domingo, 1 de março de 2009

Acadêmicos do Salgueiro... Nota 10!


Há muitos anos que não assistia um desfile de escola de samba por inteiro, parte disso é que já com idade para curtir carnaval, seja brincando ou viajando, não me fazia sentido passar os dias de momo com a fuça na frente da TV vendo os outros se divertindo. A outra parte é que acompanho desfiles desde pequeno e vi como o sentido do espetáculo foi completamente desvirtuado, fazendo com que tudo aquilo pra mim tivesse perdido o sentido da coisa.

Pois bem durante os últimos anos parece que se instituiu um padrão de desfile a ser seguido a risca. Até onde eu sei uma escola de samba, sendo uma "escola", deveria ensinar essa arte às pessoas, principalmente às da comunidade onde a escola está inserida, pois foram (e são) elas que construiram (e constroem) aquele patrimônio. E quando entra fevereiro chega a hora de essas pessoas mostrarem o que aprenderam defendendo as cores de sua agremiação mostrando a todos que eles são os melhores no que fazem. Também deveria ser um celeiro para que compositores fizessem músicas que se estenderiam por gerações por suas letras leves e de fácil compreensão pelo povo.

Não vivi os carnavais do passado para ver se algum dia foi assim. pelo menos é o que a minha utopia permite imaginar que seria o cenário ideal. Mas se nunca foi assim com certeza não poderia ser pior do que vemos hoje. Enredos esdrúxulos e vazios (os nomes quilométricos já dizem tudo - coisas do tipo "A grande viagem do imaginário popular atrávés do tempo e do espaço: o maior espetáculo da terra contada pela Unidos do Fundilho de Dentro fazendo o nosso carnaval" (risos)), desfiles que mais parecem uma marcha, sambas que parecem aquelas musiquinhas decoreba de professor de cursinho, pseudocelebridades usando o espaço para se promoverem (às vezes até pagando ou sendo pagas para desfilar), enfim, tudo perdeu a razão de ser, tudo ficou vazio, a alegria e a espontaneidade deu lugar à necessidade da perfeição extrema.

O mais importante deixou de ser o samba e passou a ser a nota 10, mas nota 10 no quê? Será que alguém ainda lembra?

Fiz essa resenha toda porque ná última segunda a chuva precipitou o fim do meu carnaval naquele dia. E chego em casa exatamente quando está começando a transmissão do desfile. Não tive muito ânimo para ver a primeira escola porque se encaixou mais ou menos em tudo que falei aqui anteriomente.

Em seguida entra o Acadêmicos do Salgueiro, que já entrou com os gritos do Setor 1 de "é campeão". Já pensei de cara que em outros carnavais a opinião dos jurados muito raramente batia com o grito do povo no arquibancada. Mas bastou eu ver o carro abre alas pra ver que tinha alguma coisa diferente, algo que não dava pra descrever com palavras. Tudo estava me impressionando: o samba, as alas, o enredo (era simplesmente "tambor", e só), etc. etc. etc.

Trocando em miúdos: O Salgueiro não mostrou um desfile, mostrou samba.

Não podia dar em outra coisa: campeão do Carnaval 2009 com um ponto de vantagem para o segundo colocado. Levou ainda o Estandarte de Ouro do jornal O Globo. Mas mais importante do que isso tudo é o legado que deixa. Só pra exemplificar, o Samba, diferenciado por si só a ponto de parecer uma composição para um sambista e não para uma escola de samba, é tão envolvente que ouso dizer que é melhor que o "Explode Coração" do enredo Peguei um ita no norte de 1993.

Acadêmicos do Salg...

Torço agora para que as outras escolas aprendam a lição mostrada pelo Salgueiro para que se resgate a alma das escolas de samba, que se perderam pelo tempo na ânsia pela vitória.

Um comentário:

  1. Clébio, concordo com você 100%. Tanto que depois de anos sem acompanhar a transmissão da TV, quando finalmente resolvo acompanhar me deparo com um tema tão simples e tão bem trabalhado da Salgueiro. Espero que este ano seja o primeiro ano de um retorno ao samba de qualidade. Abraço!

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