segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Agora lascou tudo

Ernesto Silva

Na semana que se passou Brasília sofreu uma baixa irreparável, e tão perto de seu cinquentenário: faleceu o Doutor Ernesto Silva. Pioneiro da cidade, foi um dos grandes defensores da nova capital contra toda tentativa de agressão efetuada que ameaçava desfigurar o sonho dos primeiros candangos de efetivar a capital da esperança.

O momento de sua partida não poderia ter sido mais emblemático. Enquanto Doutro Ernesto era recebido no céu, aqui na terra tinha gente sendo presa por subornar testemunhas da Operação Caixa de pandora - que diga-se de passagem é um dos capítulos mais negros da história da capital que ele tanto defendeu.

No mesmo momento ensaia-se vaias para a passagem da escola de samba Beija-Flor pelo fato da mesma estar homenageando Brasília. Claro que por trás está a mágoa do carioca por ter perdido o status de sede da república mas também há o estigma de lugar que abriga políticos corruptos, agora ainda mais simbolizado por panetones e dinheiro na meia. Ainda bem que quem vai apresentar o enredo é a escola queridinha da Globo.

Mas a questão que é mais inquietante é: com a partida do Doutor Ernesto quem vai ser capaz de representar, defender e contextualizar o sonho de Juscelino e de todos aqueles que viveram a epopéia da construção. Ouvi dizer que no dia do velório muitos ligados a ele se prontificaram em defender o seu legado, mas duvido que algum deles tenha vivido o contexto histórico no qual os pioneiros se inseriam. Só para se ter uma idéia, Doutor Ernesto fez parte da Comissão da Localização da Nova Capital Federal, isso em 1953(!).

Capa do jornal Última Hora de 22/04/1960.

E enquanto isso cada vez mais lama entra nos prédios públicos de Brasília. Essa do suborno é so mais um daqueles capítulos em tudo é deplorável, independente de ser verdade ou armação. Se for verdade pior para o Arruda, se for mentira pior para o Roriz - Tem para onde fugir?

Só espero que possamos aproveitar o ano em que as comemorações dos 50 anos e as eleições estarão juntas para podermos trabalhar num exercício de reflexão sobre o modo como lidamos com a coisa pública e zelamos pela nossa cidade, assim como Doutor Ernesto fazia.

2 comentários:

  1. Clébio,

    Em minha opinião, a construção de Brasília foi um erro... Ainda que bem intencionado, JK tinha o fogo do populismo, e embora reconheça o seu valor enquanto figura histórica (ele aproveitou e soube catalizar a onda de esperança dos famosos anos dourados, o populismo foi cimentado por ele.

    Mas voltando rapidamente ao tema: Foi um erro. Gastos demais, isolamento do Centro (leia-se centro intelectual e econômico - Rio e São Paulo), uma cidade projetada - belamente diga-se - para abarcar a máquina estatal, mantendo-a longe do bafo quente da opinião pública (estou falando sob a perspectiva dos anos 50 e 60).

    Depois, todo o glamour aos arredores onde estão situados os "três" poderes (não sei bem como vocês chamam ) e as cidades satélites imersas em falta de estrutura, condenadas ao abandono e etc. Bolsões de Pobreza.

    Mas o seu lamento pela morte do Cidadão Ernesto é digno.
    O Brasil virou o paraíso dos cleptolunáticos, pessoas possessas por demônios obscuros, ávidos tal ave de rapina que não se sacia com o primeiro bote.

    Inté.

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  2. Falei, falei e não disse o mais importante: Que Dr. Ernesto descanse em Paz.

    Silvio

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