sexta-feira, 23 de julho de 2010

O adeus da Rodoferroviária

Perto da aposentadoria.

Vou me permitir falar de você com a intimidade de quem conviveu com você por tantos anos, por mais tempo do que muita gente que julga merecer atenção.

Lembro de seus primeiros momentos. Você apresentava o viço daquelas que queriam se apresentar úteis e eficientes. Aí os anos foram se passando e a relação com o público foi se desgastando, fazendo com que todos passassem a te ver com maus olhos, como se você fosse alguém desprezível.

Agora falando dos momentos que passei.

Quando era novo você era sinônimo de viajar, e viagem para mim sempre foi sinônimo de diversão, aventura, descobrir lugares novos. Naquela época se embarcava no subsolo, coisa que acho que só acontecia aqui em Brasília, e desde aquela época havia uma característica marcante: os ônibus parados em fila, tendo que balizar para estacionar.

Rodoferroviária na década de 80.

Aí passou a ser proibido parar no subsolo (muita fumaça em local fechado) e os ônibus passaram a parar em cima, onde os trens, agora desativados, paravam. Mesmo assim você não perdeu esse ar de inovadora.

O tempo passou a cobrar tanto descaso que tiveram contigo, e muitas modificações aconteceram para adequá-la do jeito que desse ao novo milênio. E foi neste novo milênio que despertei para um novo passatempo: a busologia Conheci pessoas que cultivavam o mesmo gosto peo ônibus (vai saber se não foi por conta de teus tempos áureos também). E onde foi que este grupo começou a se reunir? E qual era o local preferido para este mesmo grupo se encontrar sempre. Era comum aproveitar s sextas de grande movimento para contemplar os novos ônibus que você recebia.

Construiram um novo prédio para te substituir. Lá cabem mais ônibus e tudo cheira a modernidade. Mas lá nunca haverá o charme que tu tiveste na década de 80 e parte dos 90.Além disto a estrutura lá montada mostra o descaso e o desinteresse deles com o transporte no Brasil, fazendo um terminal em que se vê várias estruturas com cara de "feita de qualquer jeito" e que com o tempo cobrarão por terem sido feitas às pressas. Você não, mesmo não sendo perfeita (onde já se viu ônibus embarcar de lado?), tens a grife de Oscar Niemeyer, poucas edificações no mundo podem se orgulhar disso.

Hoje fecharás tuas portas para os passageiros, mas saiba que os momentos passados ficarão para sempre na memória e nas tantas fotos tiradas ao longo do tempo.

E saiba, em seu dia derradeiro, que Brasília não deixava de receber dignamente seus visitantes por tua causa. A culpa é daqueles que se omitiram de cuidar de ti.

Agora descanse Rodoferroviária, você merece.

Rodoferroviária em seu último dia de trabalho.

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