segunda-feira, 5 de abril de 2010

Uma noite de histórias


Por Eduardo Melo Moura Filho, servidor público federal exilado em Brasília

Na última quinta-feira cheguei com um amigo tricolor ao local combinado para assistir à partida contra o foguinho aqui em Brasília, vimos de longe um bandeirão pendurado com as três cores mais bonitas do mundo. Fomos logo convidados para a mesa dos tricolores da Planalto Coral, torcida santacruzense da capital federal. Sentamos e cinco minutos depois já estávamos de pé comemorando o primeiro gol!

Nesta hora chega Elenildo, tricolor que conheci naquela noite, correndo já imaginando que tínhamos saído na frente. Alguns minutos depois, gol do foguinho. Aquela tensão inicial diminuiu e começamos a conversar sobre momentos históricos que cada um tinha vivido com o Santinha. Elenildo lembrou logo das partidas contra o cruzeiro pela Copa do Brasil em 1997, Santa 1×0 cruzeiro no Mineirão com Palhinha, Dida e Cia, e contra o sampaio corrêa em 1999 quando o Tricolor venceu e, com uma combinação improvável de resultados, passou para a fase seguinte da Série B, tornando-se vice-campeão depois. Eu me lembrei da final do pernambucano de 1993 e do jogo contra o volta redonda em 1998 em que o Santa ganhou de 3×2 mandando o fluminense para a Série C.

Daí vieram outras lembranças com cada um narrando sua versão dos fatos. Mal sabíamos nós que, sentados àquela mesa, estávamos prestes a testemunhar outro dia histórico.

De repente, pênalti para o Santa!! Elvis batendo!! Confesso que nessas horas sou medroso, preferi não assistir, fiquei do lado de fora do bar esperando a vibração dos amigos tricolores. Não veio. Elvis perdeu. Fim do primeiro tempo. Nesse momento um ser iluminado chamado Quental (N. do E.: Roberto Quental o nome dele) (o profeta) solta: “O Santa Cruz vai fazer o gol aos 45 minutos do segundo tempo”. Ninguém deu muita bola.

Nessa mesma noite, ainda tive a prova de que ser Santa Cruz é uma coisa que vem de dentro e não tem lógica. Clébio é um legítimo torcedor coral santacruzense das bandas do arruda (tricolor di cum força), já tinha ouvido falar dele, nascido e criado na capital federal. Perguntei a ele como o pai dele tinha feito para consolidar um filho tricolor, diante da lavagem cerebral carioca que a TV costuma a fazer com as pobres crianças de Brasília (aqui só se torce para times do Rio). Foi quando ele me disse uma coisa que me deixou mais surpreso que o segundo gol do foguinho: “Meu pai não torce pro Santa, é torcedor fuleiro da barbie e passou a torcer pro fluminense”. Não tinha explicação! Mas como era possível aquele cara ser um Santacruzense fanático? Me enchi de esperança.

Começa um morno segundo tempo que Brasão tratou de esquentar. Santa 2×1! Nossa mesa enlouqueceu. Daí em diante o relógio começa a se arrastar e o nervosismo só aumentava. Acaba logo esse jogo! Acaba logo esse jogo! Gol do foguinho! PQP!!!

Comecei a me consolar: o empate foi bom, o time jogou bem, pena que não deu. Foi quando o Profeta Quental solta na maior calma: “O gol vai ser aos 45 minutos, e eu pago a rodada de cerveja!!”. Que confiança, digna do Profeta Inácio França! 44 minutos e não sei quantos segundos!

Sabe aqueles momentos tão intensos que a gente se esquece da ordem das coisas? Só me lembro estar correndo do lado de fora do bar gritando como um louco! 3×2! Fim! Vamos pra Goiânia dia 21! Valeu Souza, valeu Quental!!

Depois, mais calmo, Elenildo solta: “Como aconteceu em 1997 contra o Cruzeiro, lembraremos dessa noite daqui a 13 anos”. Hoje eu digo: “Dessa e de muitas outras noites, Elenildo!”. Mais um dia histórico.

***

Nota(s) do Editor:

1 - Texto publicado originalmente no Blog do Santinha, no qual este que vos bloga é citado sem o aviso prévio (kkk);

2 – Assisti o jogo todo do lado de Seu Horácio (primeiro à esquerda), a quem conheci naquele dia, sem saber que se tratava do vice-prefeito de Olinda;

3 – Quando houve o primeiro empate umas meninas que estavam torcendo para o Botefogo começaram a cantar aquela música da Beth Carvalho que o povo lá no Rio tem cantado nos jogos…

Chora!
Não vou ligar
Não vou ligar!
Chegou a hora
Vais me pagar
Pode chorar
Pode chorar…

Quando Brasão desempatou no meio do segundo tempo fiquei matutando como poderia responder à altura. Aos pouquinhos comecei:

Madeira do rosarinho
Vem a cidade sua fama mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original…

Quando chegou no “E se aqui estamos, cantando esta canção…” toda a tricolorzada do bar já tava cantando junto.

Para uma canção de uma botafoguense, nada como revidar com uma música à altura de um grande tricolor;

4 – Quando houve o segundo empate as meninas começaram a provocar dizendo que iriam pra Goiânia (quem vencesse enfrentaria o Atlético-GO). Na hora do gol do Souza o Quental já tava querendo vender as passagens do pacote que estamos montando pro dia 21 (kkk);

5 – Levamos uma camisa da Alemanha pro bar na expectativa de que as profecias de Pai Inácio começassem a se concretizar. A referida camisa é o primeiro passageiro a adquirir bilhete para Goiânia;

6 – No fim do jogo os moçoilos aí começaram a puxar papo com a "torcida derrotada". Ninguém veio me dizer se as xavecadas que esse bando de macho ficaram dando nas botafoguenses deu certo, pelo visto não;

7 – Não me lembro de ter falado em torcedor “fuleiro”, mas não duvido que tenha dito mesmo;

8 – De fato este é um episódio para que perpetuemos nossos feitos pelas próximas gerações de tricolores.

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