sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Amante Profissional - Parte 2


Antes de mais nada quero responder a Sil a pergunta que a mesma me fez quanto a regravação da música Amante profissional. Pelo que eu pesquisei a música foi regravada pela banda Dibob, e me recuso a contar o atentado que o Latino cometeu ao também gravar a música, só espero que ele não tenha tido a audácia de fazer um clipe com ela.

Agora três perguntas valendo pra todo mundo colocar aí nos comentários:

1 - Você que está lendo este texto agora, se lembra quando foi a última vez que você foi a uma loja de discos pra comprar um CD? E se lembra de qual foi?

2 - Qual foi a última vez que você viu algum músico ou conjunto desses mais famosos lançando algum trabalho novo?

3 - Você tem idéia de quantos arquivos em mp3 você tem no total? (incluindo os que estejam em mídias externas como iPods, mp3 players, pen drives, etc.)

Agora vou responder minhas próprias perguntas como se estivesse formulando a mim mesmo.

R1 - Se não me engano foi em Setembro do ano passado, no auge da minha caça às músicas de aberturas de novelas da Globo. O CD em questão foi o da novela Uma Rosa Com Amor, que foi exibida entre 1972 e 1973, e comprei para extrair apenas uma música - a da abertura, claro.

R2 - Acho que a última que vi foi a Vanessa da Mata lançando um CD, mas não me pergunte o nome que eu não vou lembrar mesmo.

R3 - Só a coletânea das músicas de novelas dão quase 300 músicas, com um pouco mais de 400 músicas na minha coleção de "atrocidades" e podemos arredondar para uma 700 arquivos, o equivalente a uns 50 CDs*.

Tudo isso é pra bater numa tecla que deve estar até funda: a indústria fonográfica está entrando em colapso. Não vou ficar aprofundando aqui nos sintomas nem nas causas, mas vou dar umas pinceladas nas consequências de um modo geral.

Todo mundo sabe que um CD já há muito tempo deixou de ter um preço atrativo, some-se a isso o fato de que a tecnologia de reprodução de mídias deixou de ser exclusividade industrial e já está acessível em qualquer PC do mais simples. Então alguém compra o CD original, faz um enesilhão de cópias e vende na rua. O incauto chega em casa, converte todas as músicas para mp3 de modo a poder ouvir também em seu iPod junto com as músicas que ele baixou na Internet via programas de compartilhamento, onde as músicas que você tem também ficam disponíveis para troca e etc. etc. etc.

Mas o principal de tudo, a maioria das músicas baixadas e compartilhadas são coletâneas. As próprias gravadoras já notam isso desde o início da década, é só observar a quantidade de séries que já foram lançadas desde então (focus, millenium, bis, identidade, para sempre, etc.). A chance de ter músicas que você gosta em uma coletânea são infinitamente maiores do que em um trabalho novo, afinal é uma coletânea não é mesmo? E hoje ninguém quer correr riscos de ter a obra encalhada: nem o artista, nem a gravadora e muito menos as lojas.

As lojas, é mesmo, onde é que as lojas foram parar mesmo? No caso de Brasília o sinal vermelho foi acionado quando a Discoteca 2001 fechou as portas, e olha que ela tinha diversas filiais mas num cenário desses quem é que consegue sobreviver? Só a Discodil, que se especializou em CDs remasterizados e - vejam só - coletâneas. Até o cinema percebeu isso, só quer filmar aquilo que é certeza de sucesso, e tome continuações de Indiana Jones, Rocky Balboa, Batman, Super-Homem, Homem-Aranha, marcas já consolidadas e com menos chance de fracassar do que trabalhos novos que são uma incógnita.

Voltando à questão dos riscos, se passa a ser mais jogo lançar coletâneas, paulatinamente as portas para novos trabalhos vão se fechando, e toda aquela efervescência que citei na parte 1 fica só na nostalgia, isso quando não nos acomodamos com o novo modus operandi. Recentemente o jornal Campus da UnB, fez uma reportagem sobre este panorama e os efeitos sobre as rádios, que teoricamente não daria espaço a divulgação de novas bandas. O caso mais emblemático foi o da Clube FM (antiga 105) que respondeu de cara "que só tocava sucesso".

E como se alcança o sucesso se te dizem que só se abre espaço para o que já é sucesso? Talvez tentando identificar a origem desses tais sucessos. A maioria vêm de novelas, elas sempre foram célebres em produzir hits tocando sua "trilha sonora original" dia após dia para o povão ter a sua história favorita embalada pela canção do mocinho. Agora feche todas as outras portas, se já não for assim não demorará para que a entrada em uma trilha sonora acabe se tornando um comércio envolvendo altas cifras.

O ciclo se fecha com os artistas já consagrados no meio de toda essa crise. E o que eles estão fazendo atualmente? Nos shows só se ouve os sucessos das antigas, tudo o que Renato Russo mais temia ("senão fica aquele monte de gente pedindo 'toca Ainda é Cedo!'"), e em "novos" trabalhos o que mais se vê são regravações e mais regravações, a maioria acaba por detonar as gravações originais, mas há as exceções claro, o que não pode é essa exaustão de trabalhos repetidos.

Será que um dia conseguiremos sair desse cenário e promover uma nova revolução de ideias (sem acento agora)?

Um comentário:

  1. A última vez que comprei um CD foi uma ocasião muito especial, em maio do ano passado. Estava fazendo um vôo cheio de escalas e uma dessas foi em São José da Costa Rica. Como tinha de esperar algumas horinhas lá, obviamente fui fuçar todas as lojinhas daquele aeroporto. Como sou fã ardorosa do grupo "Malpaís", infelizmente pouco conhecido no Brasil, e estava na terra deles, resolvi procurar um CD dos ditos cujos como lembrança. Achei vários...como era caro, preço em dólar e tudo o mais, levei apenas um para marcar o momento inesquecível.

    Mas é isso...atualmente só compro CDs de músicos que gosto muito e cujas músicas são difíceis de encontrar para baixar até mesmo na internet. No caso do Malpaís, já havia encontrado canções para apenas ouvir na internet, mas não para baixar.

    Sobre trabalhos novos de músicos "antigos", aproveito para avisar que a dupla Kleiton e Kledir (atenção mais novos e pessoas que moraram fora do Brasil na década de 80: NÃO é dupla sertaneja, hein...pelo amor de Deus, cultura geral é tudoooo!!!) está para lançar CD com músicas novas ainda neste primeiro semestre. O Tavito, outro grande ícone da Música Popular Brasileira, vai lançar CD com músicas novas em março.

    Sei lá qual será o destino da indústria fonográfica...é uma incógnita...já sei foi o tempo em que os artistas ganhavam com venda de discos...hoje a maioria ganha é com shows. As coisas nessa área, aos poucos, estão ganhando uma nova configuração.

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