quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A resistência do Agenor

Convido vocês a compartilhar as fotos de um evento ocorrido ontem.

Trata-se da cerimônia de entrega de ônibus novos (mais uma) ocorrida nesta última quarta em frente ao antigo Cine Karim.

Tanto o governador como o secretariado estiveram lá para colher os dividendos políticos do evento, com discursos questionáveis e outras coisas mais diga-se de passagem.

Colhendo até mais do que deveria, ou poderia, sei lá, afinal as empresas de ônibus são privadas. quem comprou no fim das contas, mesmo com todas as ações do governo, foram os empresários, com o dinheiro deles, não com o dinheiro público (até que se prove o contrário).

Essa história mesmo de que não houve aumento de passagem, tão martelada pelos anúncios e pelos discursos, é ilusória. O ultímo mesmo foi no dia 01/01/2007 - o primeiro dia do governo Arruda - sendo que a passagem esteve congelada por quatro anos em R$ 2,50, contrariando as palavras do secretário-deputado Fraga que disse que havia aumento de passagem todo ano antes deles assumirem.

E se não houve aumento nos ônibus, houve no metrô (de R$ 2,00 para R$ 3,00, lembram?).

Isso porque nem vou entrar no mérito das outras afirmações como a extinção de acidentes graves com ônibus, o ranking das passagens mais caras do Brasil e a idade média da frota (que segundo eles agora é de três anos).

Precisa questionar tais assertivas?

No fim das contas o governo vive de entragar ônibus novo...

Mas o coitado do Agenor não aposenta nem a pau.

Taí o Wagner Canhedo que não me deixa mentir não é?

Não sabe quem é o Agenor? Então clique aqui.

Como gerar um engarrafamento

Três faixas, sem acostamento...

...que de repente viram duas faixas, com ônibus se espremendo entre elas...

...e de repente tudo se afunila em uma faixa só.

A partir daí é pista livre e fim da agonia.

Este post é para homenagear o "jênio" que teve a idéia de fechar as faixas da EPTG em seu ponto mais crítico: o semáforo da entrada do SIA.

Um dia tem 24 horas, metade delas com luz natural do sol (com mais uma hora do horário de verão), e mesmo com toda esta oferta escolheram estreitar as pistas para as obras do viaduto no pior horário que havia, às 7 da manhã.

O resultado foi um megaengarrafamento que fez um percurso de 10 minutos - no caso a travessia do guará - ser vencido somente com mais de uma hora. E no meu caso em particular, levar quase duas horas e meia para sair de Taguatinga e chegar no Plano Piloto. E sem chuva.

Se preparem que ainda hoje tem mais pérolas de nosso transporte.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Termômetros Malucos (II)

Lembram de um post que mostrava a medição sem noção da temperatura por meio dos relógios que ficam nas vias de Brasília?

Pois é, que tal esta agora?


Agora só falta pegar a medição abaixo de zero para completar a série.

Detalhe interessante na foto: Prestem atenção, o céu está nublado.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Calabouços & Dragões*


Em um belo dia de verão, seis garotos vão a um parque de diversões. São eles Hank, Diana, Eric, Sheila, Presto e Bobby. Num dado momento eles entran numa nova atração do parque: uma espécie de trem-fantasma chamado Caverna do Dragão (pra variar Eric está achando um saco). Porém no meio do caminho eles são sugados e caem em um mundo diferente do nosso, onde eles deparam com dragões, ogros, magos, guerreiros e todos os tipos de monstros. Para se defender de todas estas ameaças eles são recepcionados pelo Mestre dos Magos, que entrega a cada um deles uma arma mágica.

Mestre dos Magos

Hank, o mais velho e líder do grupo vira uma espécie de ranger e ganha um arco que dispara flechas mágicas. Eric, que não para de reclamar, ganha um escudo intransponível e vira um cavaleiro. Diana, a acrobata, ganha um bastão que aumenta de tamanho. Sheila se torna uma espécie de ladina e ganha uma capa que a torna invisível. Presto vira um mago (muito desastrado por sinal) que tira vários objetos de seu chapéu. E bobby, o caçula, ganha uma tacape bárbaro que é capaz de demolir qualquer coisa.

A partir daí eles passam a enfrentar uma verdadeira saga para descobrir um jeito de voltar para casa. Quem se tornará um empecilho nesta empreitada será o Vingador. Este mago ambiciona obter as armas dos garotos para aumentar seus poderes a ponto de derrotar a dragoa Tiamat (sim, Tiamat é fêmea) e assim conquistar o Reino. Durante a aventura todos acabam amadurecendo e levando lições para toda a vida.

Vingador

E assim, com esta história, foi criado aquele que foi considerado pelos internautas daqui, tanto por aqueles que frequentam o blog como por aqueles que viram todas as aberturas de desenho que estão no youtube, O MELHOR DESENHO DA DÉCADA DE 80.

Qualidade refinada

Razões para esta preferência não faltam. O desenho realmente tem um tratamento visual diferente da maioria dos desenhos de sua época, algo como se fosse um desenho de excelência. Além disso a história tem enredos complexos e envolventes, utilizando a temática medieval advinda dos RPGs, bastante popular naquela década.

Porém, apesar de tudo isso, a série foi interrompida sem que fosse feita uma conclusão. O desenho era baseado no jogo Dungeons & Dragons e um belo dia a fábrica detentora dos direitos deste precursor dos RPGs fechou, fazendo com que o interesse pela continuação da história arrefecesse.

O sucesso, especialmente no Brasil, suscitou então uma série de finais alternativos, doa quais já não vale a pena mais ficar citando. Ainda mais depois que jornalistas brasileiros consultaram os roteiristas da série e desmentiram todos estes finais que se popularizaram com o advento da internet.

Réquiem

Michael Reaves, o roteirista incumbido de escrever o capítulo final, concluiu Réquiem em maio de 1985 (ou seja, antes do desenho estrear no brasil, no fim do ano seguinte). Hoje o roteiro original está em sua página na internet (em inglês).

No episódio derradeiro, o Vingador propõe ao mestre dos magos um teste para a coragem dos garotos. Se eles forem bem-sucedidos, voltam para casa. Do contrário, morrem. E o anão topa!

Os garotos estão enfrentando uma hidra quando o Mestre dos Magos aparece, porém ele se recusa a ajudá-los, o que causa estranhamento geral. Mais tarde, o Vingador surge e apresenta uma maneira para a turma voltar ao seu mundo: encontrar uma chave escondida e arremessá-la em um abismo. A proposta faz o grupo se dividir em dois (Eric, Presto e Sheila concordam; mas Hank, Bobby, Diana e Uni não confiam no vilão). Após quase morrerem em um vulcão, eles se juntam novamente e encontram a tal chave dentro de um sarcófago com a imagem do Vingador. Ao serem atacados por uma ameba gigante, Eric usa a chave em uma fechadura e salva seus amigos da morte certa. Isso faz o Vingador se transformar em sua forma real (um cavaleiro) e se revela filho do Mestre dos Magos. Com o vilão libertado, os garotos ganham a opção de voltar para seus lares. O episódio termina sem o espectador saber se eles retornaram ou não para a Terra, deixando aí o espaço para uma continuação na temporada seguinte.

E é justamente quando o assunto é uma possível continuação que todos os que estiveram envolvidos no projeto desconversam. De filhotes mesmo (ou irmãos de uma mesma mãe, o RPG) D&D já virou filmes (dois) e até jogo. Hoje o desenho ainda passa na TV Globinho, talvez sem a mesma audiência da época em que era considerado tão top de linha que só passava nos sábados no Xou da Xuxa, mas mesmo assim o culto e a mística da história tem tudo para atravessar gerações e, quem sabe, o sexteto não volte, desta vez atendendo a um chamado do Mestre dos Magos e não acidentalmente.

Para saber mais clique aqui.
Para ver a lista de episódios (com ilustrações) clique aqui.
* E para finalizar, o título do texto é a tradução do nome em inglês (Dungeons & Dragons), mas o que vale mesmo é o nome que todos conhecemos: Caverna do Dragão.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O chopp nosso de cada dia*

Este chopp tá com muito colarinho.

Neste momento são onze horas do dia vinte de outubro do dois milésimo nono** ano da graça.

Estou dentro de um ônibus. Por estes dias meu carro está no conserto para desamassar algumas peças e por isto voltei a utilizar o sistema coletivo da capital federal.

A falta de aparelho de som no meu carro me faz utilizar um celular com caixa de som para tal fim, porém, andando de ônibus, a barulheira e a necessidade de dividir o espaço com outras pessoas inviabilizam tal procedimento então vi a necessidade de usar fones de ouvido. Fui em uma loja lá na rodoviária mesmo e comprei o dito cujo. O que eu não contava é que teria que passar pelo constrangimento de ter que voltar lá mais três vezes por conta de defeitos: primeiro o fone parou de funcionar do nada, depois o seguinte desmontou o acabamento do fone e por fim o botão de atender do terceiro não funcionava. Que ótimo jeito de começar o dia.

O dia ainda me reservou aborrecimentos bem piores do que este, mas não vem ao caso listá-los aqui, um deles em especial a pessoa nem merece consideração, quanto mais que eu gaste este espaço precioso com ela.

Aí vou eu, após o expediente, fazer hora no Conjunto Nacional até a hora de ir para minha aula na faculdade. Parei no Quiosque da Brahma onde uma promoção de dose dupla de copão de 500ml se apresentava tentadora.

Num instante veria os problemas que dão para uma pessoa se ela não sabe degustar o chopp.

Olho pro outro lado do balcão e vejo uma mulher que me olha incessantemente, e sorri. Vou chamá-la aqui de Mariana para preservá-la. Aí ele chama minha atenção e pergunta pra que time eu torço. Logo já estava pedindo para que eu sentasse ao lado dela, mas aí já era visível seu estado de embriaguez. Mesmo assim atendi seu pedido, creio eu, movido pelo desejo de ajudá-la.

Sentando ao lado dela é que vi que a coitada já estava muito, mas muito ébria: ela babava, cuspia no chão, derramava chopp em si mesma tentava fechar o ziper da calça com dificuldade, um estado muito deplorável.

Aí nesta altura do texto você já deve estar criando um estereótipo da mulher que eu estava tentando ajudar não é? Então... neste caso... apague tudo pois vou descrevê-la. Ao contrário do que se pode pensar ela era uma moça jovem, bonita, e de aliança no dedo. mas já estava num estado que já não conseguia falar coisa com coisa.

Tanto eu como outras pessoas que estavam no local tentaram ajudá-la. Apenas eu e um outro senhor que estava lá (que chamarei aqui de Marcos) obtivemos sucesso, e isto foi conseguido porque demos ouvidos ao que ela tentava dizer, assim conseguimos descobrir quem era, onde morava e tudo o mais. os seguranças do shopping já estavam presentes mas preferiram optar pela cautela.

Num dado momento ela deixa o celular cair. Foi a deixa que eu estava esperando para tentar contactar algum familiar que pudesse vir buscá-la. Consegui falar com o cunhado que logo acionou o marido (sim, lembram que eu falei da aliança?) para vir buscá-la.

Porém o shopping fechou e precisávamos retirá-la de lá - tarefa pouco inglória e muito árdua. Tivemos que guiá-la praticamente empurrando para que não tropeçasse e caísse, principalmente para subir a escada, onde a dificuldade triplicou. Fizemos tal trajeto em contato com o sogro pelo celular (usando o fone comprado de manhã, lembram? Afinal eu precisava falar e rebocar a menina ao mesmo tempo) que se informava sobre nosso trajeto com a nora e repassava ao seu filho que estava sem créditos para ligar.

Finalmente encontramos o marido dela próximo à rodoviária. Com muito sufoco conseguimos colocá-la no banco de trás, mesmo com a relutância dela. O marido, já dentro do carro, parecia nervoso com a situação e parecia descontar no Marcos, mas também pode ter sido só impressão minha. Um último contato com o sogro para confirmar o encontro dos dois e a missão está finalizada, debaixo de uma leve garoa que caía.

Da Mariana e do Marcos talvez nunca mais ouça falar, só posso esperar para ela que se recupere bem e que tenha mais cuidado com o que faz.

Qual a lição que se tira dessa história toda? Bom, isso cabe a cada um de vocês. Só digo que presenciar cenas como esta tem muito mais impacto do que qualquer propaganda que venha dizendo no final "aprecie com moderação". Independente disso, seguirei tomando meu chopinho vez ou outra quando as circunstâncias me permitirem, e no fim voltarei na paz, pelas minhas próprias pernas.

*apesar do trocadilho saiba apreciar um bom chopp, de vez em quando apenas.
**sim, 2009º se escreve assim mesmo.

domingo, 18 de outubro de 2009

Pa, pa, pa, paapeeel...

Não, nenhum desses caras é o Morrissey.

Antes de falar do vencedor da enquete surgiu outro assunto, o que indica que esta será a semana de falar de velharias (ou quem sabe o mês).

Domingo à noite, horário de verão recém iniciado, aquela preguiça anunciando a aproximação da labuta diária, etc. etc. Do nada uma música começa a martelar na minha cabeça sem maiores explicações. Build.

Não tá ligando o nome à pessoa? Por conta disso é que pedi a assesoria do nosso assessor (a redundância é de propósito) para velharias em geral, o Seu Ronca, para obter tanto o vídeo como maiores informações sobre a turminha de nerds que aparece no vídeo aí de baixo: The Housemartins.



Por várias vezes que escutei a música dessa banda metida a The Smiths fiquei pensando que depois iria ao computador para esclarecer o que significa "Pa, pa, pa, paapeeel..." - sim, esta música tem o apelido infame de "melô do papel". O caso é que acabou que nunca fiz isso, já que esquecia de ver isso assim que a música acabava.

Mas desta vez estava em casa e no computador, então não havia nada que me impedisse de finalmente decifrar tamanho enigma, enigma este que só poderia ser resolvido recorrendo à letra da música, método que se mostrou pouco esclarecedor.

Então, já recorrendo a Seu Ronca, que me indicou o caminho das pedras, cheguei a um resultado meio que... digamos... decepcionante.

Imagem meramente ilustrativa.

Nota mental: pegar o dicionário de inglês amanhã e ver qual a pronuncia exata da palavra build.

Quem quiser esclarecer mais curiosidades milenares sobre esta banda e esta música clique aqui.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

50 anos de Fantasia Real


Se há alguém que deve ser homenageado por conta da comemoração do Dia das Crianças, esse alguém deve ser aquele que marcou toda minha infância.

Ou seria aquela.

O que eu sei é que com certeza não foi só a minha, pelo menos umas cinco gerações de crianças foram marcadas pelas histórias e aventuras dessa menina gorducha e enfezada, e também pelas de seus amigos, um que fala elado, um que não é muio chegado a banho e outra que come feito uma draga.

Pra falar a verdade essa saga não começou com este quarteto, começou com um cachorro, um bem estranho, de cor azul. Começou com ele e com seu dono, mas isso já é(são) outra(s) história(s).

E bota histórias nisso, já faz cinquenta anos que acompanhamos as aventuras dessa turma em vários meios: quadrinhos, desenhos, filmes, tirinhas, etc. Aventuras essas que já conquistaram o mundo e já são traduzidas para mais de 40 países.

Minha homenagem hoje é para Maurício de Sousa, o homem que deu vida à Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento, Horácio, Piteco, Tina, Rolo, Astronauta, Bidu, Penadinho, Papa-Capim, Pelezinho, entre tantos outros de um universo que se eu for ficar listando aqui vou levar o dia inteiro, mas que encantam as crianças até hoje. E neste ano de 2009 ele está completando cinquenta anos de carreira.

Neste fim de década o universo mauriciano tem dado grandes saltos, o principal deles é o da Turma da Mônica Jovem, que, por mais que as pessoas venham a mim para criticar, conseguiu atender as expecitativas daqueles que, como eu, eram curiosos para saber como seriam aventuras dos garotos adolescentes, e isso sem perder a magia da turma original - foi só acentuar os conflitos naturais de quem vive esta fase da vida.

Desde pequeno que compro os gibis de toda a turma, hábito que ainda tenho algumas vezes. provavelmente pode ter sido o primeiro contato de muita gente com as letras. espero inclusive que meus filhos também se iniciem com as historinhas da Mônica, historinhas que alimentam também o companheirismo e a fantasia da petizada.

Meus desejos de que Maurício, que irá completar 74 anos no próximo dia 27, ainda possa levar a turminha para cada vez mais longe, para alcançar cada vez mais crianças do mundo inteiro.


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Rock'n Roll Doctor

Ilustrações (geniais) do colega Pablo Gomes.

Jimi Hendrix

Ozzy Osbourne

Gene Simmons

Para conhecer mais do seu trabalho clique aqui.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O Santinha e a resistência

Foto: Inácio França

Por Alexandre Gois de Victor, Advogado

O produto do coração de três cores de Capiba, nascido Lourenço da Fonseca Barbosa, aparece em coro uníssono masculino e, sobretudo, bem afinado. São vozes de timbre grave, que entoam numa crescente o já tantas vezes bradado: "Santa Cruz, Santa Cruz, junta mais essa vitóooria, Santa Cruz, Santa Cruz, ao teu passado de glória. És o querido do povo o terror do Nordeeeeeste(...)"

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A grandeza do compositor e o tom guerreiro do hino, tomado por adoção pelos tricolores, apareceu-me no último sábado. Deitado no sofá de casa, lendo Antônio Maria, ouvi o que mais parecia ser um trio elétrico. Era volume para ninguém botar defeito. Olhei de lado e vi pela janela um camarada percorrendo o calçadão da Avenida Boa Viagem empurrando uma carrocinha, tipo daquelas de raspa-raspa. Para não fugir muito à nomenclatura de seu ofício, o cabelo do sujeito era raspado nas duas laterais da cabeça. Era aquele penteado à la moicano, com a diferença de que a parte da frente do cabelo era preta, no meio descolorida (o que de longe dava a ideia de ser branca) e, a de trás, vermelha. Camisa e short, obviamente, padronizados. Semblante fechado como quem vai para a guerra. Se duvidar, os dentes deveriam trazer consigo as três cores de sua bandeira. A carrocinha era um viveiro de entulho, pinturas e adesivos, todos tricolores, o que parecia deixar transparecer um sonho do futuro sonhado por Andy Warhol.

Não bastasse a cena, de metro em metro, no momento em que o coro, repetida e reiteradamente executado, exaltava o nome do seu time, o camarada estendia o braço direito com o punho fechado e baixava um pouco a cabeça como quem faz um gesto de reverência a uma entidade superior.

Além desse gesto do punho, vi que se tratava de um rapaz negro e, também por isso, lembrei-me, de imediato, dos Panteras Negras Tommie Smith e John Carlos, que foram banidos das Olimpíadas da Cidade do México por conta da saudação black power que fizeram no momento de premiação daquele evento. E assim o gesto de resistência ficou cravado na história.

O nosso emblemático vendedor de raspa-raspa é, de certa forma, o símbolo da resistência do Santinha. Penso que esse exercício continuado e coletivo de resistência e abnegação dos tricolores será lembrado um dia. Num dia em que o clube voltar às disputas de elite e às conquistas, em momentos opostos ao calvário e a via crucis que vive. Aí quem sabe o vendedor de raspa-raspa feliz feito pinto no lixo, mesmo sem esquecer o passado de dificuldade, abra o sorriso para que possamos, assim, ver o preto e o vermelho pintados de forma alternada entre os seus dentes.

Ah, sim... antes que os "amigos" destilem seu veneno acusando-me de defender time alheio deixem-me fazer uma consideração final. Não sou torcedor do Santinha, tampouco vou sê-lo, só não lhe quero mal. Na verdade, em matéria de futebol, só torço em duas situações e para times diferentes. O Náutico, sempre, e contra a coisa (também conhecida como Sport) eternamente.

Texto publicado no Diário de Pernambuco do dia 28 de setembro de 2009.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Não vai ser aqui


Agora que os ânimos midiáticos se arrefeceram com relação à escolha do Rio de Janeiro para ser a sede das Olimpíadas de 2016 acho que posso escrever alguma coisa sobre o fato. Ainda quero conhecer melhor o projeto de preparação para as olimpíadas só para ver onde entrarão os projetos de infraestrutura.

Mas uma coisa salta os olhos e muita gente já passa a se perguntar, por que esta insistência em que a sede de todo e qualquer evento deste porte seja obrigatoriamente no Rio de Janeiro? É um dado até interessante para uma candidatura que usou como argumento o ineditismo de uma olimpíada na América do Sul mas que nega o ineditismo de qualquer coisa para o resto do país.

Olhem os EUA: segundo os brasileiros que estavam em Copenhague aquele país já havia sediado olimpíadas demais (foram quatro vezes), porém as mesmas foram em Saint Louis, Atlanta e duas vezes em Los Angeles, já no Brasil se houvesse dez oportunidades de sermos sede, nas dez ela seria no Rio. Há concentrações semelhantes - Londres vai sediar o evento pela terceira vez em 2012, porém compare o tamanho do Reino Unido com o do Brasil - o certo seria comparar com países com dimensões e diversidade semelhantes a nossa como os próprios EUA e a Espanha, que levaram a candidatura de Chicago e Madri, lugares que nunca receberam jogos deste porte.

Não sei se esta poderia ser uma explicação para tamanha concentração, mas toda a estrutura esportiva brasileira se concentra no Rio de Janeiro, independente do esporte. Só para tomar os dois esportes mais populares do Brasil, o vôlei construiu seu centro de treinamento... no Rio. O futebol está construindo sua nova sede e seu novo centro de treinamento... no Rio. A única exceção que conheço é a Ginástica Artística que tem centro de treinamento em Aracaju. Quem tiver maiores informações sobre outros exemplos de concentração (ou exceções) pode colocar nos comentários.

Outra pergunta que se faz é: O COB se faz presente em algum outro estado que não seja no Rio de Janeiro? O COB promove alguma coisa, qualquer que seja, fora do Rio de Janeiro? Há desenvolvimento de atletas olímpicos fora do Rio de Janeiro? Sim, pode-se dizer que há em São Paulo (a cidade, bem mais que o estado), mas fora isso pode até ter alguma coisa mas alguém ouve falar?

Depois reclamam que um país deste tamanho ganhe poucas medalhas em olimpíada, se formos parar pra pensar, ganha o proporcional ao tamanho do território onde acontece essa concentração, ou seja, do Rio e de São Paulo (as cidades, não os estados).

Se querem deixar mesmo um legado para o Brasil (e não só para o Rio) o maior de todos seria usar os jogos para promover atividades esportivas e garimpar valores em todos os pontos do Brasil, desenvolvendo estrutura desportiva suficiente para que isto aconteça. Ganhamos uma oportunidade única e não podemos desperdiçá-la como foi feito no Pan, que por falar nisso, pareceu que foi realizado muito mais para dizer que o Rio podia receber uma olimpíada do que para promover o esporte no país. Mas ao que tudo indica mais uma vez o egoísmo vai prevalecer em pindorama e a Olimpíada será usada pra transformar o Rio em sala de estar para turistas, escondendo o resto da cozinha e da área de serviço, leia-se o resto do Brasil (menos São Paulo, esse pode ficar como escritório).