quinta-feira, 18 de março de 2010

Estrela pioneira - parte 2

Este aqui era bem melhor.

Como falei no texto anterior, há aproximadamente 23 anos atrás (no longínquo 1987) fiz uma viagem na mesma rota da de duas semanas atrás (AJU-SSA-BSB), só que na ocasião o modelo de aeronave era semelhante ao da foto aí de cima - um 727-30F da Varig.

Quanta diferença, a gente saía da aeronave com vontade de voltar pra dentro na mesma hora. Não tinha incômodo no ouvido que fizesse a gente se sentir desconfortável lá dentro. Era serviço de bordo de qualidade - e era comida, de verdade. Os comissários esbanjavam simpatia e cordialidade, enfim, coisas que encantam qualquer ser humano. E não sei se podia ou não, pois só tinha cinco anos, mas será que podia levar os talheres pra casa? Se não podia já foi, e destes só sobrou a faca, guardada numa gaveta do armário da cozinha até hoje com o simbolozinho da Varig no cabo, reluzente.

Digite "Varig" no Vocetubo e vocês verão quantos vídeos existem enaltecendo a companhia e sua história, mesmo que tenha alguns capítulos nebulosos como o do fim da Panair. Independente disso a companhia gaúcha sabia como ser imponente e como se apresentar como um símbolo de orgulho nacional, tal como acontece (ou acontecia) com Air France, TAP, Iberia, Swissair, Lufthansa e Alitália em seus respectivos países só para citar alguns exemplos. Também havia a sua identidade visual, que evocava de imediato o eterno sonho do ser humano de voar pelos céus, simbolizado pelo símbolo do Ícaro estampado na parte lateral da lataria.


Eu sinto saudade sim, e não escondo, deste período que citei no texto anterior (de 70 a 90). Naquele ano de 1987 mesmo a Varig completava 60 anos de existência, e por conta disso havia uma campanha publicitária pesada e maciça para celebrar a data, além do recém criado Variguinho, do qual tive vários gibis. Some-se a isso o ano ter sido escolhido o Ano Internacional do Turismo e teremos uma combinação perfeita para quem brilhava os olhos na hora de viajar. Minha experiência na época se limitava ao ônibus, imagina o choque com o contraste do tratamento quando não se está acostumado a ser tão bem tratado.

Mesmo em sua fase moribunda este estilo não cessou. Foi possível até mesmo um comparativo entre Varig e Gol enquanto coexistiram como empresas diferentes. Era evidente que a Pioneira se adequava aos novos tempos mas a dedicação ao passageiro estava ali, e esteve até mesmo um pouco depois da junção das duas empresas.

Tive inclusive o prazer de voar no dia de sua "despedida", em junho de 2006, e digo que viajei sem maiores problemas e de maneira agradabilíssima, por mais que tivesse havido vários problemas com a companhia naquele dia. Por isso o que senti não foi um "adeus" como sentiram os passageiros de Vasp e Transbrasil, foi um "até logo".

Isto é tão mais caro do que barrinha de cereal? Nem deve dar tanto trabalho pra levar dentro do avião.

Quando a Varig quis se adequar já era tarde, as dívidas já eram imensas e a empresa, que corria sério risco de apodrecer como suas antigas contemporâneas, acabou sendo resgatada pelos Constantinos para sucumbir nas mãos da Gol.

Minha torcida é para que a Gol perceba o potencial da marca e procure reativá-la concretamente, e de preferência utilize-a unicamente, principalmente se quiser expandir sua malha internacional - a própria Varig sentiu a força do seu nome quando inventou de mandar aviões da Cruzeiro para os Estados Unidos certa vez. Seria também interessante que, não só a Gol que é a dona da marca, mas todas as atuais companhias revejam algumas das políticas de diminuição de custos em prol da fidelização e identificação dos passageiros (e satisfação, claro), não precisa ser muita coisa, apenas o suficiente para que as pessoas voltar a voar mais por prazer e menos por obrigação, para isto basta trabalhar o atendimento, a cordialidade e a alta qualidade, mesmo que seja só aparente, ou seja, mostrar um mínimo de seriedade no trabalho como se fazia antigamente. Só preço não fideliza ninguém, só faz o povo correr pra onde está a promoção da vez.

Garanto que se a estrela brasileira voltar a voar pujante e firmemente, uma quantidade enorme de saudosistas correrá para os aeroportos para sustentá-la no ar, como o nosso recém desencarnado Glauco retratou.

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