sexta-feira, 15 de maio de 2009

Guerra de lama

Créditos: JC Imagem

Sabem aquela típica brincadeira de criança que quando chove vão pras ruas jogar lama umas nas outras fazendo guerrinha? E no final das contas sai todo mundo melado da história?

É isto que está parecendo este atual momento da nossa ilustríssima casa do povo, o Congresso Nacional, que parece que por ser do povo - e consequentemente de todos - não tem dono. É a típica lógica que passa na cabeça de vandalo destruidor de orelhão, "não é meu mesmo".

O agravante dessa história é que toda essa palhaçada vem logo do local onde são elaboradas as leis, o que dá um ar de que "se o que fazemos é ilegal a gente dá um jeito pra passar a ser legal".

O último capítulo dessa série foi protagonizado pelo deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), agora ex-relator no conselho de ética do caso do deputado Edmar "do castelo" Moreira (sem partido-MG) por dizer estar "se lixando para a opinião pública" caso seu parecer fosse pela absolvição do colega. Mais: disse que "a imprensa sempre bate, mas eles sempre se reelegem".

Ou seja, formando uma das trincheiras de lama estão os deputados. Por que no plural? porque não é o primeiro e nem vai ser o último deputado-cheio-de-processo-nas-costas (ou senador, ou coisa que o valha) que vai vir a público dizer que o problema não é o que eles fazem ou deixam de fazer, é o fato da imprensa divulgar e denunciar. Assim sendo, segundo nossos nobres representantes, para que o congresso recupere sua imagem basta não ficarmos sabendo o que eles andam aprontando e basta que a imprensa não divulgue nada, ou na concepção deles não xerete na vida deles.

Mas se eles estão de um lado, quem está na outra trincheira?

Obviamente que é a própria imprensa. Os políticos tem seus motivos para usá-la como bode expiatório. Os meios de mídia brasileiros (e não duvido que seja assim no resto do mundo) querem ter uma certa aura de imparcialidade que mascare a tendência que eles tem de distorcerem os fatos enviesando-os ao gosto do freguês - que vão de casos mais lights como o gosto político do redator ou do presidente do meio de comunicação até os mais casca-grossa como quando são os próprios políticos que definem a linha editorial para que eles sejam exaltados e os adversários sejam os chafurdadores de lama.

Não precisa fazer muita força para buscar exemplos: a toda-poderosa (o epíteto já diz tudo) Globo, ela mesma, tem vários. Os mais célebres são o da eleição de Brizola em 1982, o das Diretas em 1984 e o do debate entre Collor e Lula em 1989. Na mídia impressa então é o que há de tendencioso. Só pra buscar exemplos próximos temos os jornais daqui de Brasília (principalmente o "De Brasília" e o "Da Comunidade") que endeusam Roriz - e agora Arruda - e tratam qualquer questionamento mais à esquerda como obra do demônio. Em Goiás quem segue essa linha é o Diário da Manhã, para eles até algum tempo atrás Marconi Perillo era o Roriz deles.

E no meio, na terra de ninguém fica o povo, dividido entre aqueles que gritam e questionam toda esta palhaçada como se falassem para o nada ou para um eco e aqueles que de tão desiludidos não tão nem aí pra mais nada. Os segundos são os mais perigosos pois são os que taxam os primeiros de histéricos, de vagabundos e de gente que só faz protesto pra aumentar congestionamento; além de serem, de tão desligados que estão para tudo isto, aqueles que vão votar em qualquer um que parecer legal e bonitinho - resumindo são eles que vão reeleger o deputado "do castelo" e o "da lixa".

Um panorama do brasil se encontra em Santa Cruz do Sul, base eleitoral do deputado Sérgio Moraes onde a mulher dele é a prefeita e o filho é vereador. É interessante ler a coluna de Cristiana Lôbo sobre a visita que ela fez à cidade.

Como este texto foi baseado no que foi divulgado pela imprensa, pois não conheço a vida desse povo e nem passo o dia inteiro na Câmara, ele está aberto para o contraditório, aliás praticamente imploro para que o contraditório apareça pois o debate é melhor quando os dois lados estão presentes.

Mas é incrivel como todo deputado que substitui outro tem uma coleção de casos e processos que parece ser maior do que a do antecessor, e como surgem deuses e demônios rapidamente na mídia quase que de acordo com a direção do vento. Ser servente no congresso e limpar toda essa lama atirada de tudo quanto é lado deve ser uma tarefa ingrata.

3 comentários:

  1. É claro que não dá pra ser ingênuo e achar que a imprensa deveria ser imparcial. Afinal, quem escreve, escreve com alguma intenção, dialoga com determinados interlocutores e representa um grupo ou uma classe... logo, não há mídia desinteressada.
    Mas o que acontece em Brasília, capital do país, é o que mais me entristece... não temos alternativas de jornais escritos pra ler, ambos coadunados pelos políticos locais, o que existe de mais retrógrado na cidade, infelizmente.
    Haja filtro pra conseguir ler o que se escreve nessa cidade...

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  2. Alguém escreveu que a ignorância é a maior multinacional do mundo. Porque tal ignorância serve de potente combustível para os malfeitores manipularem os córdeis. Ad eternum. Meu desprezo pelos políticos nada tem de solene.É sadio e franco. Higiênico, eu diria. No meio desse lamaçal, temos a Imprensa, denominado 4º ou 5º Poder, que ora recebe dividendos dessa escumulha instalada perpetuamente no Congresso, ora presta alguns serviços, ora entedia nossos olhos e ouvidos e etc. Jornalista de verdade jamais apoia Governa algum. Adota o ditado: Hay Gobierno, soy contra. Raramente é assim. Hoje parece-me cada vez mais incorreto o adágio de que as pessoas fazem seu próprio destino. Paulo Maluf e sua tropa estão soltos. Esse tal de Moraes - cuja ficha corrida é digna dos mais altos escalões do crime - ri à toa. O ceticismo é um antídoto. Muito bom esse artigo Clébio.

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  3. E no meio desse lamaça todo, Fernando Pessoa nos resgata:

    "Entre o luar e o arvoredo,
    Entre o desejo e não pensar
    Meu ser secreto vai a medo
    Entre o arvoredo e o luar.
    Tudo é longínquo, tudo é enredo.
    Tudo é não ter nem encontrar.
    Entre o que a brisa traz e a hora,
    Entre o que foi e o que a alma faz,
    Meu ser oculto já não chora
    Entre a hora e o que a brisa traz.
    Tudo não foi, tudo se ignora.
    Tudo em silêncio se desfaz..."

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