segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sobre os valores da sociedade e o posto da 214 Sul



Poderia muito bem cair no lugar comum de analisar o episódio da agressão ao oficial do exército pelo gerente do posto da 214 Sul junto com seus "amigos" apenas pelo lado da selvageria, analisando apenas as imagens que foram tão fartamente divulgadas na mídia que nem precisam ser detalhadas novamente, porém quem lê este blog com frequência sabe que isto não é do meu feitio. Prefiro muito mais contextualizar, ou imaginar como o cenário do episódio se desenhou, pois querendo ou não os agressores fazem parte de um perfil de pessoas que sempre foi comum na sociedade, e que em muitas situações são muito valorizados.

Não tinha dado muita atenção ao caso até a Sil me mandar o link de um blog que está fazendo uma campanha de boicote ao posto da 214 Sul, que pelo que se viu já tem um histórico de perturbação do silêncio. Só a partir daí é que procurei ler as notícias com calma e tomar ciência do que havia acontecido.

Um grupo de "playboys" ouvindo som alto (música eletrônica ou sertanejo "universitário") e tomando todas num posto de gasolina, quer vida mais vazia que esta? Pois então ande um pouco por aí que você acha fácil. Vamos procurar sim, mas vamos se ater apenas as classes mais instruídas - as de despossuídos já sofrem consequências demais. Eu consigo ver pessoas com mentalidades parecidas no posto da 214 sul, na porta do Pier 21, nas festas e barzinhos do Pontão ou em qualquer lugar na beira do Lago, vejo até mesmo na frente das escolas da W4. Em todos estes locais é possível ver o garotão que quer ser o fodão da turma e a menina que quer causar por onde passa, que tira fotos pro orkut para alimentar um narcisismo cada vez mais forte entre a juventude, tudo para ser aceito e admirado pelos demais, ou, como se diz em filmes americanos, ser popular.

Daniel Benquerer, gerente do posto e um dos agressores, em foto de seu fotolog (já cancelado pelo mesmo).

Todas estas pessoas que conversam sobre baladas, pegação, e que acham que não existe mundo além disso, partem da premissa de quem respeita normas é um mané que está perdendo a oportunidade de se divertir - lembrem-se que levar vantagem em tudo é uma mentalidade bem típica deste país e, principalmente, desta cidade - leia-se: se você não cumpre as leis é porque você está acima delas, não porque você é um criminoso. Para estes, os chatos que reclamam da zona que estas pessoas provocam merecem zombaria e, como foi o caso, a agressão - "eu tô querendo me divertir e aquele chato não deixa".

O que eu quis dizer é que, simplesmente protestar, promover boicotes, esbravejar na mídia, etc. é querer tomar uma aspirina para combater um câncer. Temos que avaliar a criação que damos aos nossos filhos e os valores que cultivamos e demonstramos entre os nossos para que possamos sim deixar de presenciar cenas como esta, mas de maneira deifiniva, mesmo que a longo prazo.

Respeito ao próximo não é se subjugar ao outro, é convidá-lo para uma convivência harmoniosa.

3 comentários:

  1. Oi Clébio, adorei o texto que você escreveu e gostei muito do enfoque dado. Mas acho que o protesto e a mobilização podem não ser apenas uma "aspirina". Quem sabe o ponto de partida para muita gente começar a ter cuidado com a forma na qual educa os filhos e a forma na qual conduz a própria vida não esteja justamente aí, ainda mais aqui em Brasília onde dificilmente as pessoas se mobilizam para alguma coisa?

    Quanto aos infratores, mesmo que a justiça não atue, acho que esse "momento queima-filme" pra eles já serve como uma espécie de pena. Claro que é melhor haver mais punições, mas pelo menos essa eles já tem...

    Bj,

    Sil
    esquinadasil.blogspot.com

    Beijão!

    Sil
    esquinadasil.blogspot.com

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  2. Boicote geral ao posto galera, naum podemos tolerar tanta violencia. Kd o secretario da Ordem Pública, cel lins que passa a semana perseguindo camelos e o final de semana perseguindo gays no park da cidade? eh muito facil perseuir minorias indefesas neh

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  3. Concordo com a Silvana.

    Por anos e anos falamos em criação dos filhos, limites, educação.. e esperar por isso, apenas, não está resolvendo.

    O boicote é o que podemos fazer, agora, com o que temos. É o que está ao nosso alcance no momento.

    Eu chamaria de medida emergencial.

    Parabéns pelo post!

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