quarta-feira, 28 de abril de 2010

Histórias curiosas do passado de Brasília

Rua virou garage na Asa Norte (Correio Braziliense - 13/01/1975)


A história de hoje eu achei no bem servido blog do Marcelo Almirante. Para quem se interessa por veículos antigos, principalmente ônibus, ou se interessa pela história de Brasília o blog tem um acervo que bem retrata a evolução do transporte na capital federal.
"Um espetáculo deprimente e um exemplo acabrunhador está dando a TCB ao transformar a rua da interquadra 410-411 em garagem de ônibus e páteo de estacionamento dos seus veículos".
Todos lembram que, não faz muito tempo, a Asa Norte ainda possuía diversos espaços abertos ainda não ocupados por superquadras. Imagine um quadro destes então há 35 anos atrás, numa época que ainda era evidente o crescimento "destro" de Brasília resumido em superquadras inexistentes. Por conta disso era comum que os ônibus cortassem caminho para não ter que andar inutilmente até um fim de Asa Norte que nada havia ainda, quanto mais passageiros para buscar. Como consequência os motoristas da linha L2-W3 Norte (hoje linha 115) resolveram fazer da entrequadra da comercial 410/411 Norte o seu terminal e ponto de apoio. Literalmente.

Num enredo bem "a la Maiakovski" começaram, como relata o recorte acima, com dois ou três ônibus da referida linha que paravam para descanso do motoristas, depois a TCB chegou e instalou um escritório para os fiscais, por fim a entrequadra virou estacionamento para os ônibus em períodos ociosos tal qual acontece hoje com o estacionamento do Mané Garrincha. E se hoje em dia é difícil imaginar ônibus de linha trafegando e pegando passageiros nas comerciais do Plano imagine naquela época em que, a despeito de não haver o trânsito caótico dos dias atuais, os monoblocos que rodavam eram infinitamente mais barulhentos e poluidores do que os veículos modernos. Pronto, está formado o cenário caótico relatado na reportagem do recorte do Correio Braziliense de 13/01/1975, relato este feito de maneira bem curiosa para os padrões atuais.
"Enquanto os 'donos' dos ônibus tomavam água e café e batiam aquele papo, os passageiros ficavam esperando dentro do ônibus que era estacionado junto à mercearia".
Imagine toda aquela muvuca de ônibus da Rodoviária bem aí pertinho da sua casa, com o agravante de que o causador é pertencente ao GDF e conta com a complacência indireta do mesmo (por meio do escritório do despachante instalado na quadra). Inclusive é interessante notar como naquela época a figura do governador parecia mais próxima e alcançável do que hoje em dia, tanto que as reportagens possuiam um tom incisivo de reclamação como se fossem uma carta direcionada diretamente ao mesmo.

As consequências? Tem uma foto ali que o ônibus posa com uns três tambores de óleo, e pelo estado de conservação do mesmo você deve imaginar como é ser vizinho de ônibus soltando óleo e fumaça e ocupando as vagas que deveriam ser para os clientes do comércio local. Isso sem falar em outros riscos como os relatados aqui:
"Também os pedestres foram prejudicados, pois correm o risco de serem atropelados pelos ônibus que fazem manobras em plena rua sem se preocupar com as consequências."
E os motoristas e cobradores? Gaiatos e galanteadores que só eles até hoje, é comum eles segurarem moças bonitas na roleta para elas irem na frente sem pagar, assim como os motoristas de van as colocavam nos bancos da frente para desfrutar de suas companhias. Tanta fama não existe à toa e, por isso, o CB da época nos brinda com este trecho:
"A presença dos ônibus (...) trouxe um outro inconveniente: cobradores, motoristas e fiscais , em grande número, passam horas a fio batendo papo nas calçadas e dirigindo gracejos às senhoras que passam por lá. Este fato provocou, inclusive, reações de dois moradores da superquadra 410 que responderam à altura, quando suas esposas foram molestadas pelos funcionários da TCB".
Lendo assim a celeuma me parece sem solução já que quem provoca a confusão é um agente público. Em conversa com minha chefe que mora aqui em Brasília há mais de 40 anos ela me disse que situações como essa não raro acabava com o povo fazendo fogueira de ônibus, e como o mesmo é que é o causador do problema não deve ter sido difícil para alguém ter tido esta idéia, com a palavra aqueles que viveram naquela época.

Hoje o cenário da polêmica já está completamente preenchido pelos blocos que lhe cabiam ocupar, e a área onde os ônibus encostavam na entrequadra hoje é ocupado por um prédio de kitinetes. E não há nada no lugar que faça lembrar que um dia houve tal polêmica.

Mas e se fosse nos dias atuais? Como os cidadãos que habitam a região atualmente reagiriam caso tal confusão acontecesse novamente? Passividade? Radicalização? Diplomacia? A questão está aberta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário