terça-feira, 24 de março de 2009

Bocas-de-lobo

Arte: Glauco

Ontem a Silvana escreveu um texto sobre o fato de o GDF ter feito uma propaganda falando que estavam inaugurando escadas rolantes numa estação do Metrô lá na Ceilândia.

Pensei em detalhar o porque de tanto gasto de óleo de peroba por parte de nossos "representantes" na política mas vi que o comentário ia ficar extenso demais, portanto escrevo este texto para complementar o da Sil. Já que ela cruzou agora é só cabecear.

Uma vez participei de uma reunião com a Maninha na casa da minha vizinha e debatemos justamente sobre isto. Inclusive a mesma se referiu sábiamente a esta prática de exaltar tudo quanto é ação banal do governo como "política de boca-de-lobo", senão vejamos - imagine uma comunidade que vive em um bairro sem urbanização básica e carente da ação do Governo para a execução das obras. A ação seguirá etapas da segunite forma:

  • Primeiro passam uma máquina para terraplanar as ruas. Propaganda nos jornais oficias dizendo que diminuiu o barrão nas ruas;
  • Depois de um tempo abrem buracos pra colocar os canos de esgoto. Propaganda na TV mostrando os canões suspensos e talvez uma placa de inauguração;
  • Aí passam alguns meses e instala-se bocas-de-lobo e dá o nome pra isso de "drenagem de águas pluviais" para parecer que é uma nova obra. Propaganda nos jornais que bajulam o Governo, além disso começam a brotar faixas de agradecimento ao governador que ninguém nas redondezas assume a autoria;
  • Passam-se um ou dois anos (ou até mais) e instalam os postes da rede elétrica. Aí o próprio governador vai lá para inaugurar a obra fazendo um discurso aplaudido por uma claque efusiva, e como ele foi lá coloca-se mais uma placa, além de propaganda nos jornais e faizas de agradecimento ao governador e ao secretário.
  • A próxima etapa é a pavimentação asfáltica, seguida de mais propaganda nos jornais e na TV e faixas agradecendo ao governador, ao secretário e ao administrador. Mas é importante que o serviço seja bem porco para que o tempo detone a capa asfáltica e o governo tenha que recapear tudo de novo e fazer mais propaganda e cerimônia.
  • Chega a vez de instalar as calçadas. Nessa etapa já tem propaganda em rádio, jornal, TV, presença do governador, discurso e placa, faixas agradecendo o governador, o secretário, o administrador e o deputado, etc. etc. etc.
  • Daí pra frente é só colocar os serviços públicos básicos (escolas, postos de saúde, postos policiais, etc.) a conta gotas. E para cada instalação de um desses serviços você junta todas as cerimônias citadas acima mais faixas agradecendo o governador, o secretário, o administrador, o deputado, o senador, o prefeito da quadra, o pai, a mãe, o papagaio, entre outros a acrescentar a cada inauguração.
É importante frisar que cada uma das etapas acima pode ser subdividida nas seguintes etapas: anúncio, sanção da lei, início, paralisação, retomada, nova paralisação, nova retomada, inauguração, retoques, nova inauguração, reformas e inauguração das reformas. Todos os passos acima devem ter uma espaço de tempo bem afastado um dos outros para que se coloque uma manchete para cada uma.

E assim parece que o governo faz muita coisa quando ele "inaugura" e "noticia" várias ações executadas em apenas uma hora. É só pensar, quantas vezes as obras do Metrô parou, retomou, inaugurou, ampliou, completou, entre outras coisas.

É por isso que é importante abrir o olho e ter um olhar crítico a tudo que se veicula na imprensa, principalmente no que tange a ações ao Governo. Não existe pessoa que gosta mais de aparecer do que político, ainda mais porque infelizmente no Brasil o povo só faz votar em quem tem obras visíveis e vultosas.

É por isso que tem tanta placa fundamental por aí. Por mais besta que a "obra" seja, tipo como instalar uma boca-de-lobo na esquina.

Um comentário:

  1. Teu texto colocou muito bem a questão, Clébio. Parabéns!Em meu post deste sábado, resolvi convidar o pessoal para lê-lo, ok. Abração!

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