terça-feira, 4 de maio de 2010

A manipulação e/ou o amadorismo da imprensa esportiva brasileira - parte 1

Vitória tetracampeão baiano, mas se depender da Globo ninguém fica sabendo.

No domingo último vários campeonatos estaduais chegaram ao seu desfecho. A Rede Globo de Televisão, detentora não só da TV Globo aberta mas também dos canais pagos Sportv 1 e 2, Globo News e dos canais de pay-per-view Premiére Futebol Clube, promoveu sua cobertura não só dos jogos decisivos mas também dos bastidores, das comemorações e das entrevistas e comentários em mesas redondas de pós-jogo. Lá estavam as equipes de reportagem registrando as festas de Santos, Grêmio, Atlético Mineiro, Avaí e, em menor escala, Atlético Goianiense, tal como fizeram em semanas anteriores com Coritiba e Botafogo.

Perceberam os estados que fizeram a festa? Se você acompanha futebol com seriedade com certeza notou algumas ausências. Durante a exibição do programa pós-jogo Troca de Passes apareciam os times acima citados erguendo taças, fazendo volta olímpica, dando entrevistas coletivas, tudo aquilo que quem acabou de ver o time ser campeão gosta de ver. Enquanto isso em Salvador, o Bahia vencia o Vitória por 2 x 1, um resultado insuficiente para evitar a conquista do tetracampeonato baiano pelo rubronegro, que ergueu taças, fez volta olímpica, deu entrevistas coletivas, tudo como manda o figurino...

...mas nada disso foi exibido. O tradicional clássico Ba-Vi foi completamente ignorado pela cobertura global, como se falar de campeonato baiano fosse tão desimportante para o público como a segunda divisão do campeonato de bocha de Liechtenstein. Mesma dedicação (no caso ausência dela) foi dada à final do campeonato cearense, onde um público que não deve ter sido menor que 50 mil pessoas viu o Fortaleza bater o Ceará nos pênaltis e também conquistar o tetra estadual, mas alguém viu? Alguém soube com foi?

No canal aberto das Organizações Globo o espaço "nobre" da cobertura são os Gols do Fantástico. É assim desde sempre. Confesso que não assisti os desse domingo mas aposto um doce como a festa de Fortaleza e Vitória foram exibidas como se fossem um jogo qualquer da primeira fase, enquanto os os gols dos outros estaduais do sul mostravam gente erguendo taças, fazendo volta olímpica, dando entrevistas coletivas, etc.

Explica-se: Como citei, há entre os "Canais Globosat" o Premiére Futebol Clube (PFC) que vende pacotes fechados dos campeonatos estaduais. Você pode escolher entre os campeonatos paulista, carioca, mineiro, gaúcho, paranaense, catarinense e goiano. Nenhum campeonato do norte-nordeste, mesmo se sabendo que os clubes baianos, cearenses, paraenses e pernambucanos possuem grandes torcidas que enchem estádios e, consequentemente, consomem ou poderiam consumir audiência de TVs a cabo.

Audiência, esta é a razão de existir de todas as mídias brasileiras, sejam impressas, radiofônicas ou televisivas. A informação (assim como a "melhor versão possível da verdade") fica relegada para segundo plano, tudo para se obter o máximo de lucro possível. No caso da Globo ela vende pacotes dos estaduais do sul, então qualquer informação que não diga respeito aos estaduais do sul (que são os que dão lucro pra emissora carioca) não tem importância, ou pior, podem se configurar como uma ameaça aos lucros da empresa pois um torcedor do Ceará potencialmente não vai comprar os pacotes dos clubes do sul.

E não é só por conta de TV a cabo que se dá esta distorção, também há o fator "Clube dos 13". Os pertencentes a esta patota ganham mais exposição e consequentemente mais dinheiro, aí indiretamente se conquista estes torcedores para que eles consumam produtos dos clubes do sul, que são vencedores de um jeito que o dinheiro mirrado dos clubes do norte nunca permitirá. E como no Brasil só se valoriza e se dá destaque a quem é vencedor... ao perdedor só resta a ridicularização, o escárnio e o ostracismo.

Parte desta marginalização porém encontra nos próprios clubes marginalizados uma causa para acontecer. Ao que parece a maioria deles, para não dizer a totalidade, já se encontra conformada com este status quo. Pode até achar ruim se encontrar em condições tão precárias mas não movem uma palha por mudanças. Até mesmo as federações se mostram pouco preocupadas com o quadro pois entre seus quadros de dirigentes não se encontram pessoas engajadas com a evolução do esporte e da competição, muitos deles são apenas oligarcas vassalos do poder central personificado na figura do eterno Ricardo Teixeira, outro interessado em lucros cada vez mais vultosos vindos de uma seleção cada vez menos brasileira, ou você se identifica com algum dos craques que jogam atualmente como se identificava com Zico, Falcão, Cerezo, Sócrates, Nelinho, Pelé, Gerson, Rivellino...

No próximo texto farei um comparativo da cobertura esportiva brasileira com as declarações feitas por Carl Bernstein em sua recente passagem pelo Brasil. Antes disso haverá a final entre Náutico e Sport pela final do pernambucano. Mais um termômetro para nossa avaliação.

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