segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Orkutização (ou “O preconceito sobre a inclusão digital”)


Do site Web Diálogos.

Já tem certo tempo que essa não me entra, mas não importa o período, não importa o grau de instrução, sempre escuto alguém falar que o Twitter e o Facebook estão sofrendo uma “Orkutização”.

Existem dois pontos de vista. Um preconceituoso e outro mais preconceituoso ainda. Um relata o movimento em que os usuários do Orkut começam a descobrir outras redes sociais (usadas majoritariamente pelas classes A e B no Brasil); o outro é o desprezo por esse movimento. Basta dar um click aqui e observar o que estão comentando.

De qualquer forma, a orkutização é geralmente vista do ponto negativo, como se “as massas” menos favorecidas estivessem “invadindo” um território virtual (qualquer comparação com a invasão das favelas não é mera coincidência). Entretanto, essa análise deve ir um pouco mais fundo e levantar o seguinte questionamento: desde quando o orkut se tornou “orkutizado”?

Lançado em 2004, a principio o serviço só funcionava em inglês e logo se tornaria reduto das classes A e B do Brasil. Mas a “orkutização” do Orkut começaria em Abril de 2005, quando o serviço ganhou uma versão brasileira. Percebamos: a orkutização trata-se, na verdade, de uma “Brasificação” do serviço, na verdade. E como as pessoas vêem isso como uma coisa negativa?

O senso de exclusividade que levou, na verdade, à “facebookização” dos usuários das classes A e B do Orkut. Estamos vendo, na verdade, um fluxo de fuga, de escape, não um fluxo de chegada ou de encontro. O verdadeiro fenômeno está na saída dos usuários do Orkut para o Facebook e para o Twitter. Pergunta: quando o Facebook e o Twitter terminarem de se “orkutizar”, será que os usuários antigos migrarão novamente?

Devemos pensa lembrar que a internet “carrega em si a premissa de ser um meio capaz de incluir e abranger todas as expressões culturais, justamente por ser uma rede global de acesso aberto num sistema em que a mente humana assume o poder de produção.”(Castels, 2002). Pierre Lévy (2007) defende também que as tecnologias de Inteligência Coletiva não seriam privilégio das elites, uma vez que os meios seriam democratizados pelos baixos custos de produção e pela facilidade de uso. Devemos parar de ver a “orkutização” como um acontecimento ruim. Para mim, o ruim é a “facebookização” e “twitização” dos usuários antigos.

Um comentário:

  1. Clébio, essa discussão é interessante. Em certa parte, um comportamento da sociedade sendo reproduzido no ciberespaço. Chega até a ser engraçado. De fato, de uns tempos para cá, ando percebendo um montão de brasileiros que estavam só no Orkut ou nem no Orkut entrando no Facebook. Alguns dizem que o Orkut virou muito "povão" e outras coisas do gênero. Acho isso meio ridículo...qual é o problema?

    O meu caso de estar frequentando mais o Facebook é um pouco diferente. Como você sabe, metade de minha família é estrangeira. Tenho também amigos e contatos em diferentes países. E a quase totalidade dessas pessoas todas, incluindo primos, não estão no Orkut. Orkut é frequentado majoritariamente por brasileiros...entrei no Facebook então para, em certo sentido, "colocar-me no mundo". Por isso até que por ali eu escrevo mais em Castelhano, às vezes em inglês, do que em português. Inicialmente, meio que dividi "minha galera": estrangeiros no Facebook e brasileiros no Orkut. Porém, claro que não barraria os brasileiros que quisessem entrar em meu Facebook :)

    Esse assunto tem um pouco a ver com minha área de pesquisa. Vi que é de teu interesse também. Quem sabe um dia não fazemos um artigo acadêmico juntos?

    Beijão

    Sil
    esquinadasil.blogspot.com

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