quarta-feira, 17 de março de 2010

Estrela pioneira - parte 1

PP-GTU: Até a cor é semelhante.

Seguindo com a temática do dia do consumidor relato aqui a minha última viagem de avião. Foi no avião Gol PP-GTU, um 737-800 que fazia o voo 1715 (Aracaju - Brasília com escala em Salvador). Curiosamente, há quase 23 anos atrás fiz a mesma rota, só que num 727 da Varig semelhante ao da foto acima.

Quem já viajou de Gol sabe bem como é sofrida a viagem. Poltronas duras e muito juntas e que devem reclinar uns 5 centímetros só para dizer que reclinam, pessoas altas como eu sentem inveja das sardinhas. Comissários que atendem com cara fechada e que passam as instruções de voo com a cara nítida de quem já está de saco cheio de fazer aquele ritual toda santa viagem. Um serviço de bordo que era melhor nem servir pois só atiça mais a fome de quem fica mais de três horas sentado sem fazer nada - bolachas salgadas, um cookie e um copinho de refrigerante, tudo com aspecto de amostra grátis de supermercado.

O lema de empresas aéreas hoje em dia, traumatizada por conta de anos de crise no setor, é: cortar os custos ao máximo. Abaixo listarei algumas práticas comuns em empresas que seguem a linha semelhante a da Gol:
  • Renovação constante da frota de aeronaves. Veículos antigos passam muito tempo e gastam muito dinheiro em manutenção, além de neste período estarem paradas, ou seja, sem gerar o lucro das passagens;
  • Padronização da frota, com a utilização geralmente de um único modelo de aeronave (no caso da Gol, 737-800), o que retira a necessidade de mecânicos especialistas em diversos modelos, sem falar nas compras de menos peças;
  • Eliminação da separação por classes, Lênin mesmo dizia, uma classe só simplifica tudo, e sendo todo mundo proletário dá para socar o máximo de poltronas que cabe dentro do avião, ou seja, mais passagens e mais dinheiro;
  • Simplificação do serviço de bordo, o que diminui os custos com alimentos (o que é mais barato, uma barrinha de cereal ou um PF por mais simples que seja?) além de dispensar as cozinhas dentro do avião, dando espaço para mais poltronas.
  • Nada de reservas, se quiser garantir lugar no voo tem que pagar, senão vai ficar no chão;
  • Em vez de rotas muito difusas ligando pontos muito perdidos e com baixa demanda, rotas troncais com conexões se for necessário.
Estas e outras medidas podem gerar uma economia de até 40% nos custos de operação da empresa, o que deve ser considerado do ponto de vista administrativo e que, por conta disso mesmo, é difícil de querer argumentar contra pois permite baixar preços e gerar mais lucros, uma das premissas básicas do capitalismo.

Este tipo de prática é até certo ponto compreensível e até louvável, e quem não se adequou a este novo tipo de gestão sucumbiu como foram os casos de Transbrasil e Vasp (se bem que na segunda a incompetência vai muuuito além disto). Porém algumas destas novas práticas são um pouco exageradas, beirando ao desrespeito e denotando que o importante atualmente não é mais fidelizar o cliente mas ganhar dinheiro a todo custo, e a todo custo MESMO como deu para perceber na descrição da viagem acima. Não custa nada eliminar umas quatro ou cinco fileiras (dá o quê, uns vinte e poucos lugares?) só para aumentar o espaço interno e permitir a colocação de poltronas que reclinam de verdade, além de um serviço de bordo mais atencioso e que sirva algo bem mais substancial (que também não precisa ser uma refeição como era antigamente), além de outros atrativos para fazer com que o cliente se sinta atraído e identificado com a empresa, para até mesmo voltar a ver os passageiros "nesta ou em qualquer outra aeronave da companhia" com mais satisfação.

Viajar de avião, mesmo para quem o fazia com frequência independente do motivo, era considerado um momento especial, tanto que até hoje o setor é visto com um certo glamour, só que o que é idealizado nem de longe se assemelha com o que vemos hoje em dia, e por conta de estar cansado de viajar espremido dentro de aeronaves de empresas comandadas por capitalistas que acham que tranportar gente num avião da Gol ou num ônibus da Planeta é tudo a mesma coisa é que estou fazendo este texto num tom de protesto.

As aeronaves atuais por mais modernas que sejam fazem a gente sentir saudades dos tempos que para muitos são considerados os áureos da aviação brasileira, que compreende o período entre a década de 60 até início da de 90, período do início da derrocada. Foram tempos áureos e que tive a sorte de pegar parte dele mesmo que aos 45 do segundo tempo. E é sobre estes tempos que vou entrar em maiores detalhes no próximo texto.

Se for para andar espremido é melhor viajar no onibusinho que leva a gente até o avião.

2 comentários:

  1. Pois é...tem que fazer economia? OK. Mas economia de sorrisos e gentileza também? Aí é demais...vc viu o texto sobre o piloto da Taca que postei dias atrás em meu blog?
    Beijão!

    Sil
    esquinadasil.blogspot.com

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  2. Li o texto mas não vi o vídeo pois aqui no trabalho o Vocetubo é bloqueado, e lá em casa o PC tá uma lástima, mas agora você me deixou curioso, vou catar uma Lan House por aí pra conferir.

    Abraço

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