quarta-feira, 1 de julho de 2009

Real 15 anos

Última cédula de Cruzeiro Real
Uma cédula de CR$ 50.000,00 equivalia a R$ 18,18 em 01/07/1994 - Fonte e imagens: BCB

Se não fosse o Rafael a comentar provavelmente esta data passaria em branco. Neste dia primeiro de julho o Real completa quinze anos como moeda corrente do Brasil. E se a data passa quase esquecida, o país daquela época e a nossa relação com o dinheiro, ah, essa anda mais esquecida ainda.

Eu tinha doze anos na época da implantação do Real. Não era de receber mesada - quando queria comprar alguma coisa tinha que contar com a disposição do meu pai para me prover monetariamente. Tal procedimento vinha desde que eu me entendia por gente e a moeda da época ainda era o cruzado ("bons" tempos do Sarney e do Bresser), desde então me habituei a pedir dinheiro pra compra balinha, chocolate, figurinhas, jogar vídeo-game (pois é, quem não tinha em casa ia jogar na locadora), etc, tudo picado. Como era comum pedir a conta certa, mais comum ainda era voltar alegando que "o preço aumentou", tendo então que pedir a diferença para comprar o que eu queria.

"O que significa isso?", perguntarão os mais novos. Já os mais velhos vão lembrar muito bem e até vão dar risada. As coisas naquela época não dificilmente aumentavam de preço todo mês, ou até em menos tempo dependendo, ou seja, se uma coisa custava digamos Cr$ 200,00; no dia seguinte poderia estar custando Cr$ 220,00; no outro mês Cr$ 250,00 e assim por diante.

Lembro que a quantidade de dinheiro que até hoje considero com a maior que já achei na rua foi de CR$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros reais) em três cédulas de CR$ 5.000,00 (aquela que vinha o gaúcho). Não me lembro exatamente o que comprei com o dinheiro mas sei que deu pra bastante coisa.

Aí naqueles tempos de Sunab anunciaram a criação da tal da URV: o primeiro passo para a adoção da moeda que acabaria de vez com o dragão da inflação. A cada dia o seu valor era modificado e anunciado no Jornal Hoje junto com outros índices monetários (dólar turismo, comercial, paralelo; Bolsa de SP e do RJ; valor da grama do ouro; etc.). Já foi o primeiro passo, o segundo seria dado no tal dia 01/07.

Quando chegou a tão aguardada data estávamos no meio da Copa do Mundo. O primeiro contato que tive com a nova moeda não foi com uma moeda, mas com uma cédula, e logo a mais simbólica de todas: a de R$ 1,00 que aparece aí em cima e que hoje jaz no céu das cédulas fora de circulação. Como a nota chegou até mim? Pedindo pro meu pai claro, e provavelmente pra comprar Skiny - havia uma coleção de figurinhas da copa que vinha dentro do saquinho na época.

Hoje temos uma economia calminha e nossa maior preocupação monetária é o sobe-e-desce do dólar. O ministro já não é mais o homem que aparece mais do que o presidente e a poupança deixou de ser o principal produto que os bancos oferecem. As história daquela época da qual hoje achamos graça serve de "lastro" para que valorizemos estes tempos de estabilidade.

A curiosidade final é que não temos mais os Fiscais do Sarney como na década de 80, agora o povo quer é botar ele, que é o símbolo maior da escalada inflacionária, pra fora do senado. Como o mundo dá voltas não é mesmo?

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Para quem quiser conhecer as cédulas antigas de Cr$, NCr$, Cz$, NCz$ e CR$ o Banco Central possui uma página legal com imagens de todas as cédulas e moedas fabricadas de 1942 até hoje. Vale a pena fazer uma visita.

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