terça-feira, 28 de julho de 2009

O descaso e a perda


Qualquer um sabe: o ser humano não sabe dar valor ao que tem. Até uma máxima já foi cunhada a respeito - Só damos valor às coisas (ou mesmo às pessoas) quando as perdemos. E não é por falta de exemplos, demonstramos isso no nosso dia-a-dia até mais vezes do que imaginamos, é só parar para prestar atenção.

O exemplo mais clássico disso é o de quando morre alguém, seja alguém próximo ou distante. Mãe é que gosta de dar este exemplo quando a contestamos alguma vez ou quando cogitamos sair de casa, principalmente por motivos de desentendimento, e aí tome terrorismo pro lado dos filhos - "Ah, você só vaí valorizar depois que eu morrer e blá, blá, blá...". Mas isto não acontece só com quem está perto da gente, é só você pensar o seguinte,alguém lembrava da existência de Michael Jackson antes do dia 25 do mês passado? Alguém ainda ouvia as músicas dele antes do dia 25 do mês passado? Alguém sabia que Michael tinha um canal no Youtube antes do dia 25 do mês passado? E por aí vai, excetuando aqueles que eram fãs mesmo, pra maioria Michael estava ultrapassado.

Agora vamos passar para o lado do consumismo. Atire a primeira pedra quem nunca ficou dias namorando algum produto visto no shopping num período de vacas magras e quando finalmente comprou acabou encostando a "conquista" num canto. Roupas são as maiores vítimas deste descaso, mas este comportamento já se manifesta desde pequeno - ou será que você já esqueceu daqueles brinquedos que pedíamos ardorosamente no Natal e abandonávamos num canto depois de tanto brincar, ao mesmo tempo que perguntávamos quanto tempo faltava pra chegar nosso aniversário.

Pois é, o aniversário, ou qualquer próxima data pra se ganhar outro presente para substituir aquele do qual já enjoamos, é a data onde passamos a desejar outra coisa, talvez o brinquedo que o vizinho ganhou e que achou mais legal do que aquele que você alugou seus pais um tempão pra comprar. E não é porque crescemos que este comportamento acaba, pelo contrário, quem nunca achou o quintal do(a) vizinho(a) mais florido do que o nosso? Quem nunca achou que o emprego do(a) colega era melhor que o nosso? Quem é que nunca achou a mulher(marido) do próximo mais bonita(o) do que a(o) nossa(o)? É amigos, tudo que é do outro é melhor até que passe a ser nosso, aí fica ruim. É a inveja que cega a gente.


E não é só o concreto que recebe nosso descaso, o abstrato também. Já percebeu que quando alguém chega pra gente dizendo que está a fim acabamos ficando com um pé atrás? Isso acontece por conta de outro defeito do ser humano: minimizar aquilo que ganhamos "sem esforço", "de graça". Todo homem é a fim daquela menina que é a mais bonita (e a mais desejada) do pedaço, mas se acontece de ela começar a "dar bola pro cara" ele logo deixa de dar valor a ela, acha "fácil demais". Agora troquemos a menina bonita por aquela mais comunzinha, aquela que ninguém nota - fatalmente vai acontecer a mesma coisa ("fácil demais"), mas um belo dia um outro cara se interessa por ela e os dois começam a namorar, aí vem aquela sensação de perda com a frase "poxa, até que ela é bonitinha".

Pra finalizar tem aqueles objetos que não conseguimos e, por conta disso, logo diminuímos. Isso te é familiar? Sim, a raposa e as uvas. Se a raposa não consegue alcançá-las logo diz que elas estão verdes, mas se logo depois chega outra raposa e as alcança ela logo esquece o que disse e volta até com mais vontade pra tentar pegar, mesmo que depois ela descubra que uva verde é azeda.

Inveja, orgulho, luixúria, vá lá saber o que conduz este tipo de comportamento, mas que de certa forma é nocivo é.

Tem remédio este tipo de comportamento? Deve ter, não sou psicólogo para solucionar com eficácia este problema, mas posso propor um exercício mental. Quando desejarmos alguma coisa ou alguém façamos um esforço para não cairmos na tentação de visualizarmos um troféu a ser conquistado, ou seja, almejarmos algo apenas por ser difícil conquistá-lo. Vejamos um notebook que porventura estejamos loucos para comprar, tente analisar os pormenores do objeto para minimizar aquela sensação de "não devia ter comprado isso" que vem depois, afinal de contas você realmente anda precisando comprar um notebook ou só quuer comprar porque todo mundo está comprando?

Isso vale também para quando nos, er..., apaixonamos: aquela menina bonita e que se faz de difícil pode acabar virando uma grande furada - vocês podem ter gostos conflitantes que acabem por tornar insuportável um convívio futuro. Mas como em coração na maioria das vezes não se manda, aí já vai passar a ser outra história...

2 comentários:

  1. Clébio, achei interessante a frase que você postou em meu blog: "Aliás, hoje as pessoas se identificam mais com o estado de origem do que com o país Brasil, ou então com o time de futebol".

    Acho que isso acontece com muita gente sim. O estado de origem acaba, digamos, tendo "mais valor" (me faltou aqui a expressão exata, mas acho que deu pra entender, eheh)que o próprio país. Time de futebol então, nem se fala, eheheh...

    E tem outra: há gente que só engrandece o Brasil, como se aqui fosse o país mais lindo do mundo, como se tivéssemos o entardecer mais bonito e outras besteiras do gênero. Qualquer um com o mínimo de inteligência sabe que há coisas impossíveis de serem medidas (como medir o entardecer mais bonito? Com uma régua, por acaso? Ehehhe. Brasil provavelmente está entre um montão de países com mais belezas naturais, por exemplo, mas daí a afirmar categoricamente que é o mais bonito de todos é complicado). E há outros que caem no oposto de achar que aqui só tem desgraça...baaaaah...

    Em qualquer país há vantagens e desvantagens (se bem que esses dois termos já são "perigosos" de usar, pois podem cair no subjetivo de cada pessoa e também na diferença de culturas). O fato de alguém preferir um país a outro é questão pessoal e pronto.

    Beijão!

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  2. Você, além de ter talento para escrever, tem também para analisar as pessoas. Ai, como o ser humano é complicado, né? Ah, adorei a caricatura acima, ehehe.
    Beijão!

    Sil
    esquinadasil.blogspot.com

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