quinta-feira, 6 de maio de 2010

A manipulação e/ou o amadorismo da imprensa esportiva brasileira - parte 2


Pois então senhores, conforme previsto a final do Campeonato Pernambucano foi solenemente desprezada pela emissora oficial do futebol brasileiro (a.k.a. Globo). Apenas a menção do resultado da decisão e no fim a exibição do gol do Sport. E só, sem nem menção no Jornal da Globo ou no dia seguinte no Bom Dia Brasil.

Bom, se o Clube dos 13 quer continuar com essa tática típica do colonialismo inglês vá em frente, agora vou lavar as mãos.

Mas desde já emito o alerta. Daqui a dois anos acontecem as Olimpíadas, e a Record foi quem ganhou os direitos de transmissão. A Globo tem um histórico de ignorar solenemente a existência da Champions League enquanto esta era exibida pela emissora universal. Como? Simples, na hora do Globo Esporte o apresentador falava que o Barcelona foi campeão da Liga dos Campeões da Europa ao vencer o Manchester United por 2 x 0. Ponto, sem gol, sem taça, sem nada.

Quero ver se eles vão ter a cara de pau de ignorar o maior evento esportivo do planeta. Vai ser um atestado de emissora mercantilista, em detrimento da informação. Mas o que esperar de alguém que chama equipes de Fórmula 1 por siglas (RBR, STR, VR1, HRT...) e times de vôlei e de basquete pelo nome da cidade (Brasília, Florianópolis, Osasco, Rio de Janeiro...)? Desinformação pura.

Citei no texto anterior o jornalista Carl Bernstein. Durante sua passagem pelo Brasil ele deu palestras em um encontro em que se discutia as ameaças de censura vividas pela imprensa nos dias de hoje. Nesta entrevista aqui ele dá uma aula de ética jornalística mesmo falando coisas que são elementares para quem trabalha nesta profissão. Neste trecho em particular ele resume o que tenho falado:
"A missão do repórter é lançar luz sobre a realidade. Para mim, o papel da imprensa é antes de tudo compreender que a nossa maior responsabilidade é com o interesse público, não com lucro ou ideologia. O objetivo de ditadores e tiranos que querem controlar a população e não acreditam em liberdade de expressão é induzir a autocensura. Isso dificulta o trabalho dos repórteres, seja nos Estados Unidos da era Bush ou sob o regime de Hugo Chávez na Venezuela."
E que realidade é esta que Bernstein fala? Esta de siglas e/ou cidades escondendo marcas ou de patrocinadores que sustentam o esporte em troca de ter sua marca divulgada na mídia? Esta de apresentadores de mesa redonda lamentando a ausência de clubes tradicionais na elite sem contextualização ou um debate profundo e busca e apresentação de soluções por mais que isso contrarie interesses comerciais e /ou políticos?

Se quisermos podemos expandir toda esta conjuntura das palavras de Bernstein para toda a imprensa brasileira: do caderno de política ao de diversão passando pelos classificados até. Estamos cansados de ver editorias bajulando o poder instituído em troca de algumas moedas advindas de publicidade institucional. Além do mais quem não quer sempre estar em evidência, ter o poder de conqustar corações e mentes nem que seja de maneira forçada. É daí que vemos surgir pseudo-celebridades tendo mais destaque do que pontos e fatos importantes do cotidiano, e aqui Bernstein fala muito bem sobre isso.

Palavras assim soam quixotescas demais, ainda mais se referindo a entidades tão poderosas se comparando a indivíduos. Só a coletividade engajada poderia mudar tal quadro manipulatório, coisa que é pedir demais numa sociedade individualista como a brasileira. Resta o alerta para que se dissemine esse conceito nos meios de discussão.

Mr. Watergate

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