terça-feira, 31 de agosto de 2010

Conto - Meu carro não existe


Bom dia a todos que pararam para ler esta história.

Meu nome é Marcelo, tenho 22 anos e moro com meus pais no Guará, mas acho que estas informações não dizem nada de importante para o que vou contar

Sempre fui do tipo baladeiro, sempre contando os dias pro fim de semana pra curtir balada. Pagode, micarê, mulherada, birita, comigo não tem tempo ruim. E não é me gabando não, mas onde eu marco presença eu causo, fica todo mundo querendo estar por perto de mim, as meninas querendo atenção, e por aí vai. Sou o tipo de cara que faz sucesso onde passa, como se quem tivesse minha companhia fosse um privilegiado.

E para poder aumentar meu cartaz comprei um item que considero básico pra poder ser "o cara", um carro que chame a atenção da galera e que sirva de "matadouro" nas horas vagas (se é que vocês estão me entendendo). Achei, como se tivesse surgido uma ligação feita pelos deuses, um Golf GTI preto, completo e com som potente o suficiente pra chegar nos lugares tocando batidão tão alto que faz meia festa se assustar só pra olhar. Não pensei duas vezes na hora de levá-lo pra casa e começar a ficar louco pra abafar no carango novo.

No primeiro final de semana do carrão novo chamei a galera pra um churras na casa de um colega meu no Lago. A idéia era chegar do início pro meio da festa e botar o carro de porta-malas aberto no meio do gramado pra galera curtir a sonzeira. E sair de lá sabe-se lá que horas.

Eu saía com o carro durante a semana atrás de tunar ainda mais com o carro e percebi que quando passava nas barreiras eletrônicas minha velocidade não era marcada. Passei em vários, várias vezes, e nada. Chegou um momento que decidi que já que não tá marcando vou ignorar e passar reto, sempre achei um saco mesmo ficar freando no meio do caminho... Depois percebi que ninguém me buzinava, ninguém me parava em blitz, ninguém me cobrava estacionamento, parecia uma maravilha que eu não entendia porque estava acontecendo.

Sei que fiquei de bobeira no sábado, tanto que resolvi deixar o carro com a sonzeira ligada do lado de fora, o pessoal ia procurar ver o que era e eu entrava com o carro, bem pra chamar a atenção mesmo. Só que quando cheguei ninguém nem se virou pra olhar, frustrei legal na hora. Deixei o carro fora e chamei o galerê que tava lá dentro pra ver meu carro novo.

Mas todos olharam e disseram que não ouviam nada. Pior, que não viam nada. Disseram inclusive que eu devia ter vindo de ônibus e que tava de história pra fazer média com o pessoal.

Sim, é isso mesmo que você ouviram - ninguém, nem eu , conseguia ver meu carro, ele estava literalmente invisível. Não consigo explicar e nem entender como isso aconteceu, só percebi que não via o carro, mas vi que ainda podia senti-lo, da pior maneira: tropeçando (feio) nele.

Deve ter sido por isso que não estava mais sendo multado nem nada.

Só me restou acostumar à nova realidade, pois pelo menos ainda podia me locomover nele, sem falar que havia gastado uma grana preta nele, além do que não ia conseguir passar pra frente um carro que a pessoa não pudesse ver.

Mas ainda aconteceria vários aborrecimentos, como quando depois consegui convidar ume menina pra sair. Como ela não viu o carro achou que eu estivesse de caô e desistiu de mim dizendo que não queria andar de ônibus. E quando eu contava pra galera? Todo mundo achando que eu estava louco: isso sim me deixava mais louco ainda.

Ter aquele carro já estava perdendo a graça, acabou passando a ser um estorvo também pois as parcelas do financiamento não ficaram nem um pouquinho invisíveis, nem a gasolina que esse carro bebia (e eu achando que Opala era que bebia muito). Até a turma que vivia enchendo minha bola nas festas começou a se afastar daquele cara que inventava que tinha um carro só pra não assumir que tava quebrado e a pé.

De tanta raiva que sentia do abandono que estava passando parei num barzinho um dia desses perto do Ceub e acabei passando um pouco da conta, saindo de lá trocando completamente as pernas, tanto que não lembrava mais aonde estava meu carro. Estava de um jeito que não sabia o que fazer até que bati numa parada de ônibus e encontrei uma menina com um estilo meio largado, tipo roqueirinha revoltada. Pensei em pedir a ela que me ajudasse com o ônibus (pois não fazia idéia de qual pegar) mas percebi que ela estava chorosa, desligada do mundo, parecendo sem vontade - e condições - de querer falar.

Imaginei que pelo jeito dela ela não iria querer me ajudar, então segui reto.

Depois, de manhã, acordei sem me lembrar do que havia acontecido após isso, só me vi acordando num lugar que não conhecia, mas percebi que havia alguém do meu lado: era a menina da parada. Ela me contou que eu havia tropeçado no meio-fio, caído violentamente e ficado desacordado. Ela ficou preocupada e chamou o SAMU. E mesmo com tudo que havia acontecido com ela naquela noite ela se dispôr a ficar de acompanhante. Sim, eu havia recebido os primeiros socorros e agora estava aguardando para ser examinado no Hospital de Base. Enquanto isso ela me contou que o (ex)namorado dela havia decidido trocá-la pela amiga dela sem nem avisá-la, e ela estava ali lamentando a vida quando eu apareci e me acidentei. Ela enxugou as lágrimas e passou a ficar preocupar com o meu estado.

Deve ter sido a primeira vez que alguém havia se importado tanto comigo, sem ser por interesse. Depois de sair do hospital peguei o contato da menina e fiquei de ligar pra gente combinar alguma coisa depois, trocar idéias e coisa e tal. Seja como for, passei um tempo em casa de molho na cama me recuperando e pensando no acontecido. Até que no dia que decidi ligar pra ela para agradecer por tudo saí de casa e olhei pro meu carro invisível, como que me conformando e "agradecendo" a ele por ele ter ficado invisível, sem saber direito porque, mas simplesmente agradecendo. Talvez estivesse sentindo que algo novo estaria para acontecer: estar vendo uma outra pessoa, com um carinho diferente, de um jeito que me fazia um bem que minha vida não costumava me fazer quando meu carro era visível.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"Clipes do Fantástico" - Esses Moços (Pobres Moços)



Fica a Dica.

Mais uma para a série de Clipes do Fantástico, com oferecimento de Seu Ronca.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A noite dos anjos


Tenho me descoberto como um boêmio praticante, mas no bom sentido. Não sou dos que bebem desenfreadamente até sair do bar trocando as pernas, porém quando estou à noite acompanhando o ambiente à minha volta às vezes me sinto transportado para um livro de Jorge Amado ou a algum conto de Nelson Rodrigues para que se tenha uma idéia dos tipos de situações que se apresentam.

Quem frequenta o e vivencia o ambiente noturno sabe bem, mesmo quando se chega num barzinho sozinho você encontra pessoas das mais diferentes espécies com diferentes histórias de vida. Nesta grande reunião não programada (só é programada com os amigos que estão na mesa), o álcool se encarrega de fazer as mentes pegarem no tranco de modo que se possa raciocinar melhor sobre diversas coisas, dinamizando a conversa. Este estado etílico acaba por transformar as pessoas em grandes sábios, notáveis debatedores em um simpósio de excluídos dos círculos acadêmicos conceituados.

Entre umas e outras surgem "os onipresentes", aqueles que mesmo quando você reveza os bares que você costuma frequentar você sabe que eles estarão lá lhe esperando para lhe oferecer alguma coisa. Eles são na maioria vendedores como Tararau, o mais famoso deles, que vende incensos pelos bares da cidade. Tem também a mulher que "olha a sorte!", a vendedora de sabonetes de diversos formatos (alguns impublicáveis), a vendedora de sachês perfumados, tem de tudo, tem até uma que se veste de oncinha vendendo doces(!). E, entre todas estas figuras, há os panfleteiros de festa, que incrivelmente surgem todos juntos como numa manada, esparramando papel sobre a mesa ddos frequentadores do lugar. Destruição generalizada de árvore.

Na capital federal devem haver peculiaridades que não existem em outras cidades. É comum o movimento dos servidores que saem da Esplanada e se espalham por happy hours asas afora. Mas tão grande quanto esta debandada é a que acontece às quintas feiras com universitários - muitos só tem aula de segunda a quinta, principalmente na UnB, aí a quinta a noite se tranforma na porta de entrada do fim de semana. As comerciais do meio da Asa Norte são tomadas por nuvens de meninos e meninas com aspectos que acabaram de largar os cadernos e são recém inciados na vida boêmia. Não são como aqueles convictos que chega possuem cadeira numerada no balcão do bar, esses hoje são mais fáceis de encontrar nas letras dos sambas de antigamente.

Mas eles estão por aí dando o ar da sua graça, fazendo com que o ambiente tenha a graça das músicas de Chico Buarque e Adoniran Barbosa. Feliz do estabelecimento etílico que pode contar com estes anjos em busca de uma maior descontração para a vida. Enquanto isso vou apreciando esta nova "velha" vida e colecionando novas histórias para dividir com os outros.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Charge - Angeli

Sem Legenda

Contra Roriz

Já chega né?

Já tem alguns dias que a campanha eleitoral começou. Aproveitei este meio tempo pra ficar zanzando por fóruns pela internet, ouvir comentários de botequim, ler propostas de candidatos, ver candidatos colocando suas fotos sorridentes na ruas, anotei o nome de alguns espertalhões que deram uma de João-Sem-Braço durante o período pré-eleição e fizeram propaganda descaradamente antecipada...

...E na última terça começou o horário eleitoral. Só para servir de constatação para o fato de que o cenário político brasileiro só faz involuir, nutrido principalmente pelo desinteresse da população em participar da vida política e social do país.

É, o período de observação continua, mas acho que já tenho condições de tomar algumas decisões e, dentro das mesmas, iniciar algumas ações.

A primeira e primordial de todas é: Este blog se posiciona absolutamente contra a candidatura de Roriz (e escrevo assim em vermelho, cor do blog, porque sei que isso deixa tanto ele próprio como seus apadrinhados e seus eleitores de curral vermelhos de raiva).

Não precisa fazer muito esforço para se posicionar assim, basta ser inteligente e/ou honesto e ético. Eu poderia colocar aqui quilômetros de motivos para que Roriz não recebesse um voto sequer mas estes já estão batidos o suficiente. Basta lembrar que em 2 décadas de coronelismo que fizeram Brasília andar pra trás no rumo do desenvolvimento de outras cidades Brasil afora. Quero dizer que posso afirmar com segurança que Brasília é uma cidade atrasada em todos os aspectos possíveis. Principalmente pela grande quantidade de gente burra e safada, condição principal para querer a volta de Roriz, que existe nesta cidade.

Sabendo que meu blog pode ser identificado tanto por "cabos eleitorais" como monitorado pelos apoiadores da campanha de Roriz responsáveis pela campanha digital estou disponibilizando uma página no Formspring para responder questionamentos, e posso garantir que respondo qualquer pergunta, dúvida, lamentação, reclamação, elogio, etc. Até mesmo palavras de baixo calão (mas responderei de maneira educada). Só condiciono a resposta ao óbvio, que se faça uma pergunta.

E por fim convoco a todos para promover um esforço para que Brasília siga um novo rumo em busca do desenvolvimento e da participação popular efetiva, seja lá qual caminho for escolhido.

Só é certo que não existe caminho elegendo Roriz, já são vinte anos em que esta cidade não evolui em saúde, transportes, segurança, educação, entre outros desses chavões muito usados em épocas como essa. É vinte anos é tempo suficiente para perceber isso não?

Visitem: http://www.formspring.me/clebiojunior e perguntem à vontade.

Charge: Humberto

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Adoniran e Elis


Pra vocês se convencerem de que vivemos numa época medíocre.

domingo, 15 de agosto de 2010

Boemia (sem acento circunflexo)

Não preciso mais disso.

Em fevereiro passou-se mais um carnaval e eu estava nesta cidade morta para o Rei Momo. Por conta disso tinha jurado a mim mesmo que passaria um bom tempo curtindo uma reclusão em que cortaria contato com meio mundo e me dedicaria a mim mesmo e, no máximo, a alguns colegas mais chegados que foram testemunhas deste meu desejo. Porém como boa vítima da Lei de Murphy não demorou uma semana para que aparecesse uma menina ma minha vida par me tentar a não cumprir o que havia prometido para mim mesmo.

Passou-se o tempo, ela veio me engambelando jogando charme mesmo sem vontade alguma de querer algo sério por circunstancias passadas. Mas o idiota aqui se iludiu assim mesmo e ela foi embora sem demonstrar nenhuma preocupação com o sentimento que ela cativou em mim, simplesmente fez que não era com ela e foi embora, jogando os ensinamentos de Saint-Éxupery no lixo.

Infelizmente é preciso estes tombos na nossa vida para que percebamos que ela não é algo que devamos levar a sério. O que eu estou querendo dizer é que se você acredita que a sua vida pode ser certinha e que você pode confiar nas pessoas que elas acreditam nos mesmos dogmas mesmo que lhe digam que acreditam... esqueça, ou sua desilusão será mais forte.

Passei dias sofrendo sozinho por conta de alguem que estava cagando e andando para mim (senão não acreditaria que quando se enjoa de alguém dá-se um pé na bunda do outro sem remorso algum)e precisei retomar algumas coisas de antes dessa pessoa ter invadido minha vida.

Em fevereiro ia ao forró todo fim de semana e acompanhava o Santa Cruz na campanha (boa) do campeonato pernambucano. Hoje decidi retomar essa rotina e fui agraciado tanto com o forró de qualidade quanto com uma vitória do Terror do Nordeste.

Voltei pra casa sozinho (nem ficar com ninguém fiquei) mas só de sentir o cheiro perfumado das mulheres com quem dancei impregnado na minha roupa me senti flutuando em uma sensação de leveza pelo caminho. E pensar que havia cogitado abandonar essa sensação por conta de alguém que pouco se importava comigo.

Posso até agrdecer por ter podido voltar a viver uma vida de admiração pelas coisas boas sem ter que dar satisfação a quem não merece, mas sei que estas palavras vão incomodar algumas pessoas. Bom azar de quem se sentir incomodado, pois não me preocupo mais com quem quer me iludir com promessas de companheirismo.

E sigo forrozeando e vibrando com o Santinha, regando sempre com a melhor cerveja.

***

Atualização: Em certa ocasião a pessoa havia pedido que eu escrevesse algo no blog em homenagem a ela. Tardou mas o texto saiu, do jeito que a pessoa merecia no fim das contas.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Curtinhas - Sobre a greve da UnB


Greves servem para incomodar, senão não serviriam de nada. Porém quando se entra de Greve ou você entra ou você não entra. No caso de quem trabalha com atendimento ao público ou você está de greve para todos ou você não está de greve, qualquer coisa fora disto é picaretagem.

A UnB entrou de greve justo no meu primeiro semestre, justo quando mais preciso de atendimento por conta de formatura e afins. A reivindicação dos funcionários é justíssima, mas o tratamento que tenho recebido não tem sido nada justo.Vários colegas meus estavam conseguindo atendimento e eu sempre esbarrava com funcionários de braços cruzados.

Depois de já ter tido problemas na SAA e no protocolo fui solicitar ao comando de greve uma autorização para entregar meu pedido de emissão de diploma no protocolo (pré-requisito para que os "grevistas" aceitassem o documento). Fiz a solicitação, aleguei que precisava apresentar documentos no emprego e tudo o mais. Me deram um prazo de retorno de um dia.

Duas semanas depois desisti de esperar e fui levar o documento para um colega que é funcionário da UnB tentar entregar sem carta mesmo. Ao sair de lá com o carro bati de ré num Palio que estava parado atrás. Os "grevistas" foram correndo pra cima de mim para pegar meus dados para passar para a dona do carro. Uma hora depois recebi ligações no meu celular com a cobrança do prejuízo. E qual não foi minha surpresa ao descobrir que a dona fazia parte do comando de greve?

Quando fui lá arcar com os "prejuízos" cobrei minha resposta do documento e finalmente o obtive. Ao olhar no carro a muler reclama que eu quebrei o farol dela. Olhei, liguei seta, luz alta e nada. Abri o capô, mexi nos cabos elétricos e tudo se acendeu. Problema resolvido.

Quando ao pedido, já havia conseguido entregar. A autorização do comando eu vou guardar pra lembrar das prioridades destes "grevistas".

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O que você pensa das eleições? - Parte 2

Charge: Miguel/JC Imagem.

Qual o seu interesse por política?

Você chega nos seus amigos e bota a política no assunto da conversa? (Não vale quando a conversa é numa mesa de bar depois de "n" cervejas).

Não sei a sua resposta, mas quando entro no assunto com outras pessoas elas geralmente evitam ou insistem para mudar de assunto. Acham chato ou temem exaltações por conta de ideologias, entre outras razões.

Neste meu semestre derradeiro na faculdade fiz estágio no CEDOC da UnB e tive contato com arquivos de um Centro que foi criado na década de 80 para fazer estudos para subsidiar a criação da constituição de 88. Entre centenas de publicações acumuladas na época estão guardadas cartas de populares e entidades da sociedade civil que enviaram propostas à Presidência da República para colaborar na elaboração da Carta Magna.Muitas cartas e com um sentimento forte de participação e de pertencimento a um momento histórico único no Brasil.

Infelizmente o comportamento de vossas excelências fez com que este sentimento se desvanecesse no tempo. O povo até saiu às ruas com as caras pintadas para protestar contra o Collor, mas depois de tanta safadeza pensaram que se fossem sair às ruas toda vez que pipocasse mais um escândalo na política iriam ter que fazer isso praticamente todo dia. Aí num círculo vicioso à medida que a passividade das pessoas aumentava, mais este tipo de político passou a se sentir à vontade para tratar a coisa pública como se privada fosse (com trocadilho, por favor).

Hoje quando chega o período das eleições não é mais como antigamente que as pessoas pegavam bandeiras, adesivos, camisetas e o escambau para defenderem os políticos que se queria defender. É difícil achar quem faça campanha por alguém voluntariamente ou por alguma causa ou ideologia - só se ve agora em partidos nanicos de esquerda. Para se obter votos o candidato paga - isso mesmo, PAGA - pessoas para ficar agitando bandeira para ele. É o chamado trabalho eleitoral. Aí a pessoa que é contratada para tal chama um amigo que tá desempregado para ganhar uns trocados cuidando de cavaletes, e esse vai e chama outra pessoa para colar o adesivo do fulano no carro, que chama outra pessoa... e forma uma pirâmide de pessoas que ganham uns trocados, ficam agradecidos ao candidato e acabam enchendo eles de votos. Não precisa ser necessariamente fazendo estas coisas, mas em troca de favores direta ou indiretamente ligados às eleições estão "se vendendo", literalmente.

E pelo fato de a pessoa estar fazendo "algo", acaba ficando como se fosse um emprego, e não compra de votos proprimente dita. Por isso para alguns candidatos não vale mais a pena fazer panfletagem, corpo-a-corpo, debates, comícios, nada disso, o que vale agora é abrir cômitês - um atrás do outro - para poder guardar e distribuir o material de campanha pra não dizer que estão distribuindo outra coisa.

Hoje em dia é um fato, ninguém se elege para ficar rico, pois só se elege quem tem muito, mas muito dinheiro para investir na campanha com estes "novos métodos" de conquistar votos. Porque quem conquista votos deste jeito vai ganhar muito mais quanto estiver no poder.

O pior de tudo é a mentalidade do eleitor moderno, que na verdade age com uma lógica parecida com a da república velha: a pessoa vota naquela pessoa que vai lhe dar mais vantagens pessoais, ou no cara que é o que tá sendo apoiado pelo conhecido que é candidato por outro cargo, ou no cara que sempre ajuda a familia do "cidadão" com alguma coisinha aqui e ali. O que ele fez de errado ou que ele vai fazer pouco importa, ninguém liga mesmo, todos são ladrões mesmo?

Igualar todos num saco só para não parecer que é puxa-saco de alguma corrente dá nisso. Mas também hoje em dia dá até vergonha dizer que se apoia algum político, por cota de como se faz política hoje em dia.

E é por conta disso que políticos com a ficha imunda estão sempre ganhando eleições e se mantendo na frente das pesquisas - até estas passíveis de suspeição. E casos de corrupção nunca abalam tais campanhas.

Pois voto comprado nunca muda de opinião.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Candidatos usam as ferramentas da internet para conquistar os eleitores


Contam até mesmo com perfis falsos para intervir na rede e buscar popularidade entre os seguidores

Ricardo Taffner

Mais um político está te seguindo no Twitter? Alguém te convidou para fazer parte do grupo de um candidato na internet? Um comentário que fez em um blog foi prontamente respondido por dezenas de apoiadores furiosos? Se isso está ocorrendo, você virou mais um alvo dos especialistas em redes sociais das campanhas eleitorais. Dois anos após a eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, com um desempenho virtual de fazer inveja a qualquer político, a web continua sendo uma promessa nas disputas brasileiras.

Livros, manuais, cursos e workshops. De tudo tem sido feito para se ensinar como fazer os candidatos bombarem na rede. As estratégias são aplicadas com o objetivo de cooptar o maior número de eleitores, e de votos. Mas atenção, nem tudo é real. Perfis falsos, números de seguidores inflados, flash mobs* estratégicos e discussões planejadas são algumas das ferramentas usadas pelas equipes virtuais dos candidatos. A atividade se profissionalizou e diversas empresas oferecem os serviços.

Basta fazer a pesquisa em um site de buscas para descobrir algumas “soluções” para popularizar o nome de um candidato na internet. O site Marca Vista Marketing na Web promete aumentar o número de seguidores no Twitter pelo valor unitário de R$ 0,40. Mas a contratação só pode ser feita pelo mínimo de mil seguidores. Para tanto, a empresa envia um formulário a ser preenchido com o perfil do público alvo desejado. “A gente faz uma pesquisa dos concorrentes para avaliar o cenário e do tipo de pessoa que interessa ao cliente”, informa o atendente, por telefone. O negócio é discreto, com a promessa de que ninguém da rede suspeitará sobre a forma de captação.

Pacotes
O site uSocial é um dos mais famosos na oferta desse tipo de serviço. Os pacotes são formados de acordo com as pretensões do candidato. Para adicionar mil seguidores em sete dias na conta do cliente o custo é de US$ 87, equivalente a R$ 152,77. Para se conquistar 100 mil seguidores é preciso ter mais tempo, 365 dias, e dinheiro, US$ 3.479, ou R$ 6.109,12.

Um especialista em campanhas no Distrito Federal explica como funcionam as estratégias eleitorais na rede mundial de computadores. Ele já prestou serviços para políticos brasilienses e prefere não se identificar. Segundo o profissional, as ações são divididas em duas etapas: monitoramento e intervenção.

Na primeira fase, são utilizados programas para identificar onde o nome do candidato é citado. Alguns buscadores automáticos, como o scup, fazem o levantamento nas redes sociais. O site cobra de R$ 500 a R$ 4 mil por mês, dependendo do volume a ser pesquisado. A navegação é simples. Basta cadastrar a palavra-chave desejada e a página retorna em tempo real todas as ocorrências. Uma equipe também trabalha no monitoramento de endereços mais específicos. “Fazemos a varredura permanente de 130 sites e blogs que mais interessam aos políticos de Brasília”, diz o especialista.

A segunda etapa é mais delicada. Depois de identificados a notícia ou o comentário sobre o candidato, pode ser necessário intervir. Essa tarefa é executada por dois tipos de “internautas”. “Pelos militantes voluntários, que atuam de forma orientada e planejada, ou por uma equipe contratada para movimentar a rede com perfis falsos”, afirma o marqueteiro. Segundo ele, é possível criar personagens na web, os chamados fakes, sem levantar suspeitas. “Temos personalidades famosas no Twitter e no Facebook que dialogam com um grande número de usuários.”

A criatividade pode ir além. Em certas ocasiões, os analistas de redes sociais criam verdadeiros debates nos espaços reservados para comentários dos blogs e sites noticiosos. Tanto os textos a favor quanto os contra são elaborados por uma mesma pessoa ou um mesmo grupo, que posta em perfis diferentes para demonstrar a “naturalidade” da troca de argumentos. “É preciso ser muito sutil para não ser desmascarado”, ensina outro especialista. Para encobrir os rastros, usam-se ferramentas para mascarar o endereço IP (internet protocol) do computador, que permite identificar a origem do acesso.

*Flashmobs: Manifestações rápidas e inusitadas de um grupo de pessoas em local público. A ação é combinada geralmente pela internet. Para causar mais impacto, as pessoas deixam o local na mesma velocidade com que chegaram.

Publicado originalmente no Correio Braziliense - 31/07/2010