quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A chuva, os garis e o jornalista


O ano de 2010 começou pegando fogo, ou melhor dizendo, água. Pra falar a verdade já tem bem uns dois meses que a gente abre o noticiário e ouve o tempo todo notícias sobre enchentes, alagamentos, mortes, prejuízos, desbrigados por causa da chuva, etc. Em um período de um ano rolou no RS, em SC, no MA, no PI, em SP, no RJ, em MG e isso só o que eu me lembro de cabeça.

Me chamou a atenção uma entrevista em que uma pessoa, vítima dos deslizamentos de terra em Angra dos Reis, fala o seguinte: "Quando a gente achou que conseguiu encontrar um equilíbrio de trabalho, vizinhança, de amizade. O ritmo de uma tragédia desse tipo, a gente tá pensando na cicatriz que vai ficar, não sei por quanto tempo."

Faltou o equilíbrio com a natureza, não que seja culpa da pessoa, mas por conta do ser humano em geral que vive sem interagir com o seu meio.

Temporais a parte, com certeza o assunto mais comentado na internet estes dias foi a declaração (com revelação involuntária) do Boris Casoy a respeito dos garis. O caso ocorreu ao apagar das luzes de 2009, veio a tona no primeiro dia de 2010 mas só foi difundido internet afora depois da ressaca do reveillon, já na última segunda. Aí já fiquei meio receoso de deixar o episódio passar em branco aqui neste espaço.

A profissão de gari, assim como todas as profissões de servente em geral, fazem com que a pessoa praticamente fique invisível aos olhos da sociedade. Muitos estudos, dissertações, e teses já abordaram o assunto, comprovando a pesquisadores que tais pessoas dificilmente são notadas mesmo por pessoas conhecidas, a ponto de um simples "bom dia" virar motivo de grande alegria.

O que ocorreu com Boris foi um momento que deixou evidente não só a visão dele com relação aos garis, mas a visão de muita gente que se acha superior às outras mesmo que involuntariamente. E fruto de uma estrutura de classes que classifica o gari como uma profissão para os párias da sociedade - lembro que meu pai falava que quando meu irmãos mais velhos demonstravam pouco interesse nos estudos apontava para um caminhão de lixo que estivesse passando como que apontado para eles o destino que estaria sendo reservado a eles.

Tencionei até entrevistar um gari para coletar impressões sobre o episódio entre os principais afetados mas esbarrei na possibilidade de que o mesmo não soubesse o que aconteceu e acabasse por causar um constrangimento involuntário. Vou acabar deixando este ponto em aberto.

Como o assunto já está quase se exaurindo vou encerrando por aqui, também por se fosse para falar de tudo que está em debate por aí este texto ficaria quilométrico. Mas deixarei a questão da entrevista também em aberto para todos opinarem se vale a pena dar prosseguimento e tentar formatar soluções se for o caso. É a hora inclusive de uma participação maior dos colegas jornalistas (né Sil) neste assunto.

Peço então a todos: dêem um bom dia involuntário para as pessoas, independente da profissão delas, ou seja, tanto para o vizinho no elevador como para aquele que está varrendo a rua, pois isto não é demérito algum.

2 comentários:

  1. Oi Clébio, já que tocou no meu nome, meu post de anteontem em minha esquina virtual creio que já explicita o que penso do assunto.

    Não tenho muito mais o que falar, só gostaria de relembrar uma frase (não lembro o autor) que é pura verdade: "Atualmente, não existe a liberdade de IMPRENSA, mas sim a liberdade de EMPRESA".

    Infelizmente, é por aí...o dinheiro comanda as relações das maiorias das pessoas e muitas delas o veem como a coisa mais importante de suas vidas. E o resto que se dane...

    É duro remar contra a maré.

    Beijão!

    Sil
    esquinadasil.blogspot.com

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  2. Tá mas e aí Sil? Você acha que tem como a gente saber a opinião dos garis sem correr risco de constrangê-los face o exposto no texto?

    Abraços

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