sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Quem perde é a democracia


A grande mídia tem se colocado acima das leis, da Constituição e das decisões do Judiciário, apesar de se apresentar como defensora suprema das liberdades. Ao mesmo tempo, se recusa a debater, boicota conferências, distorce e omite informações, sataniza quem não compartilha seus interesses.

Por Venício Lima, pesquisador.

Nos últimos meses, ainda mais do que nas últimas décadas, temos assistido a uma crescente intolerância dos principais grupos de mídia – Estadão, Folha, Globo e Abril – e das associações por eles controladas – ANJ, ANER e ABERT – em relação ao debate sobre as comunicações no Brasil.

Um dos princípios básicos da democracia é exatamente que qualquer tema pode e deve ser discutido pela cidadania. É assim, dizem os liberais, que se forma a opinião pública esclarecida, responsável, em última instância, pela escolha periódica e legítima dos dirigentes políticos do país.

Na democracia praticada pela grande mídia brasileira, no entanto, as comunicações devem ser permanentemente excluídas desse debate.
Qualquer pré-projeto, projeto, estudo, carta de intenções que se encontre em alguma gaveta de um ministério que inclua ou insinue o debate sobre a mídia será, automática e irreversivelmente, rotulado de “ameaça autoritária” e/ou “ataque à liberdade de expressão”.

A rotina é sempre a mesma: um jornalista encontra um desses pré-projetos, projetos, estudos e/ou carta de intenções; o jornalão dá manchete de primeira página alertando para o mais novo ataque do governo à liberdade de expressão e/ou à liberdade de imprensa; os outros jornalões (revistas e emissoras de rádio e televisão) repercutem a matéria entrevistando as mesmas fontes de sempre – pessoas e/ou entidades. Em seguida, todos publicam editoriais e/ou artigos de “analistas” sobre “as ameaças” autoritárias. Está armado o cenário.

Constituição não é parâmetro?

A quem interessa a permanente interdição da mídia como tema da agenda pública de debates? O que realmente querem e esperam os grupos empresariais que controlam a grande mídia no nosso país?

As normas adotadas unanimemente em democracias consolidadas do planeta e a Constituição Federal não servem mais de parâmetro para que se “permita” ou “admita” o debate. Até mesmo propostas de regulamentação de dispositivos Constitucionais têm sido entendidas, sem mais, como significando um “ardil” e/ou uma “armadilha” do governo para instalar um regime autoritário no país e, portanto, são automaticamente desqualificadas.

Ou não foi exatamente isso que ocorreu em relação às propostas da 1ª. Confecom – boicotada pela grande mídia; às diretrizes do III PNDH –ignorado ao longo de todo seu processo de construção; e, mais recentemente, ao documento-base da 2ª Conferência Nacional de Cultura que será realizada em março?

Despreza-se inteiramente a necessidade de leis federais, vale dizer, de um marco regulatório, que regulem a atividade de mídia, inequivocamente expressa na Constituição. Está escrito:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
(...)

§ 3º - Compete à lei federal:

I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;

II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:

I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

E a democracia?

Na verdade, a grande mídia tem se colocado acima das leis, da Constituição e das decisões do Judiciário, apesar de se apresentar como defensora suprema das liberdades.

Ao mesmo tempo, se recusa a discutir ou a negociar, boicota conferências nacionais, distorce e omite informações, sataniza movimentos sociais, partidos, grupos e pessoas que não compartilham de seus interesses, projetos e posições. Dessa forma, estimula a intolerância, a radicalização política e o perigoso estreitamento do debate público.

Como explicar, então, a atitude cada vez mais intolerante da grande mídia? Onde encontrar hipóteses e/ou explicações para um comportamento que, tudo indica, é deliberadamente articulado?

Acuar o governo e impedir que ele tome qualquer iniciativa no setor? Intimidar os movimentos sociais? Garantir a manutenção de interesses ameaçados? Estratégia de combate para o ano eleitoral?

Seja qual for a explicação, a principal derrotada é a democracia, exatamente o valor que a grande mídia simula defender.

***

Venício Lima é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP - UNB

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Voltando às pistas

O blogueiro em ação em sua última vitória.

Por estes dias fuçando na internet encontrei um blog dedicado exclusivamente aos capacetes de pilotos que fizeram história na Formula 1. Como o piloto esconde seu rosto durante a corrida o utensílio acaba virando a identidade do mesmo, e a F1 ilustra bem como o desenho do capacete passa a ser a "cara" do condutor, mesmo que este conceito tenha se perdido nos dias atuais por conta da sanha mercadológica que quer fazer propaganda em qualquer lugar possível (Sebastian Vettel e Fernando Alonso que o digam).

Ao ver as fotos me lembrei imediatamente de quando eu comprava álbuns de figurinhas da F1 e vinha as fotos dos pilotos, desenhos dos carros da temporada e, claro, seus capacetes, en figurinhas redondas. Eram de encher os olhos assim como eram as corridas da época (Senna, Piquet, Prost, Mansell, etc.).

Foto: Mercado Livre (só lá mesmo pra encontrar essas coisas hoje em dia).

Comcomitantemente, este ano estou junto dos colegas para recomeçarmos o KIA - Kart Indoor Amador - de Brasília. Então agora, para celebrar a volta às pistas farei como minha nova colega de campeonato, a Babi, e escreverei sobre o assunto.

Comecei a correr de Kart quando comecei a ter condições de pagar para entrar em um, ou seja, no ano em que entrei no Banco do Brasil. E falo sem vergonha nenhuma que minha estréia só não foi um desastre maior do que meu início no primeiro campeonato do KIA, neste mesmo circuito da foto aí de cima - o Free Kart. Na ocasião errei o pedal do freio e fui em cheio ao encontro dos pneus que, por sorte minha, estavam num ponto no meio do traçado e não encostados numa parede, mas isso não diminuiu o susto dos fiscais que teriam sido atropelados se não tivessem corrido.

Depois disso peguei o jeito, ganhei algumas provas e por aí foi. Estou longe de ser um grande piloto e neste ano acredito que correrei por fora na disputa. Na corrida que fizemos no último final de semana além de perceber que preciso recuperar minha forma ainda tive o azar de ter mo motor fundido no meio da prova (e de uma disputa ferrenha por posições). Ainda deu pra chegar em oitavo entre doze mas ficou nítido que preciso melhorar meu desermpenho.

Mas "carreras son carreras", tanto que já estou empolgado para o início do campeonato mês que vem. Já vou até desempoeirar meu uniforme e mandar repintar o capacete - agora inspirado pelas fotos de monstros que dominaram as pistas de outrora.

Decidi que este ano vou ter em definitivo a minha própria identidade como piloto. Sempre fui indeciso para decidir como seria meu capacete, por exemplo na época em que se jogava GP2 no computador eu até cheguei a bater o martelo para um desenho específico, tanto que pensei em transpô-lo para o capacete real quando comprei um em 2005. Porém as restrições orçamentárias da época não permitiram um desenho mais ousado. A idéia agora é pegar o conceito do desenho do GP2 e mesclar com o desenho do capacete real. Ou seja, não vai ser como o do desenho tosco aí do lado mas vai ficar tão legal quanto.

O resultado final ficava assim.

Mas com capacete ou sem capacete (acho que fiquei empolgado com o tal do blog) o campeonato deste ano promete em disputa, tanto pela quantidade como pela qualidade dos pilotos. E se você que está lendo este post tiver traquejo pra piloto, pode procurar a gente para se alinhar no grid. Quanto mais gente (e amigos) melhor.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sobre Tokusatsu - Parte 1

Para combater tantos monstros malignos só mesmo um exercito de sentais. Ao fundo a famosa pedreira da Toei.

Essas duas semanas que passei de férias foram dias de absoluta falta do que fazer. Mas para uma coisa este período foi útil além de servir de descanso merecido, serviu para eu matar a saudade dos heróis que alimentaram a minha infância salvando a terra (leia-se Tóquio) nos fins de tarde na finada Rede Manchete.

A palavra tokusatsu é uma abreviação do termo em japonês para "efeitos especiais". No Brasil o termo serve para designar as séries live-action em que um herói (ou mais de um) tem de lutar contra forças alienígenas que querem conquistar a terra. Mas mesmo dentro desta concepção há subdivisões como:
  • Metal Hero: É o herói solitário que possui uma armadura metálica e que precisa defender a terra de inimigos que querem dominar o mundo. Ex.: Jaspion, Sharivan, Spielvan, Metalder, Jiraiya e Jiban;
  • Super Sentai: Aqui um grupo de guerreiros (sentai singifica "esquadrão"), geralmente cinco - um de cada cor, Ganham armaduras colantes e unem seus poderes para combater quase sempre algum tipo de horda extraterreste. Ex.: Google Five, Changeman, Flashman, Maskman e todos os seriados que deram origem às infinitas continuações de Power Rangers;
  • Kamen Rider: Um herói que se transforma num guerreiro com roupa de gafanhoto. Se no Brasil isto é sinônimo de Black Kamen Rider, no Japão é uma variante que já tem mais de quarenta anos de sucesso;
  • Ultramen: A série Ultra é a pioneira dos tokusatsus e foi uma das primeiras a ser exibida aqui no Brasil. Ex.: Ultraman e Ultraseven. Spectreman faz parte de outro tipo - o Kyodai Hero (herói gigante);
  • Henshin Hero: Apesar do nome permitir abranger qualquer tokusatsu (Henshin significa "transformação"), o termo é aquele famoso diversos, ou seja, aqui entra os seriados que não se encaixam em nenhuma das outras franquias. Ex.: Nacional Kid, Lion Man, Cybercops, Bicrossers e Patrine.
Mas estou falando e explicando isso tudo porque quero falar daqueles que foram meus heróis favoritos. Os mesmos passaram na mesma época, no mesmo canal e, depois deles, nenhuma outra série japonesa live-action conseguiu me cativar da mesma maneira. Vou citá-los na ordem em que eram exibidos:

O Fantástico Jaspion (1985): O herói que promoveu o apogeu do tokusatsu no Brasil era órfão e foi criado pelo eremita Edin para se tornar o guerreiro que ia livrar o universo da ameaça do poderoso Satan Goss, um monstrengo gigante que usava uma armadura que claramente imitava a de Darth Vader. Foram épicas as batalhas contra MacGaren, o filho do grandalhão, e com a bruxa Kilza (Berebekan Katabanda... Kikerá!). E falar de Jaspion é falar obrigatoriamente do maior de todos os tempos, o Gigante Guerreiro Daileon. Com lutas e golpes sem muitas firulas, dava porrada nos monstros incontroláveis enfurecidos pelo Satan Goss deixando qualquer telecatch no chinelo.

Mais (bem mais) sobre Jaspion.


Esquadrão Relâmpago Changeman (1985): Veio ao Brasil na cola de Jaspion para defender Tóq... ops, o mundo das ivestidas do Império Gôzma comandadas pelo Senhor Bazoo. Tinha uma trama sem grandes sobressaltos mas valia pelo ineditismo de usar seres mitológicos (isso um ano antes de Cavaleiros do Zodíaco) em vez de se chamarem apenas pela cor com em outros sentais. O confronto final entre Change Dragon e Buba é histórico apesar de curto, e quem não lembra também da Shima - uma mulher que falava com voz de homem (bem grossa por sinal) - e do grande Gyodai, o bicho de aumentar monstros mais maneiro de todos, com seu olho na boca e seu jeito tosco.

Mais (bem mais) sobre Changeman.


Comando Estelar Flashman (1986): "Um dia cinco crianças foram raptadas da terra e levadas para os confins do universo, e após vinte anos..." pudemos ser brindados com uma história cheia de dramas pessoais e reviravoltas, mesmo que a série tenha mantido os mesmos clichês dos Changeman. Com heróis bem mais solitários e passando por mais perrengues, pudemos finalmente ver nossa "síndrome de Coyote" ser saciada ao ver o Flash King sendo destroçado pelo monstro, e ficou ainda melhor quando o substituto Titan Jr. apareceu com um jeito de lutar todo desengonçado. Independente disso, tanto o Império Mess como seu líder - o Monarca La Deus - tiveram um fim bem mais humilhante do que os invasores anteriores, deixando um clima meio frustrante no final. Mas o que importa é que os Flashman conseguiram se safar no final apesar de nenhum deles terem conseguido reencontrar os pais (a Sara não conta porque eles não se encontraram depois da descoberta).

Mais (bem mais) sobre Flashman.

Policial de Aço Jiban (1989): Foi o único seriado japonês exibido no Brasil ao mesmo tempo em que era exibido no Japão. Este seriado não é uma cópia descarado do Robocop a toa: a idéia inicial era a de um policial ninja mas foi tudo mudado às pressas para aproveitar o sucesso do original ianque. Seja como for, se realmente o seriado foi feito na correria como dizem (muitos do BGMs são os mesmos do Jaspion e de outras séries), o resultado ficou muito bom, pois os elementos existentes em Jiban fogem dos de outros tokusatsus. É até emocionante a relação do policial Naoto com a pequena Ayumi, além de todo o lado da investigação policialk assim como o desenlace da história. Esse não tinha como não marcar. Dos cinco daqui, é o único que não conta com um robô gigante.

Mais (bem mais) sobre Jiban.

Jiraiya, o Incrível Ninja (1988): Veio na cola de Jiban apesar de ser seu antecessor. Difere dos outros por não ser dotado de superpoderes, contando apenas com sua habilidade e com o treinamento ninja recém-adquirido para lutar contra a família dos feiticeiros liderada por Dokusai e contra o império dos ninjas (que em nenhum momento do seriado se revela onde fica). Com o sucessor de Togakuri, a febre ninja se espalhou de vez entre as crianças e todo mundo saiu por aí simulando golpes contra os amiguinhos e/ou contra inimigos imaginários. E no fim, depois de não perdoar e derrotar tanto ninja - e não monstros como em outras séries - No fim Jiraiya ganha seu robô gigante, encontra Pako, o tesouro do século, dentro do grandalhão(!) e todos ficam felizes para sempre, pelo menos os ninjas bonzinhos ficam.

Mais (bem mais) sobre Jiraiya.

Na próxima parte falarei de outros seriados que também cheguei a pegar, mesmo sem o mesmo afinco destes cinco.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dinheiro fácil


O título pode parecer propaganda de financeira que empresta dinheiro a prazos de perder de vista.

Mas na verdade o título remete a uma música de uma banda que fez muito sucesso na década de 80 e que hoje em dia faz parte daquelas músicas que as pessoas ouvem, dizem que conhecem (ou acham familiar) mas não sabem dizer quem está tocando e cantando.

E, quem diria, uma banda tão pouco conhecida pelo brasileiro médio tem algumas marcas interessantes:
  • A banda já vendeu mais de trinta milhões de discos.
  • Foi a primeira banda a contribuir para a disseminação do compact-disc, devido ao seu enorme sucesso em países como Inglaterra (seu país de origem), Estados Unidos e Austrália
  • Seu vocalista e lider, Mark Knopfler (que dizem ter uma voz anasalada tipo Bob Dylan, mas eu não acho qe parece), é considerado um dos artistas mais bem sucedidos da história.
Eu estou falando do Dire Straits, banda que foi febre em meados da década de 80 e que ainda é cultuada por quem é daquela geração, e até por quem não é também pois os arranjos do grupo são incrivelmente marcantes. Uma banda que, em meio ao momento em que o punk rock pesado dos anos setenta estava em alta, trouxe um som mais leve, puxado um pouco pro country e para as origens do próprio rock, e que agradou em cheio.

Se Sultains of Swing e a mais famosa e Walk of Life é a mais marcante, a mais simbólica da banda não poderia ser outra que não aquela cujo clipe foi o primeiro a ser exibido na MTV britânica e o que mais foi exibido na MTV americana (por que será?).



Money for Nothing

Mais oitentista impossível, ainda mais com esses bonecos que parecem saidos do primitivo tira-teima da copa de 86.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Pense no Haiti... seriamente

Chega de foto de destruição - aqui uma foto mais inspiradora.

Parece até hipocrisia um título desses enquanto milhões estão lá, sofrendo as consequências do terremoto de terça-feira. Sofrimento agravado pela sua história de políticos e ditadores que deixaram o Haiti com um índice de desenvolvimento humano tão baixo. Ou seja, o país, que já era paupérrimo, agora vive um cenário de completo apocalipse.

Mas não vou aqui explorar a devastação ocorrida por lá - isso a imprensa já está fazendo por demais. Primeiro convido-os à reflexão.

O episódio ocorrido em Angra no início do ano já havia mostrado o quanto o descaso, tanto dos governantes com as condições de vida como dos moradores que não estão nem aí para a escolha dos primeiros, pode ocasionar em caso de um desastre natural. E a natureza não escolhe dia, hora nem local para se enfurecer, pode ser a qualquer momento, e em qualquer lugar.

Em segundo lugar sabemos que individualmente não podemos fazer grande coisa (e infelizmente quem pode está numa zona de conforto muito grande para fazê-lo) mas cada ajuda neste momento, mesmo sendo uma gota d'agua apagando um incêndio, é valida pois várias gotas é que produzirão um temporal. Aqui segue um link com formas de contribuir. A preferência que se dá é por contribuições em dinheiro: mantimentos, roupas, água potável, etc. podem até ser arrecadados mas se já está difícil para pessoas chegar àquele país, imagine para grandes quantidades de carga?

E por fim convido a todos a sair um pouco da catarse promovida pela mídia e acessar este blog mantido por pesquisadores da Unicamp que estão no Haiti e que estão relatando tudo que estão vivenciando após a tragédia.

Aos líderes do mundo chegou a hora de sairem do discurso e tirar o Haiti de músicas como sinônimo de subdesenvolvimento e passá-lo para um modelo de reconstrução e solidariedade.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cidade individual

O que sobrou da praça - Foto: Cadu Gomes/CB/D.A.Press

Já é velha aquela história do homem que flagra a mulher com outro no sofá de casa e que, para resolver a questão, manda queimar o sofá.

Há alguns dias atrás, em Águas Claras, aconteceu algo similar. Uma praça na Quadra 205 foi demolida com a justificativa de que o local havia virado ponto de consumo de drogas. A "solução" encontrada pelos moradores foi destruir o local que, por ironia do destino, foi criado para o convivência e a integração da vizinhança.

O episódio foi relatado no Correio Braziliense do último domingo, e mostrou outros exemplos de intolerância que ocorrem em outros pontos da cidade.

Aí eu pergunto: há interação entre os vizinhos em Brasília? E mais: Ela existe de forma natural?

Na capital que foi criada para que o motorista e o deputado morassem no mesmo prédio, mas que, se tal fato raro acontecer, vai um no elevador de serviço e o outro no social, é difícil ocorrer, principalmente em condomínios, sejam verticais ou horizontais. As pessoas mal se dão bom dia no elevador, provavelmente só descobrem da existência um do outro nas reuniões (ditas chatas) de condomínio e se acontecer o acidente de ambos trabalharem no mesmo local, o que, dependendo da pessoa e da ocasião, pode ser considerado um baita azar.

E nossos amigos? Quase sempre são os colegas de trabalho, ou os de faculdade. Dificilmente convivemos com nossos viznhos, não há tempo, temos que trabalhar, estudar, passar em algum concurso bom.

Os espaços livres das superquadras de Brasília são subutilizados, são aproveitados mais pelas crianças que descem pra brincar, mas não se transformam em espaço de convivência, salvo por iniciativa da prefeitura da quadra. O que ocorreu em águas claras foi fruto do abandono do local, não houve sequer iniciativas para a utilização do local, aí se os moradores não usam a bandidagem se sente livre para usar. E até parece que deixar a praça pelada vai inibir alguém de usar drogas no local, e aí vão fazer o quê? Cercar tudo? Botar pregos, estacas e arame farpado?

O problema de Águas Claras é muito mais cultural do que criminal, faz parte do brasiliense moderno ser um bicho-de-goiaba encastelado em sua casa. Sair só para trabalhar, estudar e ir pra balada. Natureza, caminhadas, etc. geralmente são em parques, dificilmente perto de casa. Até mesmo para ir ali na padaria tem que ir de carro, mesmo que a padaria fique na comercial da própria quadra. E se há espaços livres em que se cogite até mesmo usar para a destinação que lhe foi definida como escolas e quadras esportivas aí sim aparece alguém que se levanta contra com os mais diversos argumentos que quase sempre esbarram no fato de que não se quer a "ralé" passando por debaixo de seus blocos - que eles fiquem bem longe, em suas cidades-satélites.

A destruição da praça é o reflexo da Brasília egoísta, que só pensa no individual, que reclama da violência na porta de suas casas mas que quer varrer a sujeira para debaixo do tapete. A diferença é que o tapete está do lado de fora da casa, pois se deixar dentro a sujeira lá embaixo vai começar a levantar, então que levante longe de nossos olhos. o que quero dizer é que só teremos uma cidade mais humana quando quisermos conviver na coletividade e quando quisermos resolver nossos problemas na coletividade e pela coletividade, com racionalidade e participação e não com radicalismos. Até lá ainda teremos muitos espaços públicos incendiados, e não poderemos nos queixar da falta deles.

domingo, 10 de janeiro de 2010

De como o Patrão criou a identidade do SBT (e/ou da TVS)


Tinha tempo que ele não dava as caras aqui no blog mas finalmente ele está de volta.

Para algumas pessoas revelei que virei o ano assistindo vídeos retrôs e coisas do gênero, aí comentei com Seu Ronca sobre os achados que estavam disponíveis no Youtube, e que não fazem muito sentido para quem tem menos de 20 anos.

Um deles está no vídeo abaixo: Uma vinheta institucional da TVS - a emissora de Sílvio Santos que originou o SBT - de meados pro fim da década de 80 e que, particularmente, marcou a infância deste que vos escreve (sim, eu não assistia a Xuxa, não gostava dela nem quando pequeno) e de muitas outras pessoas (vide os comentários no Youtube).



Sílvio Santos sempre se inspirou em emissoras americanas para estruturar a sua própria e isso não é segredo de ninguém, tanto que por muito tempo a base da programação da TVS (e depois a do SBT) era calcada em inúmeros enlatados americanos.

Porém o advento do Youtube permitiu a nós brasileiros que descobríssemos que a influência era bem mais forte, pode-se dizer que era imitação pura, beirando a bajulação, e viu-se também que muitas das músicas, vinhetas, aberturas de programas e imagens institucionais da emissora do Baú são cópias descaradas de criações estadunidenses. Taí esta vinheta abaixo, só pra servir de exemplo, que não me deixa mentir.



Vejam e tirem suas proprias conclusões, e assistam os vídeos relacionados para descobrir mais pérolas da TVS.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A chuva, os garis e o jornalista


O ano de 2010 começou pegando fogo, ou melhor dizendo, água. Pra falar a verdade já tem bem uns dois meses que a gente abre o noticiário e ouve o tempo todo notícias sobre enchentes, alagamentos, mortes, prejuízos, desbrigados por causa da chuva, etc. Em um período de um ano rolou no RS, em SC, no MA, no PI, em SP, no RJ, em MG e isso só o que eu me lembro de cabeça.

Me chamou a atenção uma entrevista em que uma pessoa, vítima dos deslizamentos de terra em Angra dos Reis, fala o seguinte: "Quando a gente achou que conseguiu encontrar um equilíbrio de trabalho, vizinhança, de amizade. O ritmo de uma tragédia desse tipo, a gente tá pensando na cicatriz que vai ficar, não sei por quanto tempo."

Faltou o equilíbrio com a natureza, não que seja culpa da pessoa, mas por conta do ser humano em geral que vive sem interagir com o seu meio.

Temporais a parte, com certeza o assunto mais comentado na internet estes dias foi a declaração (com revelação involuntária) do Boris Casoy a respeito dos garis. O caso ocorreu ao apagar das luzes de 2009, veio a tona no primeiro dia de 2010 mas só foi difundido internet afora depois da ressaca do reveillon, já na última segunda. Aí já fiquei meio receoso de deixar o episódio passar em branco aqui neste espaço.

A profissão de gari, assim como todas as profissões de servente em geral, fazem com que a pessoa praticamente fique invisível aos olhos da sociedade. Muitos estudos, dissertações, e teses já abordaram o assunto, comprovando a pesquisadores que tais pessoas dificilmente são notadas mesmo por pessoas conhecidas, a ponto de um simples "bom dia" virar motivo de grande alegria.

O que ocorreu com Boris foi um momento que deixou evidente não só a visão dele com relação aos garis, mas a visão de muita gente que se acha superior às outras mesmo que involuntariamente. E fruto de uma estrutura de classes que classifica o gari como uma profissão para os párias da sociedade - lembro que meu pai falava que quando meu irmãos mais velhos demonstravam pouco interesse nos estudos apontava para um caminhão de lixo que estivesse passando como que apontado para eles o destino que estaria sendo reservado a eles.

Tencionei até entrevistar um gari para coletar impressões sobre o episódio entre os principais afetados mas esbarrei na possibilidade de que o mesmo não soubesse o que aconteceu e acabasse por causar um constrangimento involuntário. Vou acabar deixando este ponto em aberto.

Como o assunto já está quase se exaurindo vou encerrando por aqui, também por se fosse para falar de tudo que está em debate por aí este texto ficaria quilométrico. Mas deixarei a questão da entrevista também em aberto para todos opinarem se vale a pena dar prosseguimento e tentar formatar soluções se for o caso. É a hora inclusive de uma participação maior dos colegas jornalistas (né Sil) neste assunto.

Peço então a todos: dêem um bom dia involuntário para as pessoas, independente da profissão delas, ou seja, tanto para o vizinho no elevador como para aquele que está varrendo a rua, pois isto não é demérito algum.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Porta trancada


Este episódio ocorreu quando eu tinha mais ou menos uns sete anos. Talvez um pouco mais, talvez um pouco menos. Lembro apenas que era um dia de férias, só isso justificaria eu estar no período da tarde em casa e não na escola.

Num dado momento em que ia entrar no meu quarto a maçaneta saiu na minha mão, e quando tentei colocá-la de volta na porta o ferro caiu pra dentro, impossibilitando que se abrisse a porta. Na hora não dei muita importância para o fato, havia outros cômodos na casa: a sala, a cozinha, o banheiro, etc. e segui minha vida até onde pude.

Porém o chaveiro demorou a aparecer para resolver a situação e a partir daí comecei a dar por falta das coisas que estavam lá dentro - brinquedos, roupas, a cama, entre outras coisas que quando temos a mão na hora que queremos não damos muito valor. Comecei então a ficar agoniado com a situação, querer entrar no quarto, pegar as coisas que lá estavam, e pouco a pouco a impaciência começou a me dominar.

Sei que o chaveiro chegou bem tarde - entre nove e dez da noite (estranho!) - e com isto podemos dizer que fiquei sem meu quarto por metade do dia. Foi o suficiente para que eu passasse a valorizar, até hoje, o meu espaço de descanso.

Ontem estive conversando no MSN com a Dami. Ela está em Ijuí, sua cidade natal, mas passou esse último semestre aqui em Brasília estudando na UnB, onde nos conhecemos. Ela me contou dos momentos felizes que estava passando no reencontro com a família e com os amigos e de como estava sabendo aproveitar cada minutinho dessa felicidade.

Para quem não conhece, esta é a Dami.

Lembro-me que por aqui ela andava meio triste, cabisbaixa, precisando de apoio mesmo. Veio para cá deixando todo mundo que ela gostava para tentar nova vida em Brasília. Tinha que lidar com provas, estudos, concursos, relacionamento com parentes que, além das picuinhas do dia-a-dia, acabavam por formar um conjunto da obra que a fazia infeliz na capital federal. Aí apareceu a oportunidade de ela voltar para a região das missões e, pelo menos nos meios virtuais pelos quais nos comunicamos, ela está sempre felizzzz..., assim, com um monte de "z" mesmo, igual nas mensagens do Profeta Gentileza, fato que se repete nas palavras que escreve no MSN quando está empolgada e que torna difícil não fazer tal associação.

Afirmei a ela: essa temporada em Brasília a fez valorizar mais as pessoas e as coisas que ela tinha em Ijuí, e este é o momento favorável para ela aproveitar e começar o ano que se inicia com um novo astral, junto da família, dos amigos e do seu amor.

Mas uma coisa que não falei na hora e vou falar agora para que seja útil para outras pessoas na mesma situação é que deve-se tomar cuidado para que o episódio não abra margens para o comodismo. Assim como aconteceu há alguns meses atrás, vai chegar uma hora em que teremos que fazer escolhas para nossas vidas que possivelmente nos exigirão sacrifícios dolorosos. Nestas horas não há espaço para ações tempestivas, a cabeça deve estar serena e paciente para balancear o melhor rumo para nosso destino, pois no futuro pode não haver espaço para arrependimentos ou lamentações.

As coisas de cunho amoroso não cabem aqui pela natureza do espaço, mas seu enquadramento não foge muito do que já foi dito.

Dami, você sabe que é uma pessoa muito querida (e sabe também que eu não gosto de ficar dizendo essas coisas hehe), sabe também o tanto que você foi importante pra mim nesse segundo semestre melhorando o meu astral só com a sua presença, e ver você transparecendo "alegriaaaa..." desse jeito me deixa muito mais feliz. A primeira impressão me diz que o melhor é você ficar junto das pessoas que você ama, mas na verdade você deve aproveitar esse momento de paz que se instalou na sua vida para ponderar bem na escolha do caminho que você quer que ela tome, seja no relacionamento, seja na carreira, seja no convívio com as pessoas. Estamos sempre querendo enfrentar novos desafios, e muitas vezes precisamos tomar ações nada agradáveis de início para conquistarmos algo que queremos muito lá na frente. Você sabe disso, já passou por isso.

Assim como no episódio da porta que se trancou, continue aproveitando esse reencontro com as pessoas que estão no seu coração, mas lembre-se sempre do aprendizado que você teve, principalmente para que você tenha um futuro igual ao presente: de muita felicidadeeee...

Esse texto fica valendo como um testimonial. O link vai estar no Orkut.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Rock'n Roll Doctor (III)

Mais ilustrações do colega Pablo Gomes.

Rita Lee

Chico Science

Raul Seixas

Para conhecer mais do seu trabalho clique aqui.