo feito nos EUA: criar versões do B.I. temáticas, fenômeno que se estendeu aos outros jogos fabricados pela empresa e que falarei nos outros textos desta série. Alem disso a Estrela passou a estampar os nomes originais dos jogos junto do nome conhecimdo no Brasil. As primeiras versões temáticas do B.I que saíram foi a do Bob Esponja, dos Simpsons e da Disney.

"Banco Imobiliário-Monopoly" versão Bob Esponja

Outra mudança se deu mas desta vez no mercado de brinquedos como um todo: Gigantes do setor nos EUA resolveram entrar no mercado brasileiro, principalmente a Mattel (Barbie, Hot Wheels) e a Hasbro (D&D, Play-Doh, Transformers, o próprio Monopoly além de uma outra penca de brinquedos e jogos cuja lista deve ter um tamanho de assustar). Pois é sobre a entrada desta segunda que vamos nos ater agora, já que só para se ter uma idéia a Parker Brothers por exemplo é uma subsidiária da Hasbro.

A revolução da informática que explodiu a partir de meados da década de 90 junto com o fato de que todos nós crescemos e ficamos adultos num ritmo que faz com que todos estes jogos clássicos caíssem no ostracismo de nossas mentes fez com que nem notássemos tantas transformações neste ramo, aliás geralmente as pessoas só percebem quando começam a nascer os filhos e os mesmos voltam a frequentar as lojas de brinquedos, desta vez como o dono das carteiras.

Pois bem, a Hasbro resolveu "pegar de volta" a patente do jogo e passou a comercializar o jogo original no Brasil, assim como todas as versões temáticas já lançadas. À Estrela restou revisar as regras do Banco Imobiliário para não "plagiar" um jogo que ela mesma fabricava. Pelo menos ela pôde continuar a fabricar os jogos com as devidas alterações, afinal de contas mesmo usando as regras dos originais americanos os nomes brasileiros ainda são marca registrada da Estrela.

Mas não me espantaria se nem isso pudesse continuar.

No próximo texto falarei sobre a bagunça que virou a criação de versões do Banco Imobiliário, quer dizer, do Monopoly, quer dizer... ah vocês entenderam.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Redescobrir

Hein?!? O que o Pikachu tá fazendo aqui???

Em 2009 faz dez anos que provoquei (ou foi provocada em mim, sei lá) uma verdadeira revolução nos rumos da minha vida e no modo como eu a via.

O ano era 1999, já nos acréscimos do século XX e da década de 90 e é incrível como lembro daqueles fatos como se tivessem acontecido anteontem:

  • Pela primeira vez fazia viagens para cidades que conheci na infância: Santa Rita de Cássia - BA, cidade da minha mãe; e Aracaju - SE, cidade onde meus irmãos moram. E pela primeira vez pude ter a liberdade de conhecê-las como quem explora um novo lugar até tê-lo todo na palma da mão;
  • Acompanhei e participei da saga do Gama até o título do Brasileirão da Série B e veria que Brasília também poderia produzir um futebol de elite;
  • Havia concluído o segundo grau e começava a batalha para passar no vestibular da UnB (de onde ainda não saí até hoje, mas isso é outra história...);
  • Estava no "auge" de minha prática esportiva, frequentando o finado Defer e participando pela primeira vez de um campeonato de futebol na Portuguesa de Brasília, e ajudando o time até o vice-campeonato (pra variar...);
  • A vida social do meu prédio era agitadíssima, fazíamos muita coisa, vivíamos muita, nos divertíamos muito... e jogávamos muito GP2. Mal sabiámos que tudo aquilo eram os nossos últimos suspiros antes da responsabilidade nos separar;
  • Dava os meus primeiros passos rumo a informática culminando na compra do primeiro PC justo no dia 31 de dezembro do ano que temeu o bug do milênio;
  • Este post será editado caso me lembre de outra transformação que mereça nota por aqui.
Isto era o Google em 1999! - Créditos da imagem: Combidesign

Mas a transformação principal a meu ver eu já venho cantando aqui já faz alguns posts - a musical.

Lembram de quando eu falei dos CDs que vieram parar na minha mão por conta de minha mãe ser consultora da Natura e d'O Boticário? Pois é, achei um clipe que praticamente me trouxe uma nova leitura de outra música que conheci nesta época:


Redescobrir, (pra variar) de Elis Regina.

Música integrante do LP duplo Saudades do Brasil que tinha, só de músicas conhecidas, Maria Maria, Alô Alô Marciano, Canção da América, Sabiá, Aquarela do Brasil e a música acima que fechava o segundo disco. No disco d'O Boticário dedicado à Música Popular Brasileira era a 13ª e penúltima faixa do CD.


Já o vídeo é a última música de um especial exibido na Globo (vide os créditos ao final). No fim da década de 70 e início da de 80 foram feitos diversos especiais com grandes nomes da Música Brasileira - grandes mesmos pois cada especial recebia como título o nome completo do cantor, leia-se Elis Regina Carvalho Costa. Agora percebam a grande sacada na hora de fazer a segunda voz da música (memória, magia, história, etc).

Este vídeo me fez lembrar também que faz tempo que não danço ciranda em um show ou coisa que o valha.

E antes que me perguntem não chegou a ter um especial com o nome de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ou seja, o grande nome completo de Tom Jobim.

Eu prometo que trago outros artistas para celebrar os dez anos de 1999, mas sabe quando você está numa daquelas épocas em que você escuta um cantor mais do que o normal? Pois é.

E pode parecer pouco, mas imagine você descobrir estes tesouros numa época de Raimundos, Mika Hakkinen, Britney Spears, Suave Veneno, Copa Mercosul, É O Tchan, Apagão, Bug do Milênio e Pokémon*. Não é coisa pouca não! pelo menos na minha concepção.

E você? O que estava fazendo em 1999?

*Agora você já sabe o que o Pikachu tá fazendo aqui, ele e o resto dos Pokémons viraram a febre de 1999.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Sobre o dia do consumidor (que foi ontem)

Créditos da imagem: PGR/MPF.

Pois é, foi ontem, dia 15 de março, um domingo, dia em que poucos serviços funcionam.

Mas se foi ontem porque é que estou postando só no dia seguinte? - Perguntarão meus incautos (e por enquanto parcos) leitores.

Simples senhores, porque ,por ironia do destino, no dia de ontem a internet do meu prédio ficou fora do ar para todos os apartamentos me deixando interneticamente isolado do mundo e impossibilitando de escrever o texto que tencionava publicar.

Aliás no momento que escrevi este parágrafo (exatamente às 17:34 do dia 16 de março de 2009 Anno Domini) resolvi ligar em casa para me manter informado acerca da situação e, acreditem, a internet ainda não voltou a funcionar. A notícia que tive é que minha mãe ligou na provedora e a mesma disse já ter enviado um técnico para solucionar a situação, isso aproximadamente às 14:00 logo...

Não é a primeira vez que tenho problemas com serviços de telecomunicações, sendo que os mais próximos do casoatual foram com a Brasil Telecom, empresa da qual utilizava o serviço da BrTurbo e que cancelei para assinar com a provedora atual após um período de 3 dias sem o serviço (sem falar os períodos menores de problemas, mas as quedas eram constantes). Aconteceu o mesmo com o serviço de TV a cabo da Net, com desfecho semelhante.

mas o caso mais grave foi quando duas empresas colocaram meu nome no Serasa sem que eu tivesse solicitado crédito algum. As referidas empresas foram a varejista Ponto Frio e a operadora de telefonia Vivo. Em ambos os casos foram adquiridas linhas telefônicas de celular utilizando meu nome e que ficaram sem pagamento. Obviamente que corri atrás de meus direitos e interpelei as duas empresas na justiça.

No caso do Ponto Frio a mesma se mostrou solícita a resolver minha ação tanto que não tardou paraque a mesma retirasse o meu nome da lista de devedores, mas ao chegar na audiência ficou comprovado que a pessoa que utilizou o meu nome precisou apenas do número do meu CPF para abrir um crédito fraudulento, e eu que sou eu mesmo tenho que apresentar um arsenal de comprovações...

Já a Vivo mostrou um misto de incompetência e má vontade, pra não chegar ao ponto de dizer que foi mau caratismo mesmo. Depois de penar em filas enormes em três lojas diferentes (em uma delas cheguei a ficar 3 horas esperando) minha queixa sequer tinha sido registrada pela empresa, como na primeira tentativa pedi para tirar cópia da reclamação protocolada pela atendente da loja tal atitude sófez complicar a situação dos advogados da operadora na audiência.

Ah, e tentar falar no Call Center de qualquer empresa de telefonia é uma das piores experiências que um ser humano pode enfrentar.

Em ambos os casos obtive ganho de causa e indenização por danos morais, o que fez com que meu saldo de sucessos em reclamações ficasse positivo. Com issome foi permitido colocar este testemunho aqui com o objetivo de mostrar que realmente vale a pena correr atrás de seus direitos quando a razão está do nosso lado.

E o objetivo do 15 de março é justamente este, lembrar a todos da mudança de comportamento promovida pela criação do Código de Defesa do Consumidor, instituído pela lei nº 8078 e que fez com que as pessoas parassem de se ver como vítimas ingênuas em casos como este e passassem a se resguardar de possíveis abusos. Mas acima de tudo isso devemos sempre manter esta luta sempre ativa para inibir práticas abusivas e/ou mal intencionadas e garantir a satisfação com aquilo que adquirimos julgando ser para o nosso bem.

Para ter acesso ao texto da Lei nº 8078 clique aqui.

Paramaiores informações sobre o mesmo visite o site do Procon de seu estado. Para acessar o site do Procon do Distrito Federal clique aqui.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Laboratório ou Manipulação?

Dilbert ©2005 Scott Adams, United Feature Syndicate, Inc. - http://www.dilbert.com

Na última segunda fui ao dermatologista para tratar de um problema que acredito (e pelo jeito que o médico falou continuei achando) que seja de simples solução.

Depois de examinado qual não foi minha surpresa quando o mesmo me passou uma receita de um medicamento de farmácia de manipulação.

O mesmo tem até um nome curioso: ácido nítrico fumegante. E o nome não é nenhuma figura de linguagem, realmente quando se abre o frasco sai uma fumacinha que só os mais letrados em química poderiam me explicar o que ocorre na fórmula. Bom, mas é certo que, pelo pouco que sei dos princípios da física, aquela fumaça é o meu remédio indo embora pela atmosfera.

Mas é engraçada a situação porque geralmente toda vez que vou a um médico o mesmo me receita alguma medicação de laboratório, dessas que você compra em farmácias comuns, e acredito que com muitos que leem este post acontece o mesmo, principalmente quando são atendidos por médicos que não são um dos que a gente procura consultar habitualmente.

Mais. Como eu sei que a indústria farmacêutica ganha rios de dinheiro e seria capaz até de inventar uma nova pandemia só pra poder vender o remédio da sua cura imagino o tamanho do lobby para que médicos receitem algum medicamento específico de uma marca específica como num claro cumprimento de metas comercial. Tive inclusive acesso a alguns relatos de que tal prática seria em troca de participação em congressos, seminários, treinamentos, especializações, compra de consultórios e aparelhamento dos mesmos, etc. Tudo custeado por laboratórios.

Mas são especulações, não tenho como comprovar. Com a palavra as pessoas diretamente ou indiretamente envolvidas na área.

Posso sim dizer que gostei da atitude e da prática (se for mesmo uma) do médico que me atendeu, mas também não sou bobo de achar que entre farmácias de manipulação também não possam ter essas mesmas práticas relacionadas acima. Porém, dadas as proporções econômicas entre as partes, se houver um lobby é infinitamente inferior aos praticados pelas gigantes farmacêuticas afinal de contas, se uma farmácia de manipulação possuir uma rede apenas dentro de uma mesma cidade já é muita coisa.

E no meio dessa briga ainda há as farmácias homeopáticas, cujos remédios ainda carecem (será?) de comprovação científica de sua eficácia, há os que defendem seu uso alegando que os mesmos tem como utilidade estimular o próprio corpo a eliminar o mal que o aflige, por outro lado há os que dizem que tais remédias teriam apenas efeito placebo.

Bom, pela primeira vez o blog entra para debater algum tema e com isso deixarei uma enquete no ar: você dá preferência a qual tipo de medicamento? De laboratório, de manipulação ou homeopático.

Quem quiser colocar seu ponto de vista sobre um ou outro sinta-se livre para fazê-lo nos comentários.

terça-feira, 10 de março de 2009

Quero... mais Elis Regina

Mais uma música da "Pimentinha" que quero compartilhar com vocês - Quero.

Sétima faixa do álbum Falso Brilhante, considerado por muitos o melhor LP da discografia de Elis Regina. Realmente, dá pra considerar que aqui Elis estava no melhor de sua forma.

Quanto à música ela (pelo menos pra mim) traz uma paz que dá pra viajar legal nos pensamentos.

Eu não sei o que vocês sentem ao ouvir, mas ouçam agora, espero que só venha sensações boas à alma.

Outra coisa que estou achando é que o espírito de Elis está impregnado aqui pelos pensamentos do blog e na proposta do mesmo, sem falsa modéstia.

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Sou da opinião de que uma música para marcar a gente não basta ter uma letrinha bonitinha, ela toda tem que ser harmoniosa. Tem que ter acordes excepcionais, notas que se complementam e que surpreendam os ouvidos. Tem que ter uma letra que transmita uma mensagem ou que tenham palavras que permitam a livre interpretação, a livre sensação.

No futuro devo fazer um "fotoclipe" com esta música. Já fiz um com uma outra música mas vou guardar a surpresa para outra oportunidade.

Nessa foto o Sol está "quase" atrás do muro.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Uma segregação silenciosa

Ceilândia (em destaque o P Sul), Taguatinga e lááááááááááááááá longe a "Capital da Todos os Brasileiros" - foto: Augusto Areal - http://www.infobrasilia.com.br

Brasília sendo capital do Brasil já é um atrativo mais do que suficiente para que famílias de comunidades mais pobres do país se aventurem a tentar uma melhor sorte por aqui, afinal de contas foi com este espírito que gente de todos os cantos atenderam o chamado de Juscelino Kubitsckek para participar da construção de Brasília.

Havia um ideal pregado de que esta seria a cidade mais democrática que já existiu, onde, diziam-se, o motorista moraria no mesmo prédio que o deputado. Não era preciso esperar muito para ver que tal fato muito dificilmente aconteceria, a própria epopéia da construção já mostrava o quanto esta visão era utópica, principalmente para os operários, a quem não restava nada a não ser trabalhar incessantemente para atender um cronograma que demandava pressa nas inaugurações. E quando acabava o expediente aquele povo tinha que voltar para as vilas que ficavam cada vez mais distantes daquele canteiro de obras monumental.

E para aqueles que não conseguiam (ou não permitiam) se assentar em vilas operárias restava construir barracos com sacos de cimento em áreas que o poder vigente classificaria como "invasões". Dezenas delas se proliferaram, umas mais perto, outras mais distantes, inclusive uma dessas mais distantes deu origem à cidade de Taguatinga.

Com o passar dos anos as invasões mais próximas da parte monumental da capital federal foram sendo retiradas. O motivo alegado era o de fornecer melhores condições de vida a essas pessoas, mas a verdade é que aquele aspecto de pobreza, produzido diga-se de passagem pela estrutura de trabalho imposta pela construção daqueles prédios próximos, constrastava com a beleza que aqueles monumentos queriam passar, sem falar que as classes mais abastadas não podiam ter aquela visão enfeiando a vista de suas varandas, mesmo que estes não saibam que indiretamente contribuem para que aquelas famílias estejam naquela situação, de que jeito não vem ao caso colocar aqui pois demandaria uma explicação tão ou mais extensa que este texto.

E desse processo de embelezamento da paisagem da capital surgiram as outras cidades-satélites, cada vez mais afastadas da parte monumental: Gama, Sobradinho, Samambaia, Santa Maria, Recanto das Emas, Paranoá e aquela que carrega a razão de sua existência até hoje em seu nome, Ceilândia, nome originado pela sigla do Centro de Erradicação de Invasões - CEI. O Paranoá também merece destaque pois foi criada como um remanejamento de uma invasão que ocupava uma área próxima ao Lago Sul que possuía uma vista privilegiada do Plano Piloto, ideal para a especulação imobiliária.

Há também a questão do entorno do Distrito Federal. Devido às maiores dificuldades de se instalar no quadrilátero, muitas pessoas acabam por fixar residência em municípios próximos no estado de Goiás, cuja infraestrutura básica e de serviços não acompanhou o crescimento populacional, o que faz com que estas pessoas fiquem até mais dependentes dos serviços básicos, como educação e saúde, existentes em Brasília do que as pessoas que moram nas cidades-satélites.

Até hoje tanto os pioneiros como os migrantes que vieram depois vivem como na música Cidadão cantada por Zé Geraldo, ou pior que isso pois a maneira como a cidade se desenvolveu no que diz respeito à setorização foi para separar bem definidamente os espaços de ricos e pobres. Quatro exemplos deixam isso bem claro:

- Conte nos dedos, quantas linhas de ônibus passam em locais como Pier 21, clubes à beira do Lago, Academia de Tênis, entre outros locais notoriamente frequentados por pessoas que tenham dinheiro para comprar uma carro que chegue até lá;

- O Conjunto Nacional que também já é um exemplo notório: Percebam que a parte sul (a mais próxima da Rodoviária) tem maior concentração de lojas populares enquanto a parte norte tem maior concentração de lojas mais chiques e de grife;

- Há também a resistência da população moradora do Lago Norte à construção de pontes na península. O argumento é a de que tais obras aumentariam a criminalidade, ou seja, na cabeça deles pobreza é sinônimo de criminalidade, sendo que ninguém para pra pensar porque que há essa ligação (preciso dizer?);

- Pra finalizar é comum em hospitais de Brasília a concentração de ambulâncias de cidades do interior de Goiás, Minas Gerais e até da Bahia. Muitos condenam tal prática por considerarem que isso contribui para a superlotação da rede hospitalar, mas estas pessoas por acaso teriam acesso a atendimento semelhante em suas cidades de origem? Aliás isso vale para diversos serviços, tanto públicos como privados.

A melhoria das condições de vida nos bolsões de pobreza criados pelo descaso e pela sanha eleitoral assim como a desconcentração dos postos de trabalho (aqui em Brasília mesmo quase todos os empregos se concentram no Plano Piloto, além do que trabalhar perto da Esplanada traz mais status) resolve muito mais do que simplesmente afastar estas pessoas de nossa convivência como quem varre a sujeira pra debaixo do tapete. Isto demandaria uma mudança de consciência que este texto por si só não é capaz sequer de iniciar. Mas não percamos a ciência de que grandes mudanças se fazem a longo prazo, e cada contribuição feita nesse sentido é um passo que se dá para que alcançemos nossos ideais, que aqui é o da inclusão de todos na sociedade que queremos viver, independente de onde elas nascem ou moram.

***

Atualização: Acerca da temática, recomendo dois filmes dirigidos pelo cineasta Vladmir Carvalho: Conterrâneos Velhos de Guerra, que mostra o surgimento da Ceilândia, relatos de pioneiros de Brasília e a ação da polícia no despejo de invasões; e Brasília Segundo Feldman, que é um apanhado de filmagens feitas pelo americano que dá nome ao filme no ano de 1959, durante a construção de Brasília.

sábado, 7 de março de 2009

Quero falar de uma coisa...

Confesso que para o tema que escolhi falar hoje, coloquei um título pouco original, mas para corroborar com a mensagem que quero passar faz-se necessário passar sensações próximas às que ocorreram na época, afinal foi isto que aconteceu comigo hoje.

Mas primeiro vejam este vídeo:



O mesmo foi gravado no dia 14 de março de 1985, provavelmente à tarde, anunciando a transmissão da posse do presidente Tancredo Neves que aconteceria no dia seguinte. Porém:



De noite o presidente eleito é internado às pressas. Tancredo lutou pela vida por pouco mais de um mês, até que no dia 21 de abril, feriado em homenagem à Tiradentes, um domingo...


Os livros de história se encarregam de contar este episódio em detalhes, coisa que não é o objetivo desta postagem. Estou escrevendo sobre tal porque hoje estava assistindo um DVD com reportagens históricas do Fantástico e que continha o vídeo aí de cima. No programa do dia estava sendo exibida uma reportagem sobre a dieta do Dr. Atkins que foi súbitamente interrompida pela chamada ao vivo do repórter Carlos Nascimento. Após o anúncio da morte feito pelo Secretário de Imprensa Antônio Britto, Sérgio Chapelin entra ao vivo direto dos estúdios do Jornal Nacional com a voz embargada e visivelmente abalado falando sobre a vida política de Tancredo Neves e sobre a tristeza da nação naquele momento.

Tinha acabado de fazer três anos e não me lembro dos acontecimentos daquela época, porém ao ver as imagens senti como se tivesse vivido tudo aquilo, como se tivesse participado de todo o drama mesmo imaginando que tivesse sim acompanhado, mas sem captar a importância que o acontecido tinha para as pessoas ao redor.

Sensações como essas já senti com outras imagens, com outras músicas, com outros vídeos, mas a sensação desta vez teve um sentimento particular difícil de descrever mas fácil de compreender, por isso coloquei estes vídeos aqui para ver se resgatamos o espírito daquela época, tão bem exemplificado pelas palavras de Sérgio Chapelin.

Mas a questão maior são as palavras de Antônio Britto, Será que o Brasil sequer buscou realizar os ideais da dita Nova República? Essa eu deixo para aqueles que viveram aquele momento, pois uma coisa eu tenho certeza: Uma coisa que a transição trouxe em doses maciças foi muitos sonhos, muitos ideais...

...e muita esperança.

Queria iniciar a postagem com uma música mas como as leis de copyrigh
t não permitiram que eu a compartilhasse coloco o vídeo aqui no final, o resultado ficou até melhor.



terça-feira, 3 de março de 2009

O país de um eixo só - parte 2

Faixas afixadas pela torcida do América de Natal, quando o mesmo enfrentou o Flamengo na capital potiguar em 2007 (créditos: Globoesporte.com).

Por Sidney Nicéas (publicado originalmente em seu blog De 2 em 2)

Corroborando com a postagem do dia 30/10/08 (LEIA AQUI) e, claro, completando-a, eis que a Rede Globo, mostrando o seu sentido mais avesso de ‘nacionalidade’, ‘jogou’ o futebol carioca Nordeste adentro.

Agora, Pernambuco e os demais estados nordestinos não possuem mais um bloco exclusivo do ‘Globo Esporte’. As notícias esportivas locais são veiculadas dentro do noticiário estadual (aqui, o NETV). No horário outrora destinado às afiliadas, o nordestino tem ‘empurrado goela abaixo’ as notícias do futebol carioca...

O que somos? Cariocas, por acaso?

Essa é só mais uma peça pregada pela Globo. Uma peça bairrista e mesquinha. E não me venham falar de auto-preconceito (e que a emissora alterou seu quadro por outras ‘razões’ – se houvesse alguma ‘razão’ para tal, o espaço poderia muito bem ser preenchido com notícias realmente nacionais). Não bastasse ter o eixo Rio-São Paulo inundando a programação ‘nacional’ da emissora, agora vem mais essa.

Hoje, domingo, 1º de março de 2009, liguei a TV pretendendo assistir ao jogo do Campeonato Pernambucano, Vitória x Sport. Ainda passava o famigerado Domingão do Faustão. E eis que o apresentador anunciou, ignorando outros diversos jogos que seriam transmitidos pelas afiliadas Brasil afora: “Você vai conferir agora Santos e São Paulo e a final da Taça Guanabara entre Resende e Botafogo”.

O que somos? Paulistas e cariocas, por acaso?

Enquanto o futebol do Rio de Janeiro sobrevive graças a esquemas milionários escusos, a maior emissora do país mostra que dessa lama faz parte - e ignora o ‘todo’ para enfatizar única vertente. Alimenta essa ânsia de fazer os clubes do citado eixo (não só os cariocas) cada vez maiores – o resto que se dane. Enfim, acentua as enormes diferenças desse Brasil gigante. E olhe que estou me referindo aqui apenas ao futebol...

O que somos? Idiotas???

Deixar de assistir o canal não é solução (afinal, a TV é gratuita e tem obrigação de ser nacional). É preciso mostrar que não somos trouxas. Que somos o berço dessa nação e que merecemos, sim, respeito, igualdade e valorização. Quer saber como? Basta divulgar isso e enviar um montão de e-mails para lá externando, com toda a educação peculiar ao povo nordestino, que não somos idiotas:

Webmail do Globo.com: webm@redeglobo.com.br
PE360 Graus: http://pe360graus.globo.com/pe360graus/faleconosco.aspx

segunda-feira, 2 de março de 2009

O país de um eixo só - parte 1


Por Sidney Nicéas (publicado originalmente em seu blog De 2 em 2)

A vida num país acontece naturalmente. Uma nação é movida por eixos, engrenagens incansáveis acionadas em cada milímetro do território nacional, por cada cidadão. Mas, no Brasil, parece que não é assim...

Conduzidas pela mídia, essas engrenagens tupiniquins foram se resumindo a um eixo específico: Rio de Janeiro/São Paulo. A definida mídia nacional (que deveria ter igual missão – nacional) se perde com o foco super dimensionado no sudeste, especialmente no citado eixo, causando a impressão de que todo o país ali se resume.

Exemplos? Novelas – com suas tramas acontecendo quase que exclusivamente nessas duas cidades (o Rio paraíso, Sampa ‘A’ metrópole); futebol – só Flamengo e Corínthians em referências mil (e haja citações em toda a programação); música – qualquer ‘coisa’ vira sucesso comercial (e o resto que se exploda); até a violência – foco exacerbado às ações criminosas (ou será que no resto do país a mídia nacional dá atenção aos casos de seqüestro e assassinatos em família?).

A vida acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo, é verdade, assim como na Paraíba, no Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Maranhão, Sergipe, Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso...

Esse papo pode parecer mesquinho, mas não é. A idéia é tão somente refletir e questionar: quando o Brasil se tratará por igual? Quando a mídia será realmente imparcial? Quando seremos, enfim, uma nação de verdade?

Todavia, enquanto eu continuar enxergando o Brasil como ‘o país de um eixo só’, permanecerei movendo as engrenagens que me cabem – como escrever o que penso sobre esse assunto, por exemplo... E acreditando num amanhã melhor...

***

N. do E.: A charge no alto retrata o BBB8, ocorrido ano passado. Na ocasião especulou-se que a votação decisiva para escolher quem venceria o certame foi manipulada. Durante a votação o apresentador Pedro Bial afirmava que houve uma disputa acirrada e uma alternância constante da liderança. Porém como não havia um prazo certo para o encerramento da votação, a mesma teria sido encerrada apenas quando o paulista Rafinha se encontrava à frente da piauiense Gyselle.

Nunca levei BBB a sério, mas não duvido que isso tenha acontecido (quer dizer, aconteça).

No próximo post publicarei o segundo texto de Sidney sobre essa... digamos... "concentração de influência".

domingo, 1 de março de 2009

Acadêmicos do Salgueiro... Nota 10!


Há muitos anos que não assistia um desfile de escola de samba por inteiro, parte disso é que já com idade para curtir carnaval, seja brincando ou viajando, não me fazia sentido passar os dias de momo com a fuça na frente da TV vendo os outros se divertindo. A outra parte é que acompanho desfiles desde pequeno e vi como o sentido do espetáculo foi completamente desvirtuado, fazendo com que tudo aquilo pra mim tivesse perdido o sentido da coisa.

Pois bem durante os últimos anos parece que se instituiu um padrão de desfile a ser seguido a risca. Até onde eu sei uma escola de samba, sendo uma "escola", deveria ensinar essa arte às pessoas, principalmente às da comunidade onde a escola está inserida, pois foram (e são) elas que construiram (e constroem) aquele patrimônio. E quando entra fevereiro chega a hora de essas pessoas mostrarem o que aprenderam defendendo as cores de sua agremiação mostrando a todos que eles são os melhores no que fazem. Também deveria ser um celeiro para que compositores fizessem músicas que se estenderiam por gerações por suas letras leves e de fácil compreensão pelo povo.

Não vivi os carnavais do passado para ver se algum dia foi assim. pelo menos é o que a minha utopia permite imaginar que seria o cenário ideal. Mas se nunca foi assim com certeza não poderia ser pior do que vemos hoje. Enredos esdrúxulos e vazios (os nomes quilométricos já dizem tudo - coisas do tipo "A grande viagem do imaginário popular atrávés do tempo e do espaço: o maior espetáculo da terra contada pela Unidos do Fundilho de Dentro fazendo o nosso carnaval" (risos)), desfiles que mais parecem uma marcha, sambas que parecem aquelas musiquinhas decoreba de professor de cursinho, pseudocelebridades usando o espaço para se promoverem (às vezes até pagando ou sendo pagas para desfilar), enfim, tudo perdeu a razão de ser, tudo ficou vazio, a alegria e a espontaneidade deu lugar à necessidade da perfeição extrema.

O mais importante deixou de ser o samba e passou a ser a nota 10, mas nota 10 no quê? Será que alguém ainda lembra?

Fiz essa resenha toda porque ná última segunda a chuva precipitou o fim do meu carnaval naquele dia. E chego em casa exatamente quando está começando a transmissão do desfile. Não tive muito ânimo para ver a primeira escola porque se encaixou mais ou menos em tudo que falei aqui anteriomente.

Em seguida entra o Acadêmicos do Salgueiro, que já entrou com os gritos do Setor 1 de "é campeão". Já pensei de cara que em outros carnavais a opinião dos jurados muito raramente batia com o grito do povo no arquibancada. Mas bastou eu ver o carro abre alas pra ver que tinha alguma coisa diferente, algo que não dava pra descrever com palavras. Tudo estava me impressionando: o samba, as alas, o enredo (era simplesmente "tambor", e só), etc. etc. etc.

Trocando em miúdos: O Salgueiro não mostrou um desfile, mostrou samba.

Não podia dar em outra coisa: campeão do Carnaval 2009 com um ponto de vantagem para o segundo colocado. Levou ainda o Estandarte de Ouro do jornal O Globo. Mas mais importante do que isso tudo é o legado que deixa. Só pra exemplificar, o Samba, diferenciado por si só a ponto de parecer uma composição para um sambista e não para uma escola de samba, é tão envolvente que ouso dizer que é melhor que o "Explode Coração" do enredo Peguei um ita no norte de 1993.

Acadêmicos do Salg...

Torço agora para que as outras escolas aprendam a lição mostrada pelo Salgueiro para que se resgate a alma das escolas de samba, que se perderam pelo tempo na ânsia pela vitória.