segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A noite dos anjos


Tenho me descoberto como um boêmio praticante, mas no bom sentido. Não sou dos que bebem desenfreadamente até sair do bar trocando as pernas, porém quando estou à noite acompanhando o ambiente à minha volta às vezes me sinto transportado para um livro de Jorge Amado ou a algum conto de Nelson Rodrigues para que se tenha uma idéia dos tipos de situações que se apresentam.

Quem frequenta o e vivencia o ambiente noturno sabe bem, mesmo quando se chega num barzinho sozinho você encontra pessoas das mais diferentes espécies com diferentes histórias de vida. Nesta grande reunião não programada (só é programada com os amigos que estão na mesa), o álcool se encarrega de fazer as mentes pegarem no tranco de modo que se possa raciocinar melhor sobre diversas coisas, dinamizando a conversa. Este estado etílico acaba por transformar as pessoas em grandes sábios, notáveis debatedores em um simpósio de excluídos dos círculos acadêmicos conceituados.

Entre umas e outras surgem "os onipresentes", aqueles que mesmo quando você reveza os bares que você costuma frequentar você sabe que eles estarão lá lhe esperando para lhe oferecer alguma coisa. Eles são na maioria vendedores como Tararau, o mais famoso deles, que vende incensos pelos bares da cidade. Tem também a mulher que "olha a sorte!", a vendedora de sabonetes de diversos formatos (alguns impublicáveis), a vendedora de sachês perfumados, tem de tudo, tem até uma que se veste de oncinha vendendo doces(!). E, entre todas estas figuras, há os panfleteiros de festa, que incrivelmente surgem todos juntos como numa manada, esparramando papel sobre a mesa ddos frequentadores do lugar. Destruição generalizada de árvore.

Na capital federal devem haver peculiaridades que não existem em outras cidades. É comum o movimento dos servidores que saem da Esplanada e se espalham por happy hours asas afora. Mas tão grande quanto esta debandada é a que acontece às quintas feiras com universitários - muitos só tem aula de segunda a quinta, principalmente na UnB, aí a quinta a noite se tranforma na porta de entrada do fim de semana. As comerciais do meio da Asa Norte são tomadas por nuvens de meninos e meninas com aspectos que acabaram de largar os cadernos e são recém inciados na vida boêmia. Não são como aqueles convictos que chega possuem cadeira numerada no balcão do bar, esses hoje são mais fáceis de encontrar nas letras dos sambas de antigamente.

Mas eles estão por aí dando o ar da sua graça, fazendo com que o ambiente tenha a graça das músicas de Chico Buarque e Adoniran Barbosa. Feliz do estabelecimento etílico que pode contar com estes anjos em busca de uma maior descontração para a vida. Enquanto isso vou apreciando esta nova "velha" vida e colecionando novas histórias para dividir com os outros.

3 comentários:

  1. Adorei seu texto, Clébio, e a escolha da pintura acima também. Jeito legal que você arrumou de se recuperar das frustrações da vida.

    Ei, assino embaixo do último comentário que você fez em meu blog...aquela atitude de se espantar com a capivara no parque deve ser de gente como aquela que você descreveu mesmo...ô tristeza!

    Beijão

    Sil
    esquinadasil.blogspot.com

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  2. Clébio, esqueci de dizer que parte do comentário acima tem a ver também com teu texto entitulado "Boemia", de dias atrás, ok.

    Bj,

    Sil
    esquinadasil.blogspot.com

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  3. Oi, Clébio Júnior,
    Tão bom o teu texto! Preciso dar uma volta pelo ambiente noturno... Depois do álcool zero, happy hour virou coisa para fazer em casa.
    Beijos e cumprimentos pela bela crônica.

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